Tecnologia aliada ao aumento da produção
O futuro da atividade dos pequenos produtores de leite do Rio Grande do Sul esteve no centro da discussão Crédito: Mauro Schaefer
O aumento da escala de produção é apontado como ponto fundamental para o futuro dos pequenos produtores de leite do Rio Grande do Sul. Conforme a Emater, 45% dos produtores entregam até 100 litros por dia, e 23%, até 50 litros. Para reverter esse quadro, a incorporação de tecnologia é considerada uma alternativa. O tema foi discutido ontem, na segunda edição do ciclo Debates Correio Rural, promovido na Casa do Correio do Povo/Grupo Record/RS no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.
O presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, destacou que o consumo per capita de leite no país é de 54 litros por ano. Porém, quando se leva em conta os derivados, esse número sobe para 178 litros. Mesmo assim, o total está distante do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 220 litros por ano, o que demonstra grande potencial para crescimento do consumo. "Se acrescêssemos 20 litros por pessoa ao ano, seja fluido ou nos produtos derivados, isso representaria 4 bilhões de litros, que é quase a produção do Rio Grande do Sul."
Para o assistente técnico da Emater Jaime Ries, os números demonstram que a cadeia do leite possui importância não apenas econômica, mas social. No Rio Grande do Sul, 84 mil produtores estão vinculados à indústria. Os pequenos, com até 100 litros/dia, representam cerca de 12% do volume recebido pela indústria. "Hoje temos esse desafio de qualificar a produção, melhorar a qualidade, melhorar a escala de produção, mas trabalhando a atividade leiteira da forma mais inclusiva possível", afirma. Uma das questões é como motivar pequenos produtores para atingir produção maior com qualidade, frente a um cená- rio de dificuldades na sucessão. "A atividade do leite é penosa, requer muito esforço", avalia Ries.
O diretor de Relações Institucionais da Braskem, João Ruy Freire, destacou que a cadeia do leite é longa e abrange diversos elos, incluindo aqueles que oferecem tecnologia com o objetivo de qualificar a produção. Uma das alternativas que podem ser aplicadas à atividade é o filme técnico para embalar pré-secado, que é derivado do feno.
O diretor industrial da Extraplast, Rodrigo Gerling, observa que "a expansão das lavouras tem feito reduzir a área para plantio de pasto, isso está acontecendo bastante." Ao mesmo tempo, há a necessidade de aumentar a quantidade de animais nas propriedades. "Esse produto é um facilitador para atender a essa quantidade de alimento", destaca, referindo-se ao filme. No ramo de embalagens flexíveis para o leite, a Erplasti, de Montenegro, trabalha com a produção de filmes flexíveis de empacotamento.
Segundo o presidente da empresa, Valdir Erthal, a maior parte da produção é distribuída no Paraná, porém também há clientes no Rio Grande do Sul e em São Paulo. A tecnologia de embalagens flexíveis vem ajudando a mudar a forma como o leite é consumido. A Plastrela, de Estrela, conquistou mercado produzindo filmes de sachê de pouche, no formato UHT, que permite conservar o produto até 120 dias fora da geladeira. "No passado se utilizava muito a embalagem 'barriga mole', que ficava refrigerada com validade de sete a dez dias", lembra o supervisor de vendas, Luciano Puccinelli. Esse produto caiu um pouco em desuso quando o consumidor resolveu procurar praticidade. "Com isso buscamos fora do mercado brasileiro tecnologia que concorresse com as embalagens acartonadas".
O produto, segundo Puccinelli, tem custo até 50% menor, "deixando assim margem melhor para a indústria, podendo até remunerar melhor o produtor". O coordenador da Câmara Setorial do Leite da Secretaria de Agricultura, Danilo Gomes, destacou que o leite tem virado vilão, assim como foram, durante uma época, o ovo e a carne suína. "Existem restrições médicas, mas elas tem que ser trabalhadas com cuidado. Temos que fazer uma interação grande com os profissionais da saúde".
O presidente da Comissão do Leite da Farsul, Jorge Rodrigues, destacou a necessidade de ampliar o portfólio de produtos da cadeia do leite. Outro ponto abordado por ele foi a dificuldade que as propriedades que produzem até 100 litros por dia têm para se manter. "Não adianta tirar um leite maravilhoso, com a sanidade total da vaca e não fazer o frio adequado. Começa aí o processo de qualidade". Para a analista técnica do Senar Márcia de Azevedo Rodrigues, a falta de genética do rebanho também preocupa. "Às vezes são rebanhos mistos, com vacas que produzem muito pouco", afirma. "E há produtores sem conhecimento de como criar uma boa terneira e melhorar a qualidade do leite sem aumentar o rebanho". (Correio do Povo)