Porto Alegre, 18 de julho de 2024 Ano 18 - N° 4.182
Tanto os Estados Unidos quanto o Brasil vivenciam transformações significativas no setor leiteiro, marcadas por um aumento na produção e concentração da atividade em médio e grandes produtores. Compreender as tendências em cada país nos ajuda a entender para onde caminha o futuro do setor lácteo global.Produção de leite nos EUA: número de vacas estável e aumento na produção
O Censo Agrícola do Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas do USDA revelou dados relevantes sobre a produção de leite nos Estados Unidos, evidenciando duas tendências principais: aumento na produção e concentração em grandes operações.
A produção de leite nos EUA cresceu 11,8 bilhões de litros entre 2013 e 2023, com um número relativamente estável de vacas. Esse crescimento não foi uniforme em todo o país, 16 dos 24 principais estados produtores registraram aumento em sua produção, enquanto 8 estados, incluindo Califórnia, Flórida e Illinois, apresentaram queda. Texas, Wisconsin e Idaho lideraram o crescimento.
*Gráfico em milhões de libras (1 libra de leite equivale a aproximadamente 0,473 litros de leite). Fonte: Farm Journal’s State of the Dairy Industry report. Imagem traduzida.
“Por uma ampla margem, o maior crescimento ocorreu no Texas, produzindo mais 3,3 bilhões de litros de leite de 195.000 vacas a mais do que há 10 anos”, disse Lucas Fuess, analista sênior de laticínios do Rabobank.
O tamanho das fazendas também sofreu uma mudança notável. De acordo com Fuess, as operações com menos de 500 vacas representam 80% das fazendas leiteiras do país. No entanto, a maioria das vacas está em fazendas com 1.000 animais ou mais.
Fonte: Farm Journal’s State of the Dairy Industry report. Imagem traduzida.
Para Lucas Fuess, a tendência futura do leite nos EUA é a concentração do rebanho em grandes fazendas. “No futuro, é provável que mais vacas se mudem para fazendas maiores, que são capazes de produzir leite a um custo menor em comparação com operações menores. O crescimento no número de fazendas maiores persistirá, mas as fazendas menores continuarão existindo em números consideráveis, especialmente aquelas que praticam a agricultura diversificada e aquelas que mantiveram baixos níveis de endividamento.”
Como se comportou a produção no Brasil nesse período?
Para entender as transformações na base produtiva brasileira, em 2023 a MilkPoint Ventures realizou uma pesquisa inédita, que amostrou quase 1/3 do leite inspecionado no Brasil (32,3% do leite formal), a partir de 41 laticínios, sendo 17 cooperativas e 24 não cooperativas.
Em conjunto, as empresas amostradas processam 21,1 milhões de litros/dia a partir de 48.432 produtores, com média de 437 litros/dia. Em 2013, a média havia sido de 246 litros/dia, evidenciando um expressivo crescimento de 77% no período.
Fonte: Relatório Quem Produz o Leite Brasileiro 2023.
Analisando as 17 empresas que participaram dos levantamentos de 2013 e 2023, os números são também significativos para explicar as mudanças (Figura 4). Estas empresas aumentaram a captação em 36% com uma queda de 19% no número de fornecedores.
Fonte: Relatório Quem Produz o Leite Brasileiro 2023.
Segundo o relatório “Quem produz o leite brasileiro”, os 4,8% de produtores, cuja produção é superior a 2.000 litros/dia, produzem hoje quase a metade do leite – 46,3%. Já os produtores abaixo de 200 litros perfazem 60,7% do total de produtores, mas respondem por apenas 11,3% do leite.
Fonte: Relatório Quem Produz o Leite Brasileiro 2023.
O Brasil, assim como os EUA, passa por uma transformação considerável na produção de leite. Ambas as produções seguem em trajetória de crescimento, impulsionada pela eficiência. A concentração em grandes fazendas é uma tendência marcante, enquanto a viabilidade de pequenos produtores depende da busca por diferenciação, agregação de valor e adoção de novas tecnologias.
Políticas públicas setoriais devem envolver enfoques distintos dependendo do público-alvo: para produtores de menor porte, acesso a crédito, assistência técnica qualificada e acesso ao mercado (incluindo oportunidades para a diferenciação do produto), visando oferecer possibilidades de inserção nessa nova realidade. Para grandes explorações, são necessários incentivos para a instalação de novos projetos, bem como mostrar que a produção em escala com eficiência pode ser um bom negócio. Para ambos os públicos, a criação de ferramentas que permitam maior previsibilidade de receitas e despesas é oportuna, melhorando o ambiente de negócios no setor. (Por Maria Luíza Terra/Milkpoint)
Governo quer estimular aumento da produção de leite
O governo federal quer estimular o aumento da produção de leite proveniente de pequenos produtores rurais. Fortalecer a bacia leiteira é uma das “engrenagens” do Plano Safra 2024/25 da agricultura familiar, conta o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira.
“Tem dois produtos da cesta básica que teremos uma atenção especial para estimular a produção que são o arroz e o leite. A bacia leiteira foi muito atacada quando foi aberta a importação de leite”, disse Teixeira a jornalistas, em referência à retirada do imposto sobre leite importado durante o governo Bolsonaro.
“Arroz e leite são produtos que o Brasil não precisa importar e podem até ser exportados em seus derivados”, acrescentou.
