A gigante Nestlé prepara-se para lançar sua primeira linha de leites orgânicos produzidos no Brasil até junho de 2019. A inovação é resultado de projeto piloto inédito iniciado pelo Brasil com 35 produtores na região de Araraquara, interior de São Paulo. A ação foi detalhada pelo especialista de região leiteira da Nestlé Brasil, Agaciel Fiorentin, na oficina Produção Orgânica de Leite e Laticínios, realizada na tarde desta terça-feira (26/6), durante o 6º Fórum Itinerante do Leite, em Santa Rosa. Os tambos selecionados para o projeto operam, juntos, com 30 mil litros de leite/dia e recebem de 70% a 80% a mais pelo litro em relação ao produto convencional. O pagamento diferenciado é regido por contrato de 24 meses e ocorre desde o momento em que o produtor ingressa no programa de migração. A atual legislação prevê que o processo de conversão do solo da propriedade e do rebanho leve 18 meses, mas já há previsão de reduzir esse prazo para 12 meses.
Segundo Fiorentin, o leite orgânico foi um desafio lançado pela Nestlé a suas subsidiárias de forma a atender à crescente demanda por alimentos mais saudáveis e sustentáveis. Há pouco mais de um ano, o Brasil aceitou a provocação e vem desenvolvendo o projeto, que atende à rigorosa legislação que rege os produtos orgânicos no Brasil. Para ser considerado orgânico, o leite deve vir de animais alimentados com pastagens sem o uso de adubos químicos ou agrotóxicos. É permitida alimentação no cocho desde que seja composta por insumos orgânicos, com tolerância de até 15% de grãos convencionais desde que não transgênicos. Os animais devem ser tratados basicamente com homeopatia e produtos fitoterápicos, e não é permitida a criação em confinamento. “Não é fácil fazer orgânico. É claro que, com o apoio da indústria e da área técnica, vai ficando mais fácil”, disse. Segundo Fiorentin, um dos limitadores da expansão da produção orgânica de leite é a oferta de milho e farelo de soja orgânicos. Mediante o avanço do projeto, a empresa deve estudar sua ampliação a outras áreas onde atua no país.
Como não existe teste capaz de indicar se o leite é ou não orgânico, o importante é escolher bem os produtores que se integrarão ao sistema e serão auditados. “Quem só pensa em ganhar mais com o leite orgânico não se enquadra no perfil porque entendemos que esse criador vai desistir na primeira dificuldade. A escolha dos produtores é feita com base em seus projetos e consciência ambiental”, afirmou Fiorentin.
Atualmente, a Nestlé opera com produtos orgânicos no exterior. Até o lançamento em 2019, a produção do projeto paulista segue sendo adicionada às linhas convencionais de Molico e Ninho. “Que por meio desse projeto a gente possa desenvolver mais a cadeia láctea. O país e os consumidores só têm a ganhar, com produtos cada vez mais sustentáveis”, destacou Fiorentin.
Durante a oficina em Santa Rosa, também foi apresentado o case do produtor Eliseu Pelenz, que vem migrando sua produção para o sistema orgânico em Santo Cristo (RS). Na propriedade de 24 hectares, dez destinados ao tambo, ele tem 15 vacas que rendem 7 mil litros por mês. O conceito é o de cultivar o solo com responsabilidade, em vez de explorá-lo. “Não uso veneno há mais de 15 anos”, frisou o produtor, que entrega seu leite para o laticínio Doceoli. Para caminhar em direção ao tambo orgânico, Pelenz usa homeopatia para tratar alguns males do rebanho e até para afastar o carrapato, um trabalho que é acompanhado de perto pelo técnico Ademir Amaral. O criador só não atingiu a migração completa porque ainda utiliza alguns adubos químicos para fortalecer as pastagens, o que, segundo ele, pode ser facilmente substituído por adubo orgânico, mas ainda é caro.
OFICINAS – A programação da tarde do 6º Fórum Itinerante do Leite incluiu outros três grupos de debates setorizados. Um dos mais concorridos foi “A atividade leiteira sob o olhar das mulheres”, no qual agricultoras apresentaram os dilemas de seu dia a dia. Outro debate que chamou atenção foi “O clima e o bem-estar das vacas leiteiras”. Por fim, a agenda ainda incluiu “Reunião Técnica sobre Tuberculose e Brucelose”, que alinhou procedimentos operacionais a serem realizados para o controle das enfermidades no rebanho bovino gaúcho.