Porto Alegre, 20 de janeiro de 2017. Ano 11- N° 2.427
Os números de 2016 só serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 17 de março, mas a expectativa é que a produção de leite no Brasil sofra a maior queda em 55 anos, desde que os índices passaram a ser registrados.
"Embora a captação formal de leite no terceiro trimestre do ano passado tenha apresentado uma recuperação de 12,1% em relação ao trimestre anterior, o volume total captado teve uma quebra de 4,9% quando comparado ao mesmo período de 2015", informa o pesquisador da Embrapa Gado de Leite João César Resende.
Os dados iniciais sugerem que a recuperação tenha se mantido no último trimestre, mas o País deve fechar 2016 com uma produção pouco acima dos 23 bilhões de litros, uma retração acima de 3% em relação a 2015, e há entre os analistas quem aposte em um índice de 4%. Os dois últimos anos não foram bons para o setor. Desde 2014, quando o Brasil registrou o maior volume de produção de leite sob inspeção (24,7 bilhões de litros), os índices vêm retrocedendo. Em 2015, a queda foi de 2,8%.
Ano de extremos - Um dos fatores que favoreceu o menor volume produzido foi o preço internacional do leite. Nos leilões da plataforma Global Dairy Trade (GDT), a tonelada do leite em pó chegou a ser vendida em julho por US$ 2,062.00, preço muito abaixo da média, segundo analistas.
Isso favoreceu a importação de leite da Argentina e do Uruguai. "Importamos o equivalente a 8% da nossa captação de leite no ano que passou", explica Glauco Rodrigues Carvalho, também pesquisador da Embrapa Gado de Leite.
Em dezembro, o leilão da GDT já estava pagando pela tonelada do leite em pó US$ 3,568. A expectativa de Carvalho é que essa seja a média dos preços internacionais ao longo de 2017, reduzindo a competitividade das importações, possibilitando uma recuperação da produção doméstica.
Outro fator que prejudicou o setor foi a quebra de safra do milho. Enquanto a safra do grão em 2014/2015 foi de 84,3 milhões de toneladas, no período de 2015/2016 houve uma queda de 21% (66,5 milhões de toneladas). Isso encareceu a alimentação concentrada do rebanho, aumentando os custos para o produtor. "Vivemos fatos extremos em 2016, o que demonstrou a desorganização e a fragilidade da cadeia produtiva do leite no Brasil", argumenta Carvalho. O reflexo dessa fragilidade se deu, principalmente, nos preços pagos ao produtor. O ano começou com preços muito baixos, com o pecuarista recebendo R$ 1,06/litro. A média do primeiro semestre ficou abaixo de R$ 1,20.
A consequência foi a queda da atividade industrial, com as indústrias chegando a conviver com uma capacidade ociosa em torno de 40%. Para ampliar a captação do produto, a reação foi aumentar os preços, cuja média no segundo semestre foi de R$ 1,49/litro. Carvalho informa que o pico ocorreu em agosto (R$ 1,69), mas teve leite sendo comprado de alguns produtores por mais R$ 2/litro. "Com uma amplitude tão grande de preços, fica difícil para qualquer setor se planejar", afirma o pesquisador.
Apesar de um ano de tão grandes variações, desde 2010, o valor pago ao produtor tem mantido uma certa regularidade. A produção total do Brasil (leite inspecionado mais leite informal) apresenta uma curva ascendente enquanto os preços caem, o que, segundo Resende, demonstra o potencial da atividade:
"A longo prazo, a queda dos preços pagos ao produtor reflete a diminuição dos custos de produção que ocorreu no período. Temos um setor produtivo mais eficiente, que se modernizou tecnologicamente. E os preços para o consumidor também acompanham a tendência de queda. Se não houvesse essa modernização, estaríamos pagando hoje mais de R$ 4 pelo litro de leite".
Tendências favoráveis - Carvalho afirma que, para este ano, espera-se um volume de produção superior aos registrados em 2015 e 2016, mas sem excesso de oferta. "Será um ano de recuperação de safra, já que a relação preço do leite e insumo, na média, tende a ser melhor".
O milho, vilão do aumento dos custos de concentrado em 2016, tende a ter preços mais amigáveis. A expectativa é que a safra 2016/2017 do grão gire em torno de 84 milhões de toneladas. A previsão somente para a safra de inverno é de 56 milhões de toneladas. O pesquisador espera que a safra de grãos no Brasil, capitaneada pela soja, seja recorde este ano.
