Porto Alegre, 06 de novembro de 2024 Ano 18 - N° 4.259
O Rabobank produziu um estudo das Perspectivas para o Agronegócio Brasileiro 2025. Segundo o relatório, 2024 foi positivo para o setor no país após um 2023 de grandes desafios. Os produtores de leite conseguiram manter níveis adequados de rentabilidade com o preço do leite em patamares relativamente elevados ao longo do ano e os custos de produção em níveis estáveis.A indústria também conseguiu operar em um cenário mais favorável, ainda que com o da matéria-prima elevado. A demanda do consumidor final voltou a crescer com melhoras nos indicadores de renda e emprego, o que permitiu ao setor preservar as suas margens em várias categorias e aumentar as vendas em volume em alguns segmentos.A primeira metade do ano foi marcada por produção no campo acima do esperado, principalmente no primeiro trimestre, quando a produção avançou 3,6% comparada com o mesmo período de 2023. Já no segundo trimestre de 2024 a captação formal de leite avançou apenas 1%, comparada como mesmo período de 2023, em parte por causa da queda de 10% no Rio Grande do Sul, que sofreu com as maiores enchentes da sua história no final de abril. As importações recuaram 4,6% em volume no primeiro semestre, porém se mantiveram em patamar historicamente elevado (131 mil toneladas de janeiro a junho). Apesar do aumento da disponibilidade de leite no campo e das importações em patamares elevados, os preços ao produtor avançaram consideravelmente de R$ 2,13/litro em janeiro para R$ 2,75/litro em junho.Na segunda metade de 2024, os efeitos da maior estiagem registrada no Brasil em mais de 40 anos, frearam o avanço da produção no terceiro trimestre. As condições extremas de calor impactam negativamente o conforto das vacas e a disponibilidade de pastagens, reduzindo a produtividade, principalmente em fazendas menores.Mas apesar dos desafios com o clima, a rentabilidade dos produtores se manteve em patamares positivos no segundo semestre de 2024. De acordo com dados do MilkPoint Mercado, o indicador de receita menos o custo da ração tem se mantido no maior patamar do ano no terceiro trimestre (R$ 44/vaca/dia), e provavelmente deve continuar em níveis elevados no quarto trimestre. Isto porque esperamos queda apenas moderada dos preços ao produtor nos meses finais de 2024, considerando a desaceleração da oferta no segundo semestre e a dinâmica positiva da demanda.Assim, a produção de leite no Brasil deve fechar o quarto trimestre com crescimento e alcançar um avanço total de aproximadamente 1,5% em volume para 2024 como um todo, comparado com o nível de 2023. Com relação ao mercado internacional, as importações brasileiras se mantiveram em patamares elevados no segundo semestre, e devem encerrar o ano em patamares semelhantes aos níveis de 2023 (278 mil toneladas).
A migração de pequenos produtores para outras atividades e a consolidação da base produtora em menos produtores ativos aumentou em 2024, como era esperado, e deve continuar em 2025. A rentabilidade dos produtores de grande porte tende a permanecer mais elevada do que a do pequeno produtor e os incentivos da indústria para pagamento por qualidade e volume, continuam impulsionando as margens e os investimentos (em tecnologia, genética e eficiência) dos maiores produtores, levando-os a crescer bem acima da média. O fator mão de obra deve continuar sendo um grande desafio para os produtores em 2025, com oferta limitada de funcionários capacitados e comprometidos na atividade, a tendência é continuar a ver aumento de investimentos em robôs de ordenha e tecnologia para aliviar a dependência em mão de obra.
E o mercado internacional?
Olhando para 2025, o Rabobank espera leves altas dos preços internacionais em continuação com a tendência apresentada em 2024. A oferta global está encontrando dificuldades para engatar um novo ciclo de expansão na maioria das regiões e inclusive mostra claros sinais de esgotamento na China, que tem sido o principal contribuinte ao crescimento da produção global nos últimos três anos.
Regulamentações adicionais, volatilidade climática e custo da mão de obra, são alguns dos fatores restringindo o avanço da oferta internacional em regiões como Europa e Oceania. Por outro lado, a demanda global tende a se manter estável no agregado em 2025, apesar das compras menores da China em 2024, estímulos adicionais devem nivelar o consumo no próximo ano. Outras regiões importadoras como o sudeste asiático devem sustentar as compras globais com crescimento demográfico e econômico.
Para o Brasil, preços internacionais levemente maiores não devem impactar consideravelmente o nível das importações. O preço do leite no Brasil tende a continuar dentre os mais caros do mundo, o que mantém as importações competitivas mesmo com câmbio mais depreciado.
Para a curva de preço ao produtor, parece provável que inicie 2025 em patamar elevado, limitando o espaço potencial para novas altas no primeiro semestre (salvo algum problema exógeno relevante). Já no segundo semestre poderá apresentar quedas relevantes, isto porque as margens elevadas ao produtor no segundo semestre de 2024 e primeiro semestre de 2025, devem estimular a produção de forma significativa, fortalecendo a oferta.
