Porto Alegre, 25 de novembro de 2024 Ano 18 - N° 4.270
Novo modelo de produção, em estudo pela Fetag/RS e a Lactalis do Brasil, tornando parceiros produtores gaúchos e indústrias, pode ajudar a baixar os custos de produção do leite e a recuperar o interesse dos pecuaristas pela atividadeProvavelmente antes do final de 2024, um evento reunindo a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag/RS) e a Lactalis, indústria de laticínios de matriz francesa, estabelecida no Estado, deve abrir caminho para um novo modelo de produção na cadeia leiteira. Inspirado na experiência da avicultura e da suinocultura, que praticam com sucesso o sistema de integração, no qual o produtor é parceiro da indústria e recebe insumos em troca da garantia de matéria prima, o novo modelo pretende baixar o custo de produção para dar estabilidade nos preços ao produtor.O diretor de Comunicação Externa, Assuntos Regulatórios e Corporativos da Lactalis do Brasil, Guilherme Portella, também presidente do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat), explica que o grande problema enfrentado pelo leite gaúcho é a falta de competitividade. Segundo ele, a perda competitiva está ancorada diretamente no alto custo que precisa ser bancado pelo produtor, o qual reflete no preço final pago pela indústria. "Pela influência do dólar, o preço do leite no Brasil é um dos mais caros do mundo. É mais caro que no Uruguai, na Argentina, na Nova Zelândia ou nos Estados Unidos", diz Portella.O modelo de contrato que está sendo estudado pela Fetag/RS e a Lactalis ainda não está completamente definido. “Vamos estipular balizadores de preços e oferecer ao produtor subsídios para que aumente o volume de leite produzido e seu potencial competitivo”, afirma. Esses incentivos virão na forma de assistência técnica e ração a baixo custo para o rebanho, por exemplo.Neste ano, durante a Expointer, a Lactalis anunciou o investimento de R$ 100 milhões em ampliações de suas plantas no Rio Grande do Sul. Conforme Guilherme, a empresa trabalha sempre na linha de sua capacidade máxima, para otimizar os custos industriais, Por isso, precisa de uma rede sólida de fornecimento de matéria prima, para atender, entre outras fábricas, a localizada no município de Três de Maio, onde são produzidos queijos e consumidos 1,5 milhão de litros por dia na produção.Setorialmente, Guilherme Portella diz que são observados momentos do ano em que há menos leite disponível, como nos períodos de entressafra. “Mas nos últimos se observou a chegada de mais laticínios ao Estado, o que também aumentou a procura por matéria prima”, acrescenta.O vice-presidente da Fetag/RS e coordenador da Câmara Setorial do Leite e Derivados da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Eugênio Zanetti, confirma que a produção de leite no Rio Grande do Sul não cresce há pelo menos 12 anos. Hoje, a média anual gira em torno dos 4,1 bilhões de litros, viabilizada por um número de produtores cada vez menor. O levantamento do setor, feito a cada dois anos pela Emater/RS-Ascar, e divulgado em 2023, durante a Expointer, apontava cerca de 33 mil produtores ainda na ativa, número este que já chegou a quase 100 mil.
“O maior problema que vemos é que a produção de leite sempre foi característica da pequena propriedade, e, em muitos casos, o principal sustento de muitas famílias da agricultura familiar. Essas famílias, quando precisam deixar a atividade por não ter mais condição de bancar os custos, têm muita dificuldade em migrar para outras culturas, como o milho e a soja. Acaba sendo inviável por causa da área que têm disponível”, analisa Zanetti. Tal situação, afirma o dirigente, cria um problema social para os municípios. “O dinheiro do leite, por tradição, movimentava o consumo local, o que vai deixando de acontecer”, lamenta.
O vice-presidente, entretanto, saúda como uma boa perspectiva para o setor a adoção da calculadora do leite, que vai remunerar o produtor com base não apenas na quantidade que oferece, mas, sim, considerando também a qualidade. Validada pelo Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do RS (Conseleite), a calculadora leva em conta o percentual de sólidos do leite – gordura e proteínas –, além da contagem bacteriana. (Fonte: Correio do Povo - Edição pelo SINDILAT/RS)
Em Novembro de 2024, os custos de produção diminuíram significativamente, impulsionados pela diminuição do preço das rações, enquanto o preço do leite aumentou.Apesar da queda na produção, devido a três anos consecutivos de seca e ao fenômeno “La Niña”, o setor leiteiro dá sinais de recuperação. Isto é indicado por dados divulgados pela revista Márgenes Agropecuários".Os custos totais, expressos em dólares oficiais de paridade, passaram de 2.961 US$/ha em nov/23 para 2.669 US$/ha em nov/24. Esta diminuição é explicada principalmente pelo menor custo da ração balanceada (que em 2023 era cara devido à validade do dólar agrícola).O preço do leite, por sua vez, passou de 0,36 para 0,42 US$/lt, razão pela qual os custos totais expressos em litros de leite diminuíram na comparação interanual de 8.255 para 6.336 lt/ha, refletindo a recomposição da renda leiteira e a redução nos custos totais.As perspectivas produtivas da Argentina mostram uma queda na produção em relação ao ano anterior, especialmente devido à seca extrema que afetou o país durante três anos consecutivos do fenômeno “La Niña”. Esse fenômeno climático, aliado a outros fatores, reduziu significativamente a produção.
No entanto, atualmente, com um contexto macroeconómico um pouco mais favorável para as explorações leiteiras e para a indústria leiteira, prevê-se uma possível recuperação. Embora o número de vacas diminua, espera-se uma melhoria no estado dos animais e na produção, o que ajudaria a reduzir o drop gap, que está estimado em 6,5% face ao ano anterior.
