Porto Alegre, 03 de dezembro de 2024 Ano 18 - N° 4.276
As últimas estatísticas divulgadas pelo IBGE sobre a pecuária de leite no Brasil apresentam um quadro curioso. A grande maioria dos municípios do país possui alguma produção de leite. Este é um dado interessante, considerando que, em diversos outros setores do agro brasileiro como soja, café, laranja e cana-de-açúcar, para citar alguns, a concentração é clara, não são tantos municípios que exibem alguma produção nestes setores.Ainda que a produção de leite seja dispersa no território nacional, os dados de produção de leite no Brasil em 2023 mostram que há um processo de concentração desta produção. Podemos calcular a concentração da produção leiteira de cada município do país como a razão entre a produção média de leite (litros/ dia) e a área deles (quilômetros quadrados do município). Organizando os municípios brasileiros em ordem decrescente de densidade da produção, identificamos uma fração diminuta do território nacional, com densidade igual ou superior a 78 litros/ dia/ km2, que já responde por metade do leite produzido em todo o país (Figura 1).
Figura 1 - Área de maior concentração da produção leiteira no Brasil, 78 ou mais litros/ dia/ km2, 2023.
Área de maior concentração da produção leiteira no Brasil. 78 ou mais litros/ dia/ km2, 2023.
Fonte: PPM adaptado por Embrapa (2024).
Esta área de maior concentração da produção brasileira abrange importantes bacias leiteiras do Sul, Sudeste e do Nordeste brasileiro e também áreas relevantes do estado de Goiás. Esta área equivale a apenas 291 mil quilômetros quadrados, ou seja, 3% da área territorial do país.
É curioso observar que a concentração espacial da produção brasileira aumenta a cada ano. Entre 2013 e 2023 a contribuição da área de maior concentração da produção no total do leite produzido no país passou de 41% para 50%. Um expressivo aumento de quase um ponto percentual ao ano. A produção de leite no país só aumentou nesta área. Entre 2013 e 2023 a produção da área de menor concentração, ou 97% do território nacional, diminuiu de 55,2 para 48,0 milhões de litros/ dia. Por outro lado, a área de maior concentração exibiu aumento de 38,6 para 48,9 milhões de litros/ dia em apenas dez anos, em contraste com a produção total brasileira, que pouco se alterou nestes dez anos.
Neste período, o número de vacas ordenhadas no país diminuiu de 23,0 para 15,7 milhões de cabeças. Na área de maior concentração da produção este número também caiu de 5,6 para 4,6 milhões, uma queda notável considerando o aumento de 27% na produção desta região em dez anos. Nestas regiões mais dinâmicas observa-se incremento de produção e redução do número de animais, um reflexo da crescente especialização na pecuária de leite (Tabela 1).
Tabela 1 - Área, produção e produtividade da pecuária leiteira no Brasil, em áreas de menor e maior densidade de produção, 2013-2023.
Área, produção e produtividade da pecuária leiteira no Brasil, em áreas de menor e maior densidade de produção, 2013-2023.
Fonte: PPM adaptado por Embrapa (2024).
A concentração espacial da produção também coincide com a concentração do processo de inovação tecnológica na produção leiteira. A produtividade da região de maior concentração da produção evoluiu mais rapidamente que a outra área e alcança valor significativamente superior à média nacional: 3.849 litros/ vaca/ dia em 2023 contra 2.264 litros/ vaca/ dia no Brasil neste mesmo ano. É o Brasil cuja produtividade já se aproxima à observada na Nova Zelândia, importante produtor e exportador de lácteos no contexto global.
É visível o processo de concentração espacial na produção e nos processos de inovação tecnológica da pecuária leiteira. Este é um movimento importante e necessário para permitir a redução de custos de transporte e melhorar a oferta de bens e serviços necessários à maior competitividade da cadeia brasileira de lácteos frente ao mundo. A pequena fração de 3% do território nacional, que já produz metade do leite brasileiro, mostra que há polos dinâmicos na produção leiteira que devem ser mais bem conhecidos, estimulados e cujas experiências e trajetórias podem ajudar ao agronegócio do leite a trilhar no caminho do desenvolvimento sustentável e da competitividade. (POR SAMUEL JOSE DE MAGALHAES OLIVEIRA E GLAUCO RODRIGUES CARVALHO PARA MILKPOINT)
Fonte: GDT editado pelo SINDILAT
BC acha que precisa subir juros por desemprego baixo e economia ir bem
"No caso do Brasil, enfrentar isso não tem bala de prata", disse o futuro presidente do BC em evento na quinta-feira (28)
O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central no ano que vem, Gabriel Galípolo, voltou a repetir que a autarquia segue firme na persecução da meta de inflação de 3%, “ainda que possa parecer estranho para muita gente”, pontua o diretor.
