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22/04/2025

Newsletter Sindilat_RS

Porto Alegre, 22 de abril de 2025                                                           Ano 19 - N° 4.376


Momento de estabilidade na pecuária leiteira

Alta do dólar, oferta equilibrada, retorno das chuvas e temperaturas mais amenas contribuem para uma entressafra excepcionalmente tranquila na produção de leite, em comparação com os últimos anos

No lançamento da 18ª Fenasul/45ª Expoleite, no início da semana passada, o tom dos discursos de representantes do setor leiteiro surpreendeu o público. Ao invés das queixas e reivindicações que têm caracterizado os encontros do endividado meio rural gaúcho, as manifestações do evento permitiram inclusive piadas e ditos espirituosos. O ambiente reflete um período de excepcional estabilidade, na comparação com anos anteriores, vivenciado pela bovinocultura leiteira na entressafra de 2025, mas que também não torna os pecuaristas alheios às dificuldades enfrentadas pela agropecuária do Rio Grande do Sul.

De acordo com o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) e da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Marcos Tang, a estiagem que atingiu o Estado desde meados de dezembro, combinada às temperaturas extremas verificadas durante o verão, fez cair a produção de leite em cerca de 10%. O fenômeno climático, além de provocar estresse térmico nas vacas, reduzindo a oferta da bebida, prejudicou lavouras de soja e de milho nas regiões Oeste e Noroeste do RS, com impacto sobre a alimentação e, por consequência, nos custos de produção dos rebanhos. Tang calcula que entre 600 mil até um milhão de litros de leite deixaram de ser ordenhados, chegando próximo ao percentual de 10% da produção diária gaúcha.

“Estamos na entressafra. A produção melhora agora com a vinda das pastagens. É um momento em que reduz o custo e se produz mais, com uma alimentação muito natural para a vaca”, diz Tang. De qualquer forma, mesmo com a colaboração das condições climáticas e do pasto abundante, a produção dos meses de final de verão, outono e inverno tem seus limites.Tang exemplifica com os resultados dos concursos leiteiros em diferentes etapas do ano. “Concursos que ocorrem entre fevereiro e maio, incluindo a nossa Fenasul/Expoleite, as vacas vencem com 70 litros ou 80 litros. Depois chega na Expointer (que ocorre na primavera) e bate ali perto dos 100 litros. É um ciclo”, descreve o dirigente.

Secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat) e coordenador do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do RS (Conseleite), Darlan Palharini prevê que a produção em 2025 supere o total de 2024, de 3,8 bilhões de litros. Tang ressalta a necessidade de estabelecimento de um debate sobre o volume da produção leiteira gaúcha, estacionada em cerca de 11 milhões de litros por dia. Dados do Sindilat/RS indicam que a média pode ser inclusive inferior. Entre 2021 e 2024, conforme o sindicato, a média diária de aquisição de leite pela indústria no RS oscilou entre 7,5 milhões de litros, em janeiro de 2022, a 12,2 milhões de litros, em agosto de 2021. “Estamos falando de leite oficial, com nota. Estagnamos nisso há mais de 10 anos ou 15 anos”, diz Tang.

Para o gerente de Suprimentos de Leite da Cooperativa Geral Gaúcha (CCGL), Jair da Silva Melo, a produção de leite no Rio Grande do Sul, de fato, cresce a uma taxa muito baixa, de 1,7% ao ano. A falta de incentivo, estadual ou federal, contribui para a redução de 60% no número de produtores, que hoje somam 34 mil agropecuaristas no Rio Grande do Sul, conforme Melo. “Dentro do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), ele (o pecuarista de leite) é um dos que menos consegue pegar recursos de até R$ 250 mil. Pescadores conseguem pegar mais que o produtor de leite”, aponta Tang. Palharini destaca a estabilidade nos negócios e nos preços, avaliação compartilhada pelo vice-presidente e diretor de Política Agrícola da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Eugênio Zanetti. “Há um pouco de retração nas vendas. Com a taxa de juro mais alta, o mercado está um pouco travado, mas não dá para dizer que não se consegue vender”, revela Palharini. 

Conforme o dirigente sindical, a indústria opera com margem mais curta. “A cotação do leite está remunerando bem o produtor. Os laticínios têm de trabalhar muito com a questão da eficiência para buscar rentabilidade”, pondera Palharini. Zanetti considera a possibilidade de o valor ao produtor sofrer alta na próxima reunião do Conseleite, prevista para o dia 29 de abril, em Passo Fundo. Ele comemora o cenário mais equilibrado, diferente do que ocorreu no passado recente. “O produtor está precisando de normalidade, até para se recuperar das dificuldades dos últimos anos”, afirma.