Em termos gerais, à medida que o ano avança, a produção continua abaixo dos níveis de 2023, especialmente no primeiro semestre do ano, onde tanto a seca como a inflação tiveram um papel determinante. Embora tenha sido observada uma melhoria no início da época alta, a falta de chuva continua a ser um desafio, afectando negativamente os níveis de forragem disponível para os animais.
Fonte: https://www.todoagro.com.ar via Portalechero
Produtores e parlamentares se mobilizam contra boicote da carne anunciado por Carrefour
Movimento de repúdio à decisão inclui desde interrupção de fornecimento à rede de hipermercados à instalação de comissão externa da Câmara dos Deputados
O boicote à carne do Mercosul sugerido pelo CEO da rede francesa Carrefour, Alexandre Bompard, reverteu-se em um movimento contra as lojas da marca no Brasil, unindo produtores e parlamentares, com o apoio até mesmo do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. As ações propostas, além de interrupção de fornecimento e de compras nos hipermercados, incluem a eventual instalação de uma comissão externa da Câmara dos Deputados.
Parlamentares ligado ao agronegócio se mobilizaram acompanhando a indignação dos produtores. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP-PR), apoiou que o setor de proteínas interrompa o fornecimento de carnes ao Carrefour e demais marcas do grupo no Brasil.
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diretor de Política Agrícola, pretende apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um requerimento para instalar uma comissão externa da Casa com o objetivo de “colocar o dedo na ferida” da rede de hipermercados.
Moreira diz que é preciso avaliar a conduta e as denúncias contra o Carrefour no Brasil. O deputado afirma que há antecedentes “graves” da rede no país, ligados a violações raciais, ambientais e trabalhistas.
No Senado, Tereza Cristina (PP-MS) apresentou um pedido para que o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, seja convidado a comparecer à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para “prestar informações” sobre o posicionamento da França contra um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, considerando manifestações tanto do presidente Emmanuel Macron durante a reunião do G20, no Rio de Janeiro, no início da semana passada, quanto de Bompard.
Origem da disputa
A disputa está relacionada com a oposição da França a concluir um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul – integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai –, em meio a protestos de agricultores franceses, que temem a concorrência sul-americana.
Na quarta-feira, 20, Bompard disse que a rede deixaria de vender carne procedente do Mercosul, em solidariedade aos agropecuaristas conterrâneos. Bompard também sugeriu que outras empresas adotassem a medida. O anúncio causou imediato repúdio no Brasil, ainda que o Carrefour tenha enfatizado que a decisão se restringia aos estabelecimentos franceses. O desconforto evoluiu desde então.
Interrupção de fornecimento
Na quinta-feira, 21, seis entidades do agronegócio brasileiro se manifestaram afirmando que, se o Mercosul “não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”. Na noite do mesmo dia, o ministro da Agricultura endossou o posicionamento. “Me surpreende a presidência local aqui no Brasil dizendo ‘não, nós vamos continuar comprando porque nós sabemos que tem boa procedência. Quem não quer comprar é a matriz lá, a França”, disse Fávaro.
O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União), se somou à indignação. “Do jeito que você me trata, eu posso também te tratar. Como cidadão, não vou mais comprar nas lojas deles”, disse Mendes em vídeo publicado na internet, na sexta-feira.
De acordo com a imprensa da região, conforme informou a Agência Estado, cerca de 150 supermercados Carrefour no Brasil teriam deixado de ser abastecidos com carne.
Por meio de comunicado, o Grupo Carrefour Brasil negou o desabastecimento. “Tal alegação, veiculada sem identificação de fonte, contribui para desinformação. A comercialização do produto ocorre normalmente nas lojas. Nenhuma loja está desabastecida”, acrescenta o texto.
Deixar de comprar
Ainda na sexta-feira, a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo distribuiu nota convocando empresários a se “engajarem” ao movimento.
“Somos mais de 500 mil empresas, apenas no Estado de São Paulo, que deixarão de comprar do Carrefour, enquanto insistir em desqualificar nossa carne, questionando uma qualidade comprovada globalmente. Solicitamos o engajamento e a adesão das empresas de hotelaria e de alimentação neste movimento, até que a varejista volte atrás deste posicionamento errôneo e desrespeitoso”, diz a entidade.
A medida se estende às redes Atacadão e Sam’s Club, que pertencem ao grupo francês. (Correio do Povo)
Jogo Rápido
Capacitação na Fetag-RS aborda emissão de Nota Fiscal Eletrônica
A Fetag-RS promoveu mais uma capacitação sobre a emissão da Nota Fiscal Eletrônica, antecipando a obrigatoriedade que entrará em vigor em 2 de janeiro de 2025. O treinamento, conduzido por técnicos da Sefaz e da Procergs, abordou o uso do aplicativo “Nota Fiscal Fácil”. Durante a capacitação, foram detalhadas as funcionalidades da ferramenta e esclarecidas dúvidas dos participantes. A Fetag-RS tem intensificado os esforços para preparar funcionários de suas regionais e sindicatos, capacitando-os a auxiliar os agricultores no uso do aplicativo e na emissão de notas fiscais eletrônicas de forma prática e eficiente. Além disso, a Federação tem dialogado com a Sefaz e a Procergs em busca de melhorias no sistema, considerando os desafios enfrentados pela agricultura familiar na adoção das novas exigências. Mesmo com essas dificuldades, a Fetag-RS orienta os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais a iniciarem o quanto antes o processo de adaptação, garantindo familiaridade com os recursos disponíveis e evitando transtornos futuros. (FETAG)