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A região da Grande Santa Rosa perdeu 3,6 mil produtores de leite entre 2015 e 2017 (37%), movimento registrado em todos os 20 municípios que integram a área de atuação do APL Leite Fronteira Noroeste. O abandono da atividade ocorreu tanto em tambos pequenos, com captação diária de 50 litros, quanto naqueles maiores, na faixa de 1 mil/dia. Segundo levantamento do APL Leite realizado com base em dados da Emater e divulgado na noite desta segunda-feira (25/06), durante programação preliminar do 6º Fórum Itinerante do Leite, em Santa Rosa (RS), no mesmo período, os que ficaram na atividade conseguiram se tornar ainda mais competitivos, elevando a produção da região de 415,2 milhões de litros ano para 431,6 milhões de litros.

O faturamento das propriedades também cresceu: de 50 para 84 salários mínimos ao ano. “Quem ficou está recebendo mais, mas também está produzindo mais”, garantiu o gestor do APL Leite, Diorgenes Albring. A realidade da produção gaúcha e os desafios para torná-la mais lucrativa são temas do 6º Fórum Itinerante do Leite nesta terça-feira (26/06) que pretende reunir mais de 500 pessoas no Instituto Federal Farroupilha em Santa Rosa.

O desafio agora é refinar os números sobre os custos de produção, que hoje oscilam entre R$ 0,80 e 0,90 para criação a pasto e R$ 1,10 a R$ 1,20 para confinamento na região. “Está sobrando tanto dinheiro como sobrava antes, mas esse dinheiro tem menos poder de aquisição do que antes. Aí se cria uma sensação de fracasso na atividade. O produtor não faz a conta do que é custo de produção e o que é custo da família”. Durante apresentação na noite desta segunda, Albring frisou que há muito a pleitear junto aos administradores municipais no intuito de conseguir incentivos para qualificar a produção e fomentar avanços na criação de gado leiteiro. E lamentou que boa parte da captação de leite realizada na Grande de Santa Rosa não seja processada na região, minimizando a possibilidade de geração de renda e emprego local.

Coordenando o projeto, o secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, citou que o setor ainda precisa enfrentar a baixa produtividade por vaca, que , muitas vezes, está abaixo de 20 litros/dia. Contudo, frente às dificuldades do mercado, resta ao produtor controlar seus custos de produção de forma a manter-se competitivo. “O produtor de leite é uma mini-indústria em cada município, um empreendedor que gera ICMS como qualquer outro empresário da cidade”, salientou.

Anfitriã do evento, a diretora geral do Instituto Federal Farroupilha - Campus de Santa Rosa, Renata Rotta, reforçou a relevância de receber um evento do porte do Fórum Itinerante no município. “É muito importante essa aproximação da cadeia produtiva com as atividades que realizamos na instituição”, disse. Relevância que também foi pontuada pelo assistente técnico da Emater na área de criações Ivar José Kreutz: “É um momento de parar e repensar a fora de realizarmos atividades junto a esses produtores”. Autoridades oficializaram a abertura dos trabalhos para o evento com brinde de leite em uma noite que contou com a presença de prefeitos, secretários municipais e dirigentes. Representando o Conseleite, seu presidente Pedrinho Signori enalteceu a força do setor leiteiro para a economia da região de Santa Rosa.

O 6º Fórum Itinerante do Leite é uma realização do Sindilat, do Canal Rural, do Fundesa, do Sistema Farsul e da Fetag. O evento tem apoio técnico do Instituto Federal Farroupilha – Campus de Santa Rosa, da Emater-RS e da Embrapa. O apoio institucional reúne AGL, AMGSR, APL, Apil, Gadolando, Jersey-RS, Coopermil, Cotrimaio, Fahor, Famurs, Fecoagro, Fema, Instituto Senai, Ministério da Agricultura, Ocergs- Sescoop, Prefeitura de Santa Rosa, Secretarias Estaduais da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) e Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Setrem, Sicredi e Unijuí.

Foto: Carolina Jardine

Como resultado da redução de captação durante a greve dos caminheiros no final de maio, o preço do leite registrou alta de 6,76% no Rio Grande do Sul. Segundo dados dos primeiros dez dias de junho, divulgados pelo Conseleite nesta quinta-feira (21/06), na sede da Farsul, em Porto Alegre (RS), o valor de referência projetado para o mês é de R$ 1,1781, acima do consolidado de maio, que ficou em R$ 1,1035. O aumento foi puxado diretamente pelo leite UHT, produto de maior expressão no mix gaúcho, que teve valorização de 14,71%. O movimento foi acompanhado por diversos outros itens: requeijão (10,54%), queijo mussarela (8,74%), leite condensado (8,33%) e queijo prato (6,78%). A tendência é que os valores se mantenham nesse novo patamar motivados pelo aumento de consumo típico dos meses de inverno e pela alta do dólar que impacta diretamente nos custos e ajuda a travar a importação de lácteos. Além disso, explica o vice-presidente do Conseleite e presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, muitas vacas que estavam em fase de lactação foram “secas” propositadamente no período da greve, impactando no volume desta temporada de outono.

O professor da UPF Eduardo Finamore explica que houve queda expressiva na quantidade produzida pelas indústrias em função da greve, algo que não há como ser recuperado. Levantamento do Conseleite indica que as indústrias gaúchas comercializaram um volume equivalente a 108 milhões de litros em maio de 2018, 16,7% menos do que os 126 milhões de litros de leite de abril. “Não se pode considerar que a valorização dos produtos foi boa porque, ao mesmo tempo, houve redução de produção com a greve. O prejuízo foi diferente de empresa para empresa, mas a queda de quantidade trouxe impacto direto no lucro das indústrias”, pontuou Finamore. O presidente do Conseleite, Pedrinho Signori, acrescentou que a greve agravou a crise no campo. “Foi uma pá de cal em muitos produtores que já estavam com dificuldades por inúmeros outros fatores como estradas precárias, falta de energia e incentivo”.