O ministro destacou que o governo adotou, desde o ano passado, uma série de medidas de socorro aos produtores e para frear as importações elevadas de leite e derivados, como o aumento da tarifa externa comum sobre produto importado de países de fora do Mercosul e linhas específicas de renegociação de dívidas e financiamento. De acordo com dados do governo, o valor gasto com importação de leite em pó caiu 19,3% no primeiro semestre deste ano ante igual período do ano passado e recuou 8,9% em volume na mesma base comparativa.
“A importação diminuiu muito. Estamos revertendo isso e fortalecendo a cadeia leiteira”, apontou.
Na ponta de estimular o aumento da produção, o Executivo lançou linhas de crédito específicas voltadas ao investimento na bacia leiteira com juros de 3% ao ano para financiamentos em genética animal, recuperação de pastos, aquisição de tanques de resfriamento de leite e ordenhadeiras dentro da política de crédito oficial.
“A ideia é prover melhoria genética e aumento do rebanho para o pequeno produtor ter maior produtividade”, disse Teixeira.
Há duas linhas específicas do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) voltadas à produção de alimentos dentro do Plano Safra da agricultura familiar, que se estende até 30 de junho do ano que vem, com recursos subsidiados e juros de 3% ao ano para operações de custeio para produção convencional e de 2% ao ano para produção agroecológica. “São juros negativos do ponto de vista financeiro com forte subsídio do governo”, apontou Teixeira.
Outra área prioritária no Plano Safra 2024/25 da agricultura familiar será o microcrédito por meio do Pronaf B, voltado ao financiamento de famílias agricultoras com renda de até R$ 50 mil por ano. A ampliação do limite de crédito para as famílias passou de R$ 10 mil para R$ 12 mil e, para as mulheres, de R$ 12 mil para R$ 15 mil, com a criação de um limite independente para jovens rurais de R$ 8 mil.
“É um programa que roda muito bem no Nordeste com Fundo Constitucional e inclui os produtores mais pobres no crédito e na assistência técnica. Agora, junto com as instituições financeiras, vemos a extensão para o Norte e Centro-Oeste”, apontou o ministro. Na safra passada, as operações do microcrédito cresceram 34% para 879 mil contratos e 94% em volume de recursos, para R$ 5,94 bilhões, .
Segundo Teixeira, as garantias utilizadas nos Fundos Constitucionais do Norte e Centro-Oeste foram equiparadas às do Nordeste e a metodologia utilizada pelos agentes financeiros foi compartilhada com bancos regionais do Norte e Centro-Oeste.
“Testaremos isso em todo o Brasil. Onde não tem fundo constitucional, lançamos fundo de aval para produtor e cooperativa tomar empréstimo quando não tem mais garantia. Agora, há fundo garantidor para os financiamentos do Pronaf em todo o País, com o Fundo Garantidor de Operações (FGO), o Fundo de Amparo às Micros e Pequenas Empresas do Sebrae (para cooperativas) e o Fundo Garantidor para Investimentos com o BNDES (FGI/BNDES para cooperativas)”, observou.
De acordo com o ministro, os fundos de aval lançados pela pasta com BNDES e Sebrae já estão disponíveis. “Quanto ao FGO, pedimos validação da Câmara dos Deputados por meio de projeto de lei para uso do FGO no Pronaf”, pontuou sobre a inclusão dos agricultores familiares do Pronaf e suas cooperativas no rol de beneficiários do FGO.
De acordo com o ministro, outro pilar do Plano Safra familiar é nacionalizar o acesso ao crédito aos pequenos produtores. Atualmente, 3 milhões de agricultores familiares estão habilitados a acessar os programas governamentais registrados em Cadastros Nacionais da Agricultura Familiar (CAFs) ou Declarações de Aptidão ao Pronaf (DAPs).
“O Plano Safra 2024/25 para agricultura familiar em sua totalidade tem mais recursos, juros menores e mais degraus para o produtor acessar o financiamento, com garantia que o recurso vai chegar a todos”, pontuou. O Plano Safra 2024/25 da agricultura familiar tem R$ 76 bilhões em recursos para financiamento de pequenos produtores. (Estadão Conteúdo)
IPVDF retoma recebimento de amostras em Eldorado do Sul a partir da próxima segunda-feira (22/07)
O Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Saúde Animal (IPVDF) retoma, na próxima segunda-feira (22/07), o recebimento de amostras para diagnósticos em sua sede, em Eldorado do Sul.
Fortemente atingido pelas enchentes de maio, o IPVDF passou por um processo de higienização para que o Setor de Protocolo, que faz o recebimento das amostras, pudesse voltar a funcionar em seu local.
O instituto está recebendo amostras para diagnóstico de raiva, epididimite, brucelose bovina, biocarrapaticidograma, parasitológico de fezes, certificação de granjas (GRSC) e histopatológico (somente em formol).
Endereço para entrega de amostras: IPVDF - Estrada do Conde, 6000, Sans Souci, Eldorado do Sul. CEP 92990-000
As amostras enviadas até a Rodoviária de Porto Alegre são coletadas às terças e quintas-feiras, no final da manhã, mediante aviso ao Setor de Protocolo do IPVDF.
Para mais informações: (51) 98683-4297 (WhatsApp) ou protocolo-ipvdf@agricultura.rs.gov.br. (SEAPI)
Jogo Rápido
Sindilat: produtor atento às variações de preço dos lácteos
Os produtores de leite no Brasil enfrentam incertezas com os preços em baixa e as importações. Na análise do secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul, Darlan Palharini, a recuperação da cadeia produtiva vai depender da melhoria nos custos de produção. CLIQUE AQUI e assista a entrevista (AgroMais)