Os Conseleites brasileiros avaliam a integração de suas câmaras técnicas e grupos de debate de forma a buscar soluções conjuntas para os entraves do setor. A proposta surgiu durante o 1º Encontro Nacional dos Conseleites do Brasil, realizado na tarde desta quinta-feira (8/6) de forma inédita durante a Megaleite, em Belo Horizonte (MG). Atualmente, cada câmara técnica delimita sua metodologia de trabalho e parâmetros para obtenção do valor de referência do leite, mas as dificuldades vividas nos seis estados onde há colegiado são similares: margens de rentabilidade minimizadas, falta de estímulo à produção e concorrência ferrenha com os importados.
A troca de experiências foi tão rica que uma agenda de novos encontros já foi debatida com expectativa de reprises anuais com rodízios entre os seis estados: PR, RS, SC, MT, MG e RO. Outra proposição que surgiu para reforçar essa integração foi a de criação de um parâmetro de estoques nacionais de forma a quantificar o leite armazenado no país.
Reunindo lideranças de produtores e indústrias, o evento foi marcado por apresentação de conquistas e desafios pelos seis estados onde há colegiado, entre eles o Rio Grande do Sul, onde as reuniões estão temporariamente suspensas por falta de liberação de recursos do Estado (Fundoleite) - elo produtor - para arcar com o estudo. “O Conseleite faz falta. Produtores e indústrias estão no mesmo barco”, defendeu o secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat) e coordenador do Conseleite/RS, Darlan Palharini. Segundo ele, o Conseleite/RS vive um divisor de águas no RS, mas segue sendo o melhor local para ter transparência de posição das partes. “É um setor onde a concorrência começa no campo e termina na gôndola. Temos dois grandes grupos de produtores: os que estão sobrevivendo com problemas de sucessão e financeiros e que senão houver ação conjunta de uma política de Estado devem sair da atividade e aqueles que estão investindo”, ressaltou, citando o aumento na aquisição de robôs para a ordenha do gado leiteiro. Confiante na retomada do grupo gaúcho, foi contundente: “Se é ruim com o Conseleite, será muito pior sem ele”.
O primeiro Conseleite surgiu no Paraná em 2003, seguido por Santa Catarina e Rio Grande do Sul (2007), Rondônia (2010), Minas Gerais (2019) e Mato Grosso (2021). Juntos, os Conseleites representam 68,3% do leite processado no Brasil, sendo que MG, PR e RS respondem por 24,5%, 14,40% e 13,30%, respectivamente.
Entre os principais ganhos constatados ao longo desses mais de 20 anos, está um estreitamento do diálogo na cadeia produtiva, consolidando-os como agentes de desenvolvimento do capital social. Para quantificar os ganhos advindos desse processo, já estuda-se, inclusive, a adoção de uma pesquisa objetiva para mensurar o impacto do Conseleite na construção do capital social dos estados. Avanço destacado também na fala do presidente da Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais, Antônio Pitangui de Salvo, ao abrir a reunião. “Tínhamos uma dificuldade gigantesca de conversar com as indústrias, diferentemente desse momento que estamos vivendo nos Conseleites. As coisas não são fáceis de serem construídas, mas precisamos estimular esse convívio entre os estados e as cadeias. Temos uma única saída: estarmos juntos dialogando, diminuindo as tensões políticas para que possamos avançar. Precisamos mostrar a cara do setor leiteiro. O agro precisa ser mais bem compreendido, e ninguém vai falar por nós senão nós mesmos.”
De Salvo reforçou que a solução para o impasse do setor é longa. “Não são só as importações. O problema da pecuária leiteira está dentro das porteiras, em gestão, em genética, em sanidade, em nutrição. Precisamos trabalhar da porteira para dentro e da porteira para fora”, disse, lembrando do tempo que uma vaca boa era a que produzia 15 quilos/dia, e hoje já atingimos marcas entre 20 e 30 litros/dia.
20 anos depois
Uma das fundadoras do projeto, a professora da UFPR Vânia Guimarães recordou que a instalação dos colegiados remonta a momentos de crise. Emocionada, ela agradeceu a todos os integrantes que dedicaram seu tempo e esforço nos diferentes estados. “O trabalho vai ficando mais difícil. As coisas não ficam mais fáceis, ficam mais difíceis”, frisou ela, lembrando dos impasses em volta do tema preço nas Câmaras Técnicas. “Valor de referência é valor de referência, não é preço. Preço só existe quando se faz negócio”, reforçou.
O professor José Roberto Canziani explicou as diferenças de parâmetros definidas entre os Conseleites, citando que há variações de nível gordura, proteína, e até carga por propriedade no cálculo do valor de referência. Entre as tendências, citou os ganhos que devem surgir com a tecnologia da informação e o uso de plataformas inteligentes para pesquisa. No curto prazo, completou ele, o desafio é reduzir custos de revisões e fazer esforço para parametrizar as indústrias, assim como se fez com os produtores em relação a diferentes portes e ramos de atividades. “Conhecer, confiar e usar o Conseleite. Esse é o nosso desafio”.
Foto: Mariana Mendes/ Assessoria de Comunicação - Sistema Faemg Senar