Zanetti e Palharini, contudo, ressaltam que a situação é favorável ao pecuarista que atinge uma oferta de, pelo menos, 500 litros de leite por dia, assegurando com o volume a obtenção de uma rentabilidade “mais confortável”. Uma dificuldade que teve sua importância moderada desde abril de 2024 foi a concorrência com o produto importado do Mercosul. O governo gaúcho e de outras unidades federativas chegaram a adotar medidas de eliminação de benefícios fiscais, aplicadas às empresas que mantivessem a preferência pelo fornecedor estrangeiro. No entanto, o que acabou limitando o ingresso de leite oriundo da Argentina, principalmente, foi a alta do dólar e a elevação dos custos de produção do país vizinho a partir da chegada do presidente Javier Milei à Casa Rosada. “O governo argentino retirou subsídios e o preço do leite na Argentina está em patamar elevado”, diz Zanetti. “As importações continuam, em volume bem considerável, mas também a economia vai se acostumando com essa realidade e trabalhando com esse novo participante de mercado”, pondera Palharini. (Correio do Povo)


EMATER/RS: Informativo Conjuntural 1863 

BOVINOCULTURA DE LEITE

As temperaturas amenas e as chuvas intensas favoreceram o bem-estar animal, apesar dos problemas com barro. São efetuados os devidos cuidados sanitários. A produção se mantém estabilizada, e os indicadores de qualidade do leite seguem dentro dos parâmetros. 

Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, o vazio forrageiro outonal tem impactado a produção e a qualidade do leite, especialmente na Campanha e Fronteira Oeste.

Na de Caxias do Sul, o clima beneficiou o bem-estar animal. Nos sistemas confinados, tem sido mantida a alimentação adequada. A produtividade está estável, apesar do acúmulo de barro e da necessidade de maior atenção à qualidade do leite. 

Na de Erechim, os rebanhos apresentam apropriado estado sanitário e nutricional, beneficiados pelas temperaturas mais amenas e pela normalização da oferta de água. Contudo, o vazio outonal tem exigido maior suplementação alimentar e atenção aos manejos reprodutivos, sanitários e de pastoreio. 

Na de Frederico Westphalen, a produção foi levemente impactada pelo vazio forrageiro antecipado e pelas altas temperaturas. Contudo, as chuvas e as temperaturas mais amenas proporcionaram o rebrote das pastagens e adequado bem-estar animal, mantendo o cenário de estabilidade na comercialização. 

Na de Ijuí, a produção segue estável, e aumento o uso de silagem para compensar o vazio outonal nas pastagens. Nos sistemas confinados, a redução das temperaturas tem favorecido o bem-estar dos animais.

Na de Passo Fundo, o uso intensificado de alimentos conservados durante o vazio outonal contribuiu para a recuperação nutricional dos rebanhos. Observa-se redução na população de moscas e aumento nos casos de carrapatos e tristeza parasitária. Porém, há menor oferta de leite. 

Na de Pelotas, as chuvas intensas têm afetado o pastejo, o plantio de pastagens de inverno, a colheita de silagem e a logística de transporte do leite, comprometendo a produção em diversas regiões. Entretanto, há expectativa de recuperação com o avanço das forrageiras de inverno. 

Na de Porto Alegre, os animais mantêm condição corporal satisfatória com apoio da suplementação. 

Na de Santa Maria, os produtores seguem atentos ao controle de parasitas para manter a sanidade dos rebanhos. 

Na de Santa Rosa, os custos de produção estão adequados, e o preço da ração e dos insumos tem permitido margem de lucratividade para o produtor. A média do preço recebido pelo litro de leite apresentou estabilidade em comparação ao mês anterior. 

Na de Soledade, as temperaturas amenas e a boa oferta de pastagens, aliadas ao avanço das forrageiras de inverno e do milho para silagem, favoreceram o bem-estar do rebanho e a estabilidade alimentar dos animais. (Emater/RS adaptado pelo Sindilat)

Embrapa promove seminário on-line sobre rumos da cadeia do leite no Brasil

Evento será nesta terça-feira, 29, reunirá especialistas e terá debate com o público

A Rede de Socioeconomia da Agricultura da Embrapa promove na próxima terça-feira 29 de abril, das 9h às 11h, o seminário "Debates em Socioeconomia – Leite e Derivados: realidade e perspectivas futuras", com transmissão ao vivo pelo canal da Embrapa no YouTube. O evento é gratuito e aberto ao público.

Com foco na análise dos desafios e tendências da cadeia produtiva do leite, o seminário reunirá representantes do setor produtivo e especialistas da Embrapa Gado de Leite. O objetivo é aprofundar a compreensão sobre a atual conjuntura da produção leiteira no Brasil e debater estratégias para fortalecer a competitividade do setor, com especial atenção à inovação tecnológica, ao mercado consumidor e ao papel da produção familiar.

Painelistas e temas

A programação contará com três apresentações seguidas de debate com o público:

9h – Jônadan Ma (Comissão Técnica da Pecuária de Leite da FAEMG) abordará “Os desafios da produção sob a perspectiva do produtor de leite”

9h30 – Glauco Carvalho (Embrapa Gado de Leite) falará sobre “Desafios e tendências para a cadeia produtiva do leite”

10h – Kennya Siqueira (Embrapa Gado de Leite) apresentará o tema “O mercado de leite e derivados sob a ótica do consumidor”

Logo depois das apresentações, acontece o debate com o público.

Alinhar visões e estratégias
A mediação será do pesquisador Samuel Oliveira, da Embrapa Gado de Leite. Ele ressalta a importância da abordagem integrada do tema: “A cadeia produtiva do leite está em um momento de inflexão. Estamos vendo avanços em produtividade e uso de tecnologia, mas também novos desafios ligados à competitividade, à oscilação do consumo e à reorganização da produção no território nacional. O seminário será uma oportunidade para alinhar visões e estratégias a partir de uma leitura qualificada do cenário atual.”

Samuel destaca que a proposta do evento é criar um espaço para análise crítica e troca de experiências: “Nossa intenção é reunir diferentes olhares – do produtor, do pesquisador, do mercado – para que possamos compreender a complexidade do setor e identificar caminhos viáveis, tanto do ponto de vista econômico quanto social.”

Transformações e perspectivas
De acordo com estudos da Embrapa, o Brasil alcançou em 2023 a marca de 97 milhões de litros de leite por dia. Ainda que a produção pouco tenha se alterado nos últimos dez anos, ocorreu forte redução do número de vacas ordenhadas, evidenciando o aumento da produtividade por animal – que passou de 1.492 litros/vaca/ano em 2013 para 2.259 litros em 2023.

Avanços e Desafios

Apesar dos avanços, os desafios permanecem. “A cadeia precisa enfrentar o aumento de custos, a concorrência das importações e um consumo interno que cresce em ritmo mais lento”, explica Samuel. “Por outro lado, há oportunidades reais ligadas à gestão eficiente, ao uso de tecnologias e ao fortalecimento das estratégias de agregação de valor nos produtos lácteos”, diz.

O pesquisador também reforça a importância do olhar socioeconômico sobre o setor: “A produção de leite envolve grandes produtores, mas também um número significativo de agricultores familiares. É fundamental pensar políticas e soluções que ajudem os pequenos a se manter competitivos. A sustentabilidade econômica e social da cadeia depende disso.”

Rede de Socioeconomia da Embrapa
A Rede de Socioeconomia da Agricultura (RSA) é uma iniciativa da Embrapa criada oficialmente este ano, a partir de um grupo de trabalho instituído pela Diretoria Executiva em 2024, com coordenação da Assessoria de Estratégia e Sustentabilidade (AEST). A Rede tem como missão fortalecer a área de socioeconomia na Empresa, promovendo a integração entre pesquisa e inteligência estratégica para apoiar a competitividade e a sustentabilidade do setor agropecuário brasileiro.

A rede conta hoje com pelo menos 273 empregados da Embrapa – entre economistas, sociólogos, agrônomos, estatísticos, cientistas da computação e outras especialidades. A Rede busca gerar análises, subsídios e dados estratégicos voltados à formulação de políticas públicas, ao desenvolvimento de cadeias produtivas sustentáveis, ao monitoramento de inovações tecnológicas e à inclusão socioprodutiva de pequenos agricultores.

Serviço

  • Seminário Debates em Socioeconomia – Leite e Derivados: realidade e perspectivas futuras
  • Data: 29 de abril de 2025
  • Horário: das 9h às 11h
  • Transmissão ao vivo: www.youtube.com/embrapa
  • Participação aberta com perguntas ao vivo
  • Mais informações sobre o setor: www.cileite.com.br
  • Fonte: Embrapa Gado de Leite

Jogo Rápido

Associados ao Sindilat RS têm desconto no MilkPro Summit 2025
Os associados ao Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) contam com condições especiais para participar do MilkPro Summit 2025, evento que ocorrerá nos dias 15 e 16 de maio, em Atibaia (SP). A iniciativa busca reunir produtores, especialistas e investidores para discutir o futuro da produção leiteira no Brasil e no mundo e está dividida entre seis paineis temáticos focados nas mudanças provocadas pela tecnologia. São eles: Tendências para o leite no mundo: produção e consumo; A fronteira da inovação, digitalização e IA aplicada à atividade leiteira; Farmer’s Forum – A visão de negócio de 3 produtores globais; Mudando o jogo na comunicação com o consumidor; Leadership Talk e Estratégia de negócios envolvendo a atividade leiteira. Para garantir a inscrição com 10% de desconto, os sócios devem acessar o link, clicando aqui.  O evento também contará com paineis de discussão e momentos para a troca de experiências e ampliação de conexões no setor. (Sindilat)


 
 
 

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