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26/12/2023

Newsletter Sindilat_RS

Porto Alegre, 26 de dezembro de 2023                                               Ano 17 - N° 4.052


Integração com a floresta para amenizar emissões

 Pecuarista de Augusto Pestana começou a adotar sistema silvipastoril há quatro anos,quando introduziu eucalipto em área de 18 hectares destinada à produção de leite, beneficiando os animais e mitigando os gases de efeito estufa
 
Uma das modalidades da chamada integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), os sistemas silvipastoris partem do princípio de que combinar árvores com áreas de pastagem se traduz em mais renda para as propriedades leiteiras. Os animais têm sombra no verão, ficam protegidos do vento no inverno e produzem mais. O meio ambiente também sai ganhando, pois as florestas fixam o dióxido de carbono, um dos vilões do efeito estufa, compensando ou neutralizando as emissões de metano liberadas pelo gado. O pecuarista Ederson Gehrcke, de Augusto Pestana, começou a implantar a técnica há quatro anos, com a introdução do eucalipto na área de 18 hectares destinada à produção de leite na fazenda. Foi a estratégia encontrada pela família para fazer frente aos custos crescentes da atividade.
 
“Ou a gente investia em um galpão de gado confinado ou abandonaria a profissão, porque não estava mais tendo lucro na propriedade”, relata Gehrcke. A fazenda, que abriga um rebanho de 85 bovinos da raça Jersey, entre os quais 42 vacas em lactação, produz 860 litros de leite por dia. No modelo agroflorestal, os animais, antes criados à base de silagem, hoje são alimentados com capim tifton e consomem menos concentrados. “Tínhamos uma produção média de 21 litros por dia por animal e as vacas estão produzindo a mesma coisa com o pasto, porém com um custo muito mais baixo. A gente vem notando uma diferença enorme na qualidade de saúde dos animais”, diz o produtor.
 
Para o futuro, Gehrcke planeja diversificar a renda do empreendimento rural com a instalação de uma queijaria na propriedade, além da produção de madeira e toras a partir da floresta plantada, hoje com mais de 1,8 mil árvores. Os bons resultados trazidos pelo sistema silvipastoril, afirma, tambémsão um incentivo para que as filhas Jaine Isabel Gehrcke, de 18 anos, e Nubia Kananda, 15 anos, permaneçam no campo. “Nossa mão de obra é muito menor, a gente consegue uma vida melhor para a nossa família”, afirma o pecuarista.
 
Nos últimos seis anos, o Rio Grande do Sul ampliou em 57% a área coberta por técnicas de ILPF, atingindo 2,2 milhões de hectares, de acordo com dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi-RS).Onúmero posiciona o Estado como o terceiro do país em áreas manejadas sob esses sistemas. “Mas somos o primeiro em proporção da área, porque o RS tem 31% das áreas com agricultura em sistemas integrados”, observa o zootecnista e professor Paulo César de Faccio Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Esse protagonismo, segundo Carvalho, está fortemente ligado à variedade de cultivos de verão e inverno desenvolvidos na região, o que possibilita uma ampla gama de combinações de integração, e às ações de pesquisa e difusão de conhecimento sobre o tema.
 
Entre essas iniciativas decisivas, Carvalho destaca o programa Juntos para Competir, conduzido pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul), pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RS) com o apoio da UFRGS. A parceria aplica no Rio Grande do Sul o Programa de Produção Integrada em Sistemas Agropecuários (PISA), voltado à pecuária leiteira, e o Integração Lavoura-Pecuária (ILP), focado na bovinocultura de corte.
 
Desde 2014, foram avaliadas 1,4 mil propriedades rurais participantes do projeto, após receberem consultoria técnica do programa de extensão da universidade ao longo de quatro anos. “E 95% delas, depois desse processo, estão entre os níveis bom e ótimo de sustentabilidade em todas as dimensões”, afirma Carvalho.
 
Para o professor, o programa ajuda a derrubar uma das grandes barreiras à implantação dos sistemas de integração, que é a falta de suporte adequado aos produtores. “A trajetória agrícola, não só no Brasil, como também no mundo todo, é de especialização. O técnico entende de arroz – ou soja – ou gado, mas não entende dos dois. (O sistema de integração) é mais complexo para montar, demanda muito conhecimento, e técnicos que transitem bem nas duas partes, que têm essa visão sistêmica, são raros”, observa. (Correio do Povo)
 



Boas práticas que favorecem a produção

Tecnologias aplicadas pelas fazendas, como o tratamento de resíduos, trazem economia a produtores e ampliam a capacidade do agronegócio de reduzir emissões de gases de efeito estufa e tornar-se cada vez mais sustentável

Se, para muitos pecuaristas, o esterco produzido pelos bovinos representa um dilema, para algumas propriedades leiteiras do Estado é sinônimo de eficiência ambiental e renda extra. Nessas fazendas, um processo chamado biodigestão transforma os dejetos em energia elétrica e térmica e ainda garante biofertilizante para a lