Porto Alegre, 15 de abril de 2025 Ano 19 - N° 4.373
Teste inédito indica o para cada caso de mastite antibiótico certo
Solução apresentada por médica-veterinária e pesquisadora gaúcha indica ao produtor o medicamento para o combate de bactérias causadoras da mastite de forma assertiva, reduzindo drasticamente custos e proporcionando maior qualidade do leite produzido
Um teste inédito que indica os antibióticos resistentes em casos de mastite no rebanho leiteiro, desenvolvido pela startup gaúcha Suport D Leite, fundada pela médica-veterinária e pesquisadora Denize da Rosa, está prestes a chegar ao mercado como solução para um antigo problema enfrentado pelos pecuaristas, reduzindo drasticamente seus custos.
Em 2021, Denize abriu o primeiro laboratório privado de análises de leite no Rio Grande do Sul, iniciando, com isso, a prestação de serviços a técnicos e aos próprios produtores do noroeste gaúcho. Antes, já havia trabalhado com qualidade do leite no mestrado e, por dois anos, esteve em campo antes de ministrar aulas no ensino superior, em 2012.
Em 2015, ela começou o doutorado em bovinocultura de leite e passou a conhecer ainda mais a realidade da cadeia do leite, dentro e fora da porteira, atuando com pesquisa, ensino e extensão, além de participar da Rede Leite, uma iniciativa que reúne várias instituições nesta área. “Conhecia muitas pessoas no setor e decidi abrir o laboratório, que, no início, funcionava na garagem da minha casa, com uma estrutura modesta e recursos limitados para investir. Inaugurei em fevereiro de 2020, mas em março veio a pandemia e, sinceramente, se não fosse minha trajetória e conexão com a cadeia do leite, teria desistido”, conta Denize.
Ela passou então a pensar em como utilizar seus conhecimentos técnicos para contribuir com o avanço do mercado sabendo das dificuldades que o produtor tem no dia a dia para manter a qualidade do leite e entendendo a importância de um leite de qualidade para a nutrição das pessoas. “Acabei salvando a vida da minha filha com fórmula à base de leite de vaca, porque não pude amamentá-la devido a um câncer de mama que tive, e isso me motivou a ajudar os produtores”, comenta.
Passada a pandemia, as atividades do laboratório foram sendo ampliadas, incluindo serviços de consultoria em parceria com o Sebrae-RS, além da prestação de serviços para laticínios por meio do Programa Leite Mais Saudável, do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). “Focamos também na implementação do Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes, alinhado ao objetivo da OMS de produzir alimentos de maior qualidade, reduzindo desperdícios e promovendo uma nutrição mais sustentável”.
Com sua experiência em pesquisa, atuação como professora na área de meio ambiente e sustentabilidade e vínculo com empresas focadas na melhoria da qualidade do leite, Denize teve um insight a partir do relato de um produtor que mencionou a dificuldade de encontrar um antibiótico eficaz para tratar uma vaca com mastite, após várias tentativas sem sucesso.
“Ele não tinha tempo de ir até a cidade para realizar um teste e me perguntou se eu não poderia desenvolver um kit para ser usado diretamente na fazenda com os medicamentos que ele costumava usar.
Foi nesse momento que percebi que esse produto ainda não existia e assim surgiu o teste”. Atualmente, embora exista um teste com essa finalidade, ele só pode ser realizado em laboratórios sediados na zona urbana, o que limita o acesso dos produtores rurais, muitas vezes localizados distantes da cidade.
Para superar essa limitação, a startup desenvolveu uma versão modificada desse teste para uso em campo. Este projeto está sendo validado por meio do Programa Manutenção de Talentos Tecnológicos – Emergência Climática, lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), em outubro de 2024.
Com essa inovação, espera-se reduzir em até 80% as chances de erro nos tratamentos, prevenindo a seleção de superbactérias. “Desenvolvemos o kit e incubamos na Criatec, em Ijuí-RS. Com esta inovação, participamos de diversas batalhas de startups regionais, ganhando alguns prêmios. Destaca-se que, em 2023, fomos selecionados para o programa ‘Innovations in Sustainability 2023’, uma iniciativa da Village Capital, com o apoio da Unilever, que selecionou 11 startups lideradas ou fundadas por mulheres na América Latina”.
“Nosso objetivo era qualificar o produto para que, no futuro, tenha escala internacional, e fomos a única empresa selecionada do Brasil”, afirma Denize. Outra meta, segundo ela, é permitir ao produtor ter acesso a amostras de antibióticos (de forma semelhante que se tem hoje a amostras de perfume), para testá-los diretamente e identificar rapidamente quais são eficazes e quais não funcionam, embora o resultado ainda não seja instantâneo, já que o processo leva cerca de 24 horas.