Galípolo reconhece que a economia doméstica vai bem, com crescimento surpreendendo para cima e a taxa de desemprego em nível baixo – e é justamente por isso que o BC entende que é preciso subir juros, afirma. “O BC é o cara chato da festa, de diminuir o som quando as coisas parecem estar indo bem. Mas isso acontece para desacelerar e as coisas não saírem do controle”, disse o diretor, no evento Esfera Brasil, promovido pelo Esfera Recebe, em São Paulo.
O futuro presidente do BC ainda avalia que é um tema complexo explicar a resiliência maior da economia com juros mais altos. “É um tema para essa geração enfrentar”, frisou. “No caso do Brasil, enfrentar isso não tem bala de prata, envolve analisar todos os tipos de dissonâncias que existem para o que são as melhores práticas globais, seja do ponto de vista de políticas públicas no âmbito fiscal, seja no âmbito da taxa de juros, no tema da desindexação, por exemplo”, detalhou.
Galípolo ainda pontuou que um elemento que não tem mitigação a juros mais altos é o Tesouro, e lembrou que a taxa fixada pelo Tesouro não é a mesma fixada pelo BC. “Este convívio com taxa de juros mais alta se faz sentir, sim, em um peso maior sobre o Tesouro”, disse. “E eu acho que deveria ser um debate que não envolve só a atribuição do Banco Central, mas também de como é que a gente consegue normalizar as políticas econômicas no Brasil e conseguir aproximá-las do que são as melhores práticas internacionais, para que a gente possa ter mais potência e poder ter o mesmo efeito sem precisar dar uma dose tão alta”, complementou.
‘Juro em nível mais contracionista’
Galípolo reforçou nesta quinta (28) que, pelos indicadores, é lógico supor que a taxa de juro precisará de um juro em nível mais contracionista.
“Pelos indicadores, é lógico supor que precisará de juro em nível mais contracionista”, disse o diretor durante evento do Grupo Esfera. Mas, de acordo com Galípolo, o BC segue firme no objetivo de perseguir a meta de inflação.“Isso pode se dar em doses diferentes, por mais custos, por menos custos, mas esse é um mandato do Banco Central em que a gente segue firme, recebe esse objetivo de perseguição da meta. Ainda que seja, muitas vezes, por um motivo que, para muita gente, pode ser estranho”, disse Galípolo, acrescentando que o BC está achando que precisa subir juros.
“O Banco Central, às vezes, é esse cara que é meio que o chato da festa. Normalmente, a festa parece uma coisa mais legal. Então, vamos baixar um pouco o som, vamos segurar um pouco a bebida para ter certeza que ninguém vai se machucar até o final da festa”, disse Galípolo. (Infomoney)
Jogo Rápido
Galípolo descarta recorrer a reservas para conter alta do dólar
O futuro presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, afirmou nesta 2ª feira
(2.dez.2024) que, sob sua direção, a autarquia não recorrerá ao uso das reservas cambiais de US$ 370 bilhões do Brasil para intervir no valor do dólar. A declaração foi dada durante evento da XP Investimentos, em São Paulo. Segundo Galípolo, a atuação do BC será focada em situações de desequilíbrio. "Essa é uma discussão que às vezes vai surgir: 'Tem US$ 370 bilhões em reservas, por que não segura o dólar no peito?'. Quem está no mercado e está assistindo sabe que não é assim que funciona, e efetivamente a gente vai continuar fazendo atuações só por questões de desfuncionalidade como essa de você ter uma sazonalidade no final de ano", disse. A moeda norte-americana segue acima de R$ 6 desde a 6ª feira (29.nov). Foi o maior patamar nominal de fechamento na história. Nesta 2ª (2.dez), a moeda fechou a R$ 6,07 e renovou o recorde.nO atual diretor de política monetária do BC ainda afirmou que o câmbio flutuante é um dos "pilares" da matriz econômica brasileira e que está cumprindo seu papel "muito bem". "O câmbio flutuante é um dos pilares da nossa matriz econômica, essencial para que a gente possa passar por momentos como esse que a gente tá vendo agora. Então eu não vejo nenhum tipo de mudança significativa, o câmbio flutuante tá cumprindo seu papel muito bem", finalizou. O BC pode interferir para frear a cotação da moeda norte-americana injetando dólares no mercado, já que uma maior oferta da moeda norte-americana ajuda a desacelerar a desvalorização do real. (Poder 360)