Com relação à demanda local, vale a pena considerar que os preços do leite e derivados estarão em patamares levemente mais altos no primeiro trimestre de 2025, comparado com os níveis de 2024, e os níveis de comparação de vendas serão elevados. Estes dois fatores podem levar a crescimentos nominais menores na primeira metade de 2025, comparado com 2024.
Por outro lado, o mercado financeiro espera mais um ano de crescimento econômico em 2025 no Brasil, porém em ritmo levemente menor comparado com 2022-2024 (próximo de 3%), com projeções atuais do PIB avançando próximo de 1,8% em 2025 e inflação próxima de 4%. Esperamos que a continuação do ciclo de crescimento econômico permita manter o nível de desemprego em patamares baixos, o que deve sustentar o consumo e permitir alguns ganhos adicionais em volume desde que a inflação permaneça sob controle. No ano de 2024, mais uma vez ficou evidente que quando o consumidor brasileiro percebe uma melhora no seu poder de compra, a categoria dos lácteos tende a performar melhor. A exceção deve continuar sendo o leite fluído (não refrigerado) que continuará enfrentando desafios com mudanças de tendências de consumo e desaceleração do crescimento demográfico.
A volatilidade climática mais uma vez deve ser monitorada e poderá trazer novos impactos negativos para a produção. Porém, os investimentos em tecnologia, genética e eficiência devem ajudar os produtores a navegar as oscilações do clima em 2025.
Pontos de Atenção:
A procura por produtos com alto teor de proteína e zero açúcar devem dar fôlego adicional aos produtos lácteos funcionais em 2025 no mercado brasileiro.
A evidente desaceleração no crescimento da produção na China deve levar a maior equilíbrio entre oferta e demanda global nos próximos anos.
As informações são do relatório anual Perspectivas para o Agronegócio 2025, do Rabobank.
GDT: forte aumento nos preços no início de novembro
Os preços internacionais dos principais derivados lácteos apresentaram expressivos aumentos no primeiro leilão do mês, no 367º leilão de lácteos da plataforma GDT, realizado no dia 05/11. O GDT Price Index (média ponderada dos produtos) passou por uma valorização de 4,8%, atingindo USD 3.997/tonelada – o maior valor desde setembro de 2022.
Gráfico 1. Preço médio leilão GDT.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2024.
As principais categorias acompanhadas apresentaram altas durante o leilão. Nesse cenário, a maior valorização percentual ficou para a categoria da manteiga, que obteve uma aumento de 8,3% no preço médio, sendo negociado na média de US$ 6.990/tonelada. Por outro lado, o menor aumento, ficou com a categoria da muçarela, com um leve aumento de 0,9%, fechando com preço médio de US$4.607/tonelada.
O leite em pó desnatado apresentou alta de 4,0% sendo negociado na média de US$ 2.850/tonelada, avanço similar ao do leite em pó integral, que foi negociado na média de US$ 3.713/tonelada, obtendo valorização de 4,4%. Além disso, a categoria do queijo cheddar, também apresentou alta de 4,0%, fechando na média de US$ 4.973/tonelada.
Confira na Tabela 1 o preço médio dos derivados após a finalização do evento e a variação em relação ao evento anterior.
Tabela 1. Preço e variação do índice dos produtos negociados no leilão GDT em 05/11/2024.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2024.
No primeiro leilão do mês de novembro, o volume negociado apresentou queda, colaborando para os avanços nos preços. Com um total de 36.595 toneladas sendo negociadas, uma retração de 6,1% em relação ao volume negociado no evento anterior, como mostra o gráfico 2.
Gráfico 2. Volumes negociados nos eventos do leilão GDT.
Fonte: Elaborado pela equipe MilkPoint Mercado com dados do Global Dairy Trade, 2024.
Além da oferta restrita, o bom momento de demanda também tem refletido em avanços nos preços. As compras da região norte asiática (contemplando a China), que vinham puxando as altas recentes, voltaram a diminuir neste último leilão. Em compensação, observou-se uma atuação mais forte das compras do Oriente Médio, com crescimentos expressivos das aquisições de leite em pó integral e manteiga pela região.
No mercado futuro de leite em pó integral na Bolsa de Valores da Nova Zelândia, as projeções indicam um leve aumento nos preços do leite em pó integral em comparação com os preços praticados anteriormente para os contratos vencidos nos mesmos períodos. Conforme mostrado no gráfico 3.
Gráfico 3. Contratos futuros de leite em pó integral (NZX Futures).
Fonte: NZX Futures, elaborado pelo MilkPoint Mercado, 2024.
E como os resultados do leilão GDT afetam o mercado brasileiro?
Vale destacar que o Brasil importa produtos lácteos principalmente da Argentina e do Uruguai, países que historicamente praticam preços acima do Global Dairy Trade (GDT), em grande parte devido à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, que impõe tarifas de quase 30% sobre importações de fora do bloco.