A ideia também é adaptar o teste para que fique disponível na própria fazenda, em cooperativas ou em lojas de produtos agropecuários, facilitando o acesso e agilizando a tomada de decisão.
Além disso, está em fase final de desenvolvimento um aplicativo que reunirá todos os dados, facilitando a gestão da propriedade e permitindo que empresas e órgãos governamentais utilizem essas informações para validar novos produtos e protocolos. O sistema também poderá auxiliar na retirada do mercado de medicamentos que já não apresentem eficácia, uma vez que estudos indicam que alguns antibióticos possuem mais de 90% de resistência e não deveriam mais estar disponíveis.
Com o kit SuporTest Antibiograma, o produtor, após realizar a cultura e identificar o tipo de bactérias encontradas na amostra de leite, poderá definir quais antibióticos estão resistentes. Para isto, em uma placa de cultura – dispositivo utilizado para o cultivo de microrganismos, células ou tecidos –, irá colocar as bactérias em contato com os medicamentos e, em 24 horas, verificará se o antibiótico disponível é eficaz ou não.
Além disso, será possível realizar o teste com uma amostra de leite do resfriador, permitindo ao produtor obter uma visão ampla da saúde do rebanho. Atualmente o teste, que custa R$ 55,00, é vendido apenas a técnicos e veterinários para uso nas propriedades assistidas por eles.
Parceria – Dois anos atrás, após uma reunião com o empresário Dante Maurício Tissot, proprietário da Dubai Alimentos – empresa de Ijuí-RS especializada na comercialização de aveia para nutrição humana e parceira de pelo menos cinco universidades –, ele se interessou pela proposta e decidiu investir no negócio, reconhecendo seu potencial inovador.
“Percebi que talvez essa fosse a chance de avançar de uma forma mais rápida e assertiva. Fechamos o negócio e a primeira coisa que fiz foi trocar de local, saindo da garagem. Contratamos mais funcionários, nós nos qualificamos na questão de equipamentos e começamos a fazer experimentos internos para modificar o teste”, afirma Denize.
O empresário, por sua vez, destaca que, apesar do seu interesse ter surgido apenas como investidor, também se sensibilizou justamente pelo propósito do projeto de levar qualidade e segurança alimentar para quem consome leite, pois sua empresa também participa desse mercado de segurança alimentar e produção de alimentos de qualidade.
lém do aporte financeiro, cujo valor se absteve de revelar, colocou a equipe da sua empresa à disposição para ajudar na organização e gestão da startup, no desenvolvimento do próprio aplicativo e no modelo de negócio. “Sempre que se fala em alimentação, faz sentido para nós, pelo negócio que já temos, e, quando podemos olhar com carinho essas iniciativas, a gente olha. Realmente, o projeto é muito interessante, pois minimiza e faz com que o uso de antibióticos seja mais assertivo, com impacto direto na qualidade do que está sendo produzido. É uma segurança alimentar e também para o produtor e para o consumidor. Isso nos levou a investir”, revela.
Produtores apontam vantagens no uso do teste
O primeiro contato da produtora Fernanda Fydryszewski com a Suport D Leite aconteceu através de uma influencer da região, que publicou algo sobre o laboratório nos stories, chamando sua atenção. Ao comentar com o veterinário que presta assistência à sua propriedade, ele sugeriu que ela fizesse os testes no laboratório para ter mais assertividade e mais controle dos casos de mastite.“Hoje não sei mais tratar uma vaca sem o antibiograma, porque fazer isso sem ele e sem a cultura, com tantas bactérias e tantos tipos de antibiótico para combatê-las, é como dar um tiro com os olhos vendados”. Categoricamente, ela afirma que o tratamento antes era “muito ruim”, porque tinha que ser feito duas, três e até quatro vezes na mesma vaca e quase sempre acontecia até de perder o animal.
“O antibiótico parecia curar, mas depois a bactéria voltava ainda mais forte e mais avassaladora, sem muito mais a fazer. Poder usar o antibiótico certeiro é a melhor parte”. Com o teste, ela consegue fazer tratamentos mais leves, não tão invasivos, e certeiros, proporcionando mais qualidade de vida às vacas, diminuindo o desperdício e descarte de leite. A redução “drástica” dos custos é outra vantagem, pois o uso de antibióticos antes era quase que indiscriminado. “O consumo caiu em torno de 70%, pois chegávamos a ter até seis vacas sendo tratadas de uma só vez, além do descarte que também era um absurdo”. Por isso, ela afirma que não hesitaria em recomendar o teste a qualquer produtor, pois o considera “uma mão na roda, literalmente”, além da excelente qualidade do leite obtido.