Apesar da alta no valor do leite em junho, Guerra destacou que os valores acumulados no Rio Grande do Sul ainda estão abaixo dos de 2017. Segundo levantamento semestral apresentado pelo Conseleite nesta quinta-feira, de janeiro a junho de 2018, dez dos 13 produtos avaliados estão com valores abaixo do praticado no mesmo período do ano anterior: leite UHT (-5,48%), leite pasteurizado (-5,87%), leite em pó (-7,73%), leite condensado (-12%), bebida láctea (-3,19%), queijo mussarela (-11,49%), queijo prato (5,03%), requeijão (-4,49%), nata (-2,36%) e outros queijos (-16,51%). Apenas iogurte (6,19%), doce de leite (0,94%) e queijo minas (1%) estão acima dos indexadores de 2017.

IN 62 – Durante a reunião, representantes dos produtores e indústria ainda debateram o texto que está em consulta pública e propõe mudanças na IN 62, que regula os padrões de qualidade e produção no setor lácteo. O prazo para sugestões termina na segunda-feira (25/6), mas as lideranças do segmento entendem que há muito a ser debatido e ajustado. O secretário-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, apresentou, ponto a ponto, as principais dificuldades que o setor terá para adaptar-se ao que está sendo proposto e as alterações que estão sendo sugeridas pelo Sindilat, como ajustes na temperatura de leite na plataforma e no monitoramento de unidades formadoras de colônia. “O novo texto limpa inúmeras legislações que hoje regem o setor e concentra em apenas duas INs o regramento. A proposta desburocratiza o setor, mas precisa de ajustes”, salientou Palharini.

O produtor e diretor da Farsul Jorge Rodrigues questionou o alto rigor das medidas propostas, o que, segundo ele, é inviável de ser cumprido neste momento. “Essas regras foram feitas dentro de um gabinete, sem avaliar a realidade do campo. Há muitas coisas aqui que não poderão ser cumpridas e precisarão ser revistas daqui a dois anos”, criticou.

Tabela 1: Valores Finais da Matéria-Prima (Leite) de Referência1, em R$ – Maio de 2018.

(1)    Valor para o leite “posto na propriedade” o que significa que o frete não deve ser descontado do produtor rural. Nos valores de referência IN 62 está incluso Funrural de 1,5% a ser descontado do produtor rural

 

Tabela 2: Valores Projetados da Matéria-Prima (Leite) de Referência1 IN 62, em R$ – Junho de 2018.

Foto: Carolina Jardine 

O 6º Fórum Itinerante do Leite, que será realizado na terça-feira (26/6), reunirá especialistas, produtores, autoridades e líderes de entidades do setor para debater a importância da mão de obra e os desafios da cadeia leiteira. Através de painéis, os palestrantes convidados mostrarão que uma produção em boas mãos pode gerar ótimos resultados. O evento, que também contará com oficinas, terá transmissão ao vivo pelo Canal Rural, das 9h às 12h, diretamente do Ginásio do Instituto Federal Farroupilha (IFFar) – Campus de Santa Rosa. O Fórum será apresentado pela jornalista Kellen Severo, do Canal Rural.

De acordo com o presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios (Sindilat/RS), Alexandre Guerra, é preciso união para qualificar a mão de obra disponível no campo e elevar o treinamento das equipes aos novos padrões de qualidade exigidos do produtor e da indústria, como o uso de tecnologia. "O fórum é uma oportunidade de integrar representantes da indústria, do setor de produção e da área acadêmica para trabalharem em busca de novas oportunidades para o setor", afirma. Guerra ressalta que, neste momento, é importante que as pessoas mantenham a atividade produtiva, porque o agronegócio é o futuro da economia brasileira.

Na ocasião, serão realizados dois painéis técnicos. O primeiro enfocará a sucessão familiar, cooperação e terceirização de mão de obra. Já o segundo painel analisará gerenciamento, inovação e automação da ordenha. Os debates terão a participação do secretário-geral da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Pedrinho Signori; do coordenador da Comissão de Leite da Federação da Agricultura do RS (Farsul), Jorge Rodrigues, e do presidente do Sindilat. À tarde, ocorrerão oficinas técnicas sobre gestão da atividade leiteira, produção orgânica e bem-estar das vacas. Também está agendada uma reunião técnica sobre tuberculose e brucelose. Cada participante poderá optar por uma das quatro oficinas.

O Fórum é uma realização do Sindilat/RS, do Canal Rural, do Fundesa, do Sistema Farsul e da Fetag-RS. O evento tem apoio técnico do Instituto Federal Farroupilha – Campus de Santa Rosa, da Emater-RS e da Embrapa. O apoio institucional reúne AGL, AMGSR, APL, Apil, Gadolando, Jersey-RS, Coopermil, Cotrimaio, Fahor, Famurs, Fecoagro, Fema, Instituto Senai, Ministério da Agricultura, Ocergs- Sescoop, Prefeitura de Santa Rosa, Secretarias Estaduais da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) e Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), Setrem, Sicredi e Unijuí.

As inscrições podem ser realizadas gratuitamente no site do Canal Rural. Durante o Fórum, os palestrantes irão responder ao público presente no evento e aos que o assistem, através do WhatsApp (11) 98524-0073 e/ou do Facebook do Canal Rural.

Crédito ValentynVolkov / istock