Como já foi dito, os preços internacionais do leite tendem a subir, dificultando as importações, o que favorece o cenário interno. A tendência de aumento dos preços internacionais se ancora principalmente na desaceleração da produção na Europa e na queda recente da oferta na Oceania e na América Latina. A manutenção da cotação do dólar em patamares mais elevados também é um estímulo à produção interna, aumentando a competitividade relativa da exportação em relação à importação.
"Do ponto de vista do consumo interno, a tendência também é de melhora gradual", aponta Carvalho. "A despeito do frágil cenário político e econômico nacional, os indicadores têm melhorado e as perspectivas são de que inflação, taxa de juros e PIB caminhem no sentido de estimular o consumo, promovendo uma retomada do crescimento econômico, ainda que modesto", conclui. (Embrapa Gado de Leite)
Na terça-feira, dia 17 de janeiro, o ex-secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, foi formalmente anunciado como o segundo presidente da história do Conselho de Exportações de Lácteos do país (USDEC). Vilsack sucede a Tom Suber, que se aposentou recentemente e presidiu a organização desde seu início.
Apesar de o anúncio oficial ter sido feito apenas no dia 17, especulações já vinham sendo feitas sobre a entrada de Vilsack nesse cargo desde outubro, após a reunião anual conjunta da Federação Nacional de Produtores de Leite dos Estados Unidos (NMPF) com o Dairy Management Inc. Essas conversas tornaram-se mais frequentes após os resultados da eleição de novembro.
Vilsack traz muitas experiências a sua nova posição no USDEC, não somente por ter sido o secretário de Agricultura que atuou por mais tempo em 40 anos, mas também, porque ele entende de comércio. "A agricultura é uma das nossas estrelas brilhantes no comércio", disse Vilsack, ao ser introduzido como novo presidente e CEO do USDEC.
Enquanto ele era secretário de Agricultura do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o país teve os seis anos mais fortes para o comércio agrícola - 2009 a 2014. Além disso, Vilsack trabalhou com o presidente Obama para criar e assinar acordos comerciais com Colômbia, Coreia do Sul e Panamá. "Estaremos constantemente atentos para as barreiras comerciais", disse ele em sua primeira conferência como presidente do USDEC. "Queremos abrir mercados. Estamos felizes por competir, mas queremos condições iguais".
Do ponto de vista dos lácteos, Vilsack sabe que a nutrição e o condicionamento físico andam de mãos dadas. Sob sua liderança, o USDA se uniu com a primeira dama, Michelle Obama, na iniciativa Let's Move! para melhorar a saúde das crianças do país. Vilsack também ajudou a aprovar e implementar o Healthy, Hunger Free Kids Act, permitindo que o USDA ajudasse a combater a fome e a obesidade de crianças, fazendo algumas das melhoras mais significativas nas refeições escolares em 30 anos.
Acima de tudo, o ex-governador de Iowa, por dois mandatos, vem de um Estado agrícola e tem bastante experiência no setor. Vilsack trabalhou de forma bipartidária em várias ocasiões. Como governador Democrático em Iowa, ele trabalhou com a legislatura Republicada para aprovar leis. Ele fez o mesmo como secretário do USDA para aprovar a Lei Agrícola.
Ele entende a complexidade do comércio e aprecia os grandes avanços leiteiros feitos nos últimos 21 anos para aumentar as exportações de 3% para 16%. Vilsack também traz uma credibilidade instantânea para impulsionar relações com parceiros comerciais ao redor do mundo. "Aumentar o mercado global para os produtos lácteos dos Estados Unidos é essencial para o futuro da indústria de lácteos e dos produtores de leite do país. Passei minha carreira no serviço público como um defensor incansável dos produtores rurais e da agricultura americana e não posso pensar em uma forma melhor para continuar esse serviço do que liderar o USDEC", disse ele.