Economia – Da mesma forma, na Agropecuária Lambrecht, do casal Diéssica Lambrecht Amaral e Samoel Amaral, também de Ijuí, os resultados da utilização do teste foram bastante promissores e, com isso, a adesão foi imediata e sem volta. “Descobri o laboratório através do veterinário que me atende, a quem sempre perguntava o melhor antibiótico para utilizar e ele sempre recomendava que, para isso, o ideal seria saber exatamente que bactéria estava atacando o animal. Em novembro de 2023, tive um caso de mastite na propriedade e decidi ir até o laboratório buscar os frasquinhos para coleta das amostras e foi assim que começou a nossa relação de negócios”, conta Amaral. Desde então, ele já fez 47 testes na propriedade e, desses, 12 deram negativo, evitando “jogar dinheiro fora” com o uso desnecessário do antibiótico. Nos demais testes, com bactérias identificadas, o SuporTest Antibiograma propiciou o tratamento assertivo e a cura dos animais. Segundo Amaral, em cada tratamento, o custo fica em torno de R$ 1mil, entre antibióticos e o descarte do leite. “Ou seja, se fizermos a conta, só dos casos negativos tivemos uma economia de R$ 12 mil, um dinheiro que seria desperdiçado”, resume. (Balde Branco)
Global Dairy Trade - GDT
Fonte: Global Dairy Trade editado pelo Sindilat
"Não podemos mais ficar à mercê das questões climáticas"
Entrevista - Edivilson Brum - Secretário estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação
Duas das prioridades apontadas pelo novo titular da Secretaria Estadual da Agricultura, Edivilson Brum, estão diretamente relacionadas ao clima: o avanço da área irrigada e a solução para o endividamento dos produtores.
Como fazer a irrigação avançar no Estado?
O governador Eduardo Leite determinou a irrigação como prioridade número um. Temos em aberto o projeto em que o produtor pode receber até R$100 mil do Estado. Quais os motivos pelos quais temos menos de 4% da lavoura de soja irrigada? Primeiro, pela questão cultural. Temos de ver a questão de financiamento, o custo, que também pode ser um dos gargalos.
Por que ter uma subsecretaria, criada agora, para tratar do tema?
Temos vários projetos em diferentes setores, não só da secretaria, mas de outros órgãos ligados ao governo. Então, o governo acredita que criando a subsecretaria reúne todos os projetos, inclusive do próprio Funrigs, do Plano de Recuperação do Estado. Fica concentrado na Secretaria da Agricultura, sob uma liderança, para que o trabalho seja tocado com a eficiência e a celeridade que requer. Não podemos mais ficar à mercê das questões climáticas.
Outro foco deve ser as dívidas de produtores...
Tem duas propostas, uma na Câmara e uma no Senado, e o governo do Estado também chamou todos os atores, entidades e parlamentares para apresentar uma alternativa, que seria buscar um recurso no fundo social para quitar essas dívidas e depois vai se devolvendo este recurso. Porque de nada adiantará fazer um grande projeto de irrigação se os produtores não tiverem acesso ao crédito. A nossa perspectiva é de sensibilizar o governo (federal). (Zero Hora)
Jogo Rápido
Robôs e softwares da Lely garantem decisões estratégicas e maior controle
Equipamentos, como robôs de ordenha, e softwares de gestão trouxeram à pecuária leiteira a possibilidade de monitorar o rebanho em tempo real, identificando oportunidades de melhorias e problemas antes que estes se tornem críticos. Um exemplo dessa transformação está na história de superação e inovação da Cabanha DS, localizada em Vila Lângaro (RS). Após enfrentar dificuldades que quase resultaram no encerramento da atividade leiteira, a propriedade retomou a produção há pouco mais de um ano, agora focada em um modelo de gestão automatizado. A propriedade é administrada pela família Secco, que, em processo de sucessão familiar, apostou na modernização, com robôs de ordenha da Lely e o software de gestão Horizon, como caminho para superar os desafios e tornar o negócio sustentável e competitivo. Atualmente, cada vaca produz, em média, 48 litros de leite por dia, performance que é monitorada detalhadamente com dados coletados automaticamente durante a ordenha e enviados para análise no sistema. (Balde Branco)