Porto Alegre, 11 de março de 2024 Ano 18 - N° 4.101
Previsão global: produção e comércio de leite em 2024
O relatório Dairy Global Market Analysis do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) apresenta a previsão para 2024 da produção de leite e do comércio de produtos lácteos, com foco nos principais produtores e exportadores.
Espera-se que as quedas de preços com relação ao ano anterior e o crescimento "apenas moderado" nos volumes de exportações de vários produtos lácteos dos EUA persistam em 2024, contraindo os valores totais de exportação de produtos lácteos. No entanto, prevê-se uma demanda mais forte por produtos desnatados na segunda metade do ano, à medida que a competitividade de preços dos EUA melhora.
Prevê-se que o leite em pó desnatado e o soro de leite, essenciais para as exportações, apresentem preços mais baixos sustentados com relação ao ano anterior no primeiro semestre de 2024, e os volumes deverão ser fracos devido à baixa demanda do Leste e Sudeste Asiático. Aqui, os consumidores têm enfrentado a alta inflação dos alimentos, a desvalorização substancial da moeda em relação ao dólar americano, forçando o aumento dos preços dos alimentos importados, o que prejudica o poder de compra do consumidor.
A produção de leite fluido aumentará em 1% em 2024. Quanto ao queijo, foram feitos investimentos significativos na expansão da capacidade de processamento para atender à crescente demanda doméstica e global por queijo; em 2024, espera-se que essa capacidade expandida e o crescimento acelerado da produção de leite impulsionem um aumento de 2% na produção de queijo, levando a um salto de 8% nas exportações para 466.000 toneladas. Espera-se uma maior demanda de importação do Japão, China, México, Coreia do Sul e Filipinas.
Prevê-se que a produção de leite em pó desnatado cresça 11% em 2024, para 1,30 milhão de toneladas, refletindo a maior produção de leite. As exportações devem crescer 3%, chegando a 838.000 toneladas, uma reversão do modesto declínio nas exportações em 2023, refletindo o aumento da oferta exportável e a recuperação dos embarques para mercados sensíveis a preços no Leste e Sudeste Asiático.
Em geral, a previsão é de que o ano fiscal de 2024 se assemelhe a grande parte dos dados mensais do ano fiscal de 2023, em que os sinais de crescimento em algumas categorias são invariavelmente superados por quedas em outras.
Austrália: disponibilidade de mão de obra é fundamental para a produção de leite
Prevê-se que a produção de leite fluido aumente em 1%, para 8,5 milhões de toneladas em 2024, uma vez que os preços do gado de corte caíram e a escassez de mão de obra diminuiu. Ambos os problemas foram os principais fatores que contribuíram para o declínio da produção de leite nos últimos três anos. Embora a escassez de mão de obra continue sendo um problema para os produtores de leite australianos, isso melhorou, pois o número de trabalhadores temporários retornou aos níveis pré-pandêmicos e os trabalhadores que entram como parte do esquema de Mobilidade Trabalhista da Austrália Pacífica estão em níveis recordes. Espera-se que os fortes preços do leite ao produtor continuem em 2024, proporcionando mais ventos favoráveis para o aumento da produção de leite.
Prevê-se que a produção de queijo aumente em 5%, para 445.000 toneladas em 2024, dando continuidade à tendência de todo o setor de que os processadores de leite direcionem o maior volume de leite para o queijo e não para outros produtos processados. Prevê-se que as exportações de queijo se recuperem significativamente em 2024, depois de um 2023 fraco, apoiadas pela melhoria da demanda de importação e pela recuperação da competitividade no Japão, na China, na Coreia do Sul e nas Filipinas. Um declínio previsto de 3% na produção de leite em pó desnatado limitará os suprimentos exportáveis.
Nova Zelândia resiste aos padrões climáticos do El Niño
Em 2024, a produção de leite da Nova Zelândia deverá sofrer um declínio marginal para 21,2 milhões de toneladas, já que os produtores de leite enfrentam vários desafios. Os fatores que mais contribuem para essa perspectiva são o impacto dos padrões climáticos do El Niño, a redução dos preços do leite ao produtor, a inflação persistente nas fazendas e o encolhimento do rebanho leiteiro.
A previsão é de que a produção de queijo permaneça inalterada, apesar da redução da produção de leite. Prevê-se que as exportações de queijo diminuam em 2024, pois o aumento da competitividade da Austrália e da UE deve pressionar a participação em mercados como China e Japão.
A produção de manteiga aumentará 3%, uma vez que os volumes de leite deverão ser direcionados para a produção de produtos com alto teor de gordura láctea, já que a demanda por leite em pó integral permanece deprimida nos principais mercados, incluindo China, Indonésia, Bangladesh e Singapura. Por outro lado, prevê-se que a produção de leite em pó integral diminua para pouco menos de 1,4 milhão de toneladas em 2024, refletindo um pool de leite menor e uma rentabilidade mais baixa para a produção de leite em pó integral em relação a outros produtos. Essa redução na produção de leite em pó integral e a demanda de importação mais fraca da China e a demanda estagnada da Argélia e da Indonésia farão com que as exportações diminuam em 2%.
O desafio de redução do rebanho leiteiro da União Europeia
Na União Europeia, prevê-se um declínio marginal na produção de leite, com uma redução de 200.000 toneladas, elevando o total para 144,6 milhões de toneladas. Uma melhora modesta na produtividade das vacas é insuficiente para compensar as reduções adicionais no rebanho leiteiro. As quedas persistentes nos preços do leite ao produtor, aliadas aos custos de produção consistentemente altos, continuam exercendo pressão sobre os produtores de leite, principalmente nos principais estados-membros produtores, como Alemanha, França, Espanha e Polônia.
O limite de emissões de nitrogênio do governo holandês e o esquema de pagamento voluntário proposto pelo governo irlandês para incentivar o abate de vacas leiteiras aumentam ainda mais a complexidade, pois se espera que esses fatores levem a uma maior consolidação do mercado e ao fechamento de pequenos produtores.
Prevê-se que a produção de queijo aumente marginalmente em 2024, apesar da produção de leite mais fraca, já que a lucratividade deve permanecer mais alta em comparação com a manteiga e o leite em pó. Além disso, a desaceleração da demanda de leite em pó na China pode incentivar um maior foco na produção de queijo. No âmbito doméstico, espera-se um aumento no consumo, impulsionado pelo aumento da renda, pela recuperação econômica e pelo ressurgimento do setor de hospitalidade e do turismo aos níveis anteriores à Covid. Estima-se que as exportações de queijo da UE aumentem em 1% em 2024, impulsionadas por um aumento global na demanda de queijo.
Prevê-se que a produção e as exportações de manteiga e leite em pó desnatado diminuam em 2024, uma vez que a menor produção de leite e a demanda mais fraca da Ásia incentivam os processadores a transferir o processamento de leite para a produção de queijo.
Argentina enfrenta desvantagem da desvalorização da moeda
Na Argentina, a previsão é de que a produção de leite caia mais de 2% em 2024, para 11,5 milhões de toneladas. As margens do produtor sofreram uma pressão substancial devido à desvalorização da moeda, que aumentou o custo da ração e dos insumos importados para os produtores; espera-se que esses aumentos de preços reduzam o crescimento da produção por vaca no próximo ano.
As informações são do Dairy Global, traduzidas e adaptadas pela equipe MilkPoint.
Balança comercial de lácteos: importações recuam em fevereiro, mas permanecem em alto patamar
Durante o mês de fevereiro de 2024 o saldo da balança comercial de lácteos passou por uma importante recuperação em relação ao mês anterior. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), o saldo registrado no mês de fevereiro chegou a -164 milhões de litros em equivalente-leite, registrando uma recuperação mensal de 35 milhões de litros em relação a janeiro, conforme pode ser observado no gráfico 1.
Gráfico 1. Saldo mensal da balança comercial brasileira de lácteos – equivalente leite.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
As exportações brasileiras de lácteos apresentaram um salto durante o último mês. Ao todo foram exportados 16,51 milhões de litros em equivalente-leite, atingindo o maior patamar registrado desde maio de 2022, um resultado 110,7% acima do registrado no mês de janeiro e 152,9% acima do registrado em fevereiro de 2022, como mostra o gráfico 2.
Gráfico 2. Exportações em equivalente-leite.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
As importações passaram por um importante recuo mensal, no entanto, se mantiveram em um resultado ainda bastante alto para um mês de fevereiro. Ao todo, foram importados no último mês 180,2 milhões de litros em equivalente-leite, ficando 12,7% abaixo do registrado no mês anterior e 18,9% acima do mês de fevereiro de 2022, como pode ser observado no gráfico 3.
Gráfico 3. Importações em equivalente-leite.
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint a partir dos dados do COMEXSTAT.
Dentre as principais categorias importadas, os leites em pó, que juntos representaram 73% das importações brasileiras, apresentaram recuos mensais, de -10% para o leite em pó integral e -41% para o leite em pó desnatado.
Em contrapartida, outra importante categoria nas importações, os queijos, encerrou o mês de fevereiro com um expressivo avanço em seu volume importado em relação ao mês anterior, de +20%, mas ficando ainda abaixo de resultados observados no último trimestre de 2023, como ocorreu no mês de novembro, por exemplo, quando foram importadas 270 toneladas a mais de queijos quando comparado com o resultado de fevereiro/24.
Entre os produtos de menor relevância dentro das importações, os iogurtes, soro de leite e manteigas também passaram por recuos em seus volumes importados mensais, enquanto os volumes importados de leites modificados e o doce de leite avançaram no último mês.
Sobre as exportações, algumas categorias obtiveram destaques, como o leite em pó integral, leites modificados e outros produtos lácteos, que apresentaram importantes avanços em seus volumes exportados no mês de fevereiro, com as exportações do leite em pó integral também atingindo o maior patamar desde maio de 2022, sendo essa a categoria de maior relevância dentro das exportações brasileiras, representando cerca de 37% do total.
Os iogurtes, o leite em pó semi-desnatado e as manteigas também avançaram em seus volumes exportados no último mês, enquanto recuos nas exportações foram observados no creme de leite, leite condensado, leite em pó desnatado e leite UHT.
As tabelas 1 e 2 mostram as principais movimentações do comércio internacional de lácteos nos meses de fevereiro e janeiro de 2024.
Tabela 1. Balança comercial de lácteos em fevereiro de 2024
Tabela 2. Balança comercial de lácteos em janeiro de 2024
Fonte: Elaborado pelo MilkPoint Mercado com base em dados COMEXSTAT.
O que podemos esperar para os próximos meses?
As expectativas sobre os preços dos principais produtos importados pelo Brasil, com destaque para os leites em pó, que são majoritariamente produtos do Mercosul, são de que os leites em pó importados se mantenham mais competitivos em relação aos produtos locais, o que, caso ocorra, manteria as importações brasileiras estimuladas.
No entanto, a disponibilidade dos principais países do Mercosul, com destaque para a Argentina, segue sendo um limitante para as importações de lácteos. No mês de janeiro a produção de leite argentina ficou 12% abaixo da produção registrada em janeiro de 2023, e, mesmo com um cenário que indica um menor consumo interno no país, essa menor produção mostra uma menor disponibilidade para as exportações ao Brasil neste ano.
Desta forma, para os próximos meses as importações devem apresentar recuos mensais, mas ainda devem permanecer em patamares altos, como ocorreu agora no mês de fevereiro.
Consumidores que aprendem sobre os benefícios nutricionais do leite compra e consomem mais lácteos
Leite – Embora a maioria dos estadunidenses consuma laticínios e a popularidade de alguns segmentos esteja crescendo, o consumo de leite fluido registrou um declínio significativo entre os consumidores dos Estados Unidos da América (EUA), desde a década de 1960.
Para reverter esta tendência – e assegurar que a população inclua quantidades adequadas de lácteos em suas dietas – o setor lácteo desenvolveu material educacional para concientizar os consumidores através de infográficos, anúncios em TV e cartazes, que também são divulgados nas redes sociais. Mas será que essas mensagens educativas fazem alguma diferença? Um novo estudo da JDS Communications demonstrou que os consumidores conscientes dos benefícios do leite e produtos lácteos consomem e compram mais – incluindo queijo, sorvete, iogurte e especialmente leite.
A líder da pesquisa, Stephanie Clark, PhD, que recentemente se aposentou do Departamento de Ciências dos Alimentos e Nutrição Humana, da Universidade do Estado de Iowa, explicou. “Nosso objetivo é educar aqueles que consomem quantidades inadequadas (menos de 3 porções por dia, conforme recomendado pelas Diretrizes Dietéticas para os Norte-Americanos). Aumentar o conhecimento sobre as motivações que devem ser observadas pelos consumidores e compradores de produtos lácteos”.
Clark e a equipe de pesquisadores realizaram o estudo em três fases: uma pesquisa preliminar, foco em um grupo específico, e finalmente uma pesquisa com participantes adultos voluntários. Quatro infográficos foram desenvolvidos para ajudar a conscientizar os participantes da pesquisa sobre rótulos de alimentos e conceitos de laticínios: painéis de informações nutricionais, má digestão da lactose, 9 nutrientes essenciais, bem como prebióticos e probióticos.
Os resultados do estudo mostraram que a participação do grupo específico teve um efeito positivo significativo na compra e consumo de produtos lácteos, antes e depois da pesquisa de acompanhamento de um mês. “A compra média de laticínios aumentou para 4,4 porções por semana, um crescimento de 26%. O consumo médio de cada produto lácteo também aumento – 23% para queijo; 20% para sorvete; 26% para iogurte e, surpreendentemente, 53% para o leite”
No total, o consumo geral de laticínios pelos participantes aumentou para 8 porções por semana, um saldo de 35%. “O resultado do consumo de leite foi o destaque em nossos resultados”, disse Clark, “com todos os grupos aumentando para pelo menos uma porção de leite por semana”.
Apesar dos resultados positivos, a equipe de pesquisadores observou de imediato que os participantes não atingiram as 21 porções semanais de lácteos recomendadas. Eles reafirmaram a importância de pesquisas adicionais para entender os impactos de longo prazo da educação sobre os lácteos na dieta, ou se a melhora no material educacional ou ainda sua distribuição pode aumentar o impacto.
De um modo geral, o estudo demonstrou que mensagens educativas elaboradas cuidadosamente sobre os benefícios e atributos nutricionais do leite e derivados podem influenciar positivamente o hábito de consumo, levando a aumentar a compra e o consumo de produtos lácteos. Fonte: The Dairy Site
Jogo Rápido
Governo federal aumenta rigor na fiscalização de leite importado
Confira a entrevista do Secretário Executivo do SINDILAT/RS para o Canal AgroMais sobre a nova portaria do Ministério da Agricultura que irá aumentar o rigor na fiscalização de leite importado clicando aqui. (AgroMais via youtube)