"Estou ansioso para me associar com a equipe dinâmica do USDEC, bem como do setor agrícola, da indústria de alimentos dos principais membros domésticos e estrangeiros para progredir com a missão do Conselho e fortalecer a confiança na indústria de lácteos americana". (As informações são da Hoards.com, traduzidas e adaptadas pela Equipe MilkPoint)
33% dos consumidores priorizam marcas engajadas
Um novo estudo internacional encomendado pela Unilever e realizado pela Europanel revela que, atualmente, 33% dos consumidores preferem marcas que impactem positivamente a sociedade ou o meio ambiente. O estudo também mostra que essa tendência é mais forte em economias emergentes do que em mercados desenvolvidos. Enquanto 53% de consumidores no Reino Unido e 78% nos EUA afirmam se sentir melhor quando compram produtos fabricados de maneira sustentável, essa porcentagem aumenta para 88% na Índia e para 85% no Brasil e na Turquia. Foram entrevistadas 20 mil pessoas em cinco países - Brasil, Índia, Reino Unido, EUA e Turquia. Além de confirmar a expectativa do público em relação à necessidade das empresas provocarem um impacto social e ambiental positivo, o estudo revela ainda uma oportunidade de negócio para as companhias que investirem nessa tendência: 21% dos entrevistados disseram que escolheriam marcas que comuniquem melhor suas credenciais de sustentabilidade em embalagens e campanhas de marketing. Isso representa uma oportunidade potencial inexplorada de €966 bilhões em relação a um mercado total de bens sustentáveis, estimado em €2,5 trilhões. A escala dessa oportunidade é confirmada pelo desempenho das marcas sustentáveis da Unilever - aquelas que tem um propósito social e/ou ambiental. Marcas como Dove, OMO, Hellmann's, Lifebuoy, VIM e Ben & Jerry's crescem, juntas, 30% mais rápido que o restante do negócio e entregaram quase metade do crescimento global da companhia em 2015. Keith Weed, chefe global de Marketing e Comunicações da Unilever, diz: "A pesquisa confirma que a sustentabilidade é, de fato, um incremento desejável para os negócios. Para obter êxito global, especialmente em economias emergentes, as marcas precisam ir além das áreas de foco tradicionais como desempenho de produto e acessibilidade. Ao invés disso, precisam agir depressa para demonstrar suas credenciais sociais e ambientais e mostrar aos consumidores que, além de bem geridas, são confiáveis no que tange ao futuro do planeta e das comunidades". O estudo identifica dois motivos prováveis pelo maior engajamento do consumidor em economias emergentes: a exposição direta ao impacto negativo de práticas empresariais insustentáveis - como falta de água e energia, escassez de alimentos e qualidade de ar inferior -; e o poder de influência de familiares, amigos e filhos para a compra de produtos mais verdes e socialmente responsáveis. (Supermercado Moderno)
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) estão avançando na parceria, estabelecida em Termo de Cooperação, que amplia o acesso do agricultor a boas práticas de produção integrada agropecuária. O objetivo é reduzir custos de produção, com vantagens para o consumidor e o abastecimento de alimentos mais saudáveis, livres de resíduos que ofereçam riscos à saúde. Segundo o coordenador de Produção Integrada Agropecuária da Secretaria de Mobilidade e Cooperativismo do Mapa, Helinton Rocha, a cooperação entre o governo e o setor deverá expandir o Programa de Rastreabilidade e Monitoramento de Alimentos (Rama). Houve experiência piloto bem sucedida em Santa Catarina, envolvendo mais de 30 grandes redes de supermercados.
O Rama será implantado no Rio Grande do Sul e no Paraná. As centrais de abastecimento de São Paulo (Ceagesp) e a de Minas Gerais (Ceasa Minas) também deverão estimular seus fornecedores a produzir alimentos mais seguros e com rastreabilidade. O Rama é baseado no monitoramento e rastreabilidade de frutas, de legumes e de verduras (FLV), monitora resíduos de agrotóxicos utilizados desde a produção até o ponto de venda. O principal objetivo é garantir que resíduos de defensivos agrícolas encontrados nos alimentos não estejam acima de níveis que ofereçam riscos à saúde e também do nível permitido legalmente, estando, portanto, seguros para o consumo humano.
Em reunião realizada nesta terça-feira (17) no Mapa, participaram representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal de Viçosa (MG), da Associação Brasileira de Automação (GS1) e da Associação Brasileira de Sementes (Abrasem).
O ministro de Agricultura da Índia, Radha Mohan Singh, destacou que o país precisa de uma conexão melhor entre os produtores e o mercado para impulsionar a produção de lácteos local. "É necessário que as instalações de coleta de leite sejam melhoradas e os pecuaristas recebam um preço compatível pelos seus produtos. (...) Isso só é possível (melhorar a produção) quando um sistema de gestão eficaz está em vigor para ligar os agricultores ao mercado", disse o ministro. (As informações são do Dow Jones Newswires, publicadas pelo Estadão)