Entretanto, os preços mais elevados do mercado internacional diminui a diferença entre os preços do Mercosul em relação aos outros principais países exportadores, aumentando a atratividade dos lácteos da Argentina e do Uruguai para os países importadores.
Nesse cenário, o Brasil tende a continuar enfrentando uma disputa mais acirrada com outros países importadores pelos lácteos do Mercosul, o que pode resultar em retração do volume importado de lácteos pelo Brasil nos próximos meses.
Bebida láctea pronta para beber com Whey é a nova queridinha do mercado
Quem visita um supermercado, mercearia ou até farmácia já percebeu a crescente presença de uma nova categoria de bebidas que, até pouco tempo, era praticamente inexistente no Brasil: as bebidas lácteas prontas para beber com whey protein. Essa categoria vem ganhando destaque no mercado brasileiro de alimentos e bebidas, especialmente em um contexto no qual conveniência e nutrição são prioridades para os consumidores. Esses produtos se tornaram uma opção saudável, prática e saborosa para aqueles que buscam um estilo de vida equilibrado e ativo.
Com a crescente preocupação com uma alimentação mais saudável, as bebidas proteicas se consolidaram como uma alternativa ao snack tradicional, beneficiando tanto atletas quanto pessoas que desejam melhorar sua dieta diária. As bebidas com whey oferecem altos níveis de proteína, favorecendo a recuperação muscular e fornecendo energia ao longo do dia. Essa demanda é impulsionada pelo fortalecimento do movimento de saudabilidade, que ganhou ainda mais relevância após a pandemia, quando o foco na saúde se intensificou.
Para atender aos anseios dos consumidores, é fundamental aos fabricantes que desejam se adaptar à essa tendência crescente garantir a qualidade, a segurança e o sabor das bebidas. Além disso, a diversificação do portfólio, adaptando produtos já existentes para novas embalagens é uma estratégia importante para impulsionar o crescimento e ampliar as opções disponíveis aos consumidores.
A indústria do leite no Brasil está passando por uma fase de revitalização, com um portfólio diversificado que inclui leites sem lactose, com menor teor de gordura, leite tipo A2 e as bebidas proteicas com whey. Esses produtos atendem a nichos específicos, tornando as marcas mais competitivas. O segmento de bebidas lácteas prontas para beber com whey, que em 2022 representou cerca de 4% das vendas de leites aromatizados, segundo a consultoria Nielsen, já demonstra um crescimento expressivo e tem grande potencial de expansão.
Segundo dados da Mordor Intelligence, o mercado global de bebidas proteicas prontas para beber foi avaliado em 1,3 bilhão de dólares em 2020, com uma projeção de crescimento de 7,72% ao ano até 2027. No Brasil, o crescimento desse segmento é ainda mais acentuado, com um aumento de 48% nas vendas entre 2021 e 2022. Em 2023, a Tetra Pak registrou um salto de 82% nas vendas de embalagens para bebidas proteicas, passando de 132 milhões de unidades em 2022 para 242 milhões em 2023. Marcas tradicionais de leite UHT em embalagens cartonadas já estão explorando essa nova oportunidade de mercado, mas ainda há espaço para novos players entrarem nessa disputa.
Produtos com atributos de maior saudabilidade e sustentabilidade oferecem um valor agregado nas prateleiras, e os consumidores brasileiros estão dispostos a pagar por isso. De acordo com o Tetra Pak Index – estudo que identifica as tendências de consumidores, promovendo novas oportunidades de crescimento para clientes em todo o mundo –, 31% dos brasileiros afirmam que estariam dispostos a pagar um pouco mais por produtos que atendam a essas preocupações. O relatório analisa as preferências dos consumidores em relação à saúde e sustentabilidade, destacando o que eles buscam em termos de alimentos.
A popularidade das bebidas prontas para beber com whey reflete uma transformação nos hábitos de consumo e cria uma oportunidade significativa para a indústria de alimentos e bebidas. Empresas e laticínios interessados em aproveitar essa tendência devem buscar parceiros estratégicos que possam garantir um crescimento sustentável nesse mercado em expansão, oferecendo produtos de alta qualidade que atendam às expectativas dos consumidores modernos. (Guia Lat)
Jogo Rápido
Regule seu metabolismo com uma dieta equilibrada e a ingestão ideal de cálcio
Em estudo recente, pesquisadores mostraram que consumir de cerca de 1200 mg de cálcio por dia, o equivalente a 3 porções de leite desnatado, pode reduzir os marcadores de glicação, associados à resistência à insulina e alterações metabólicas.Portanto, para portadores de diabetes tipo 2 ou indivíduos que desejam melhorar a saúde metabólica, as propriedades do leite desnatado podem ser grandes aliadas! Fonte: Increased calcium intake from skimmed milk in energy-restricted diets reduces glycation markers in adults with type 2 diabetes and overweight: a secondary analysis of a randomized clinical trial. Nutrition Research, v. 127, p. 40-52, 2024. (VIA BEBA MAIS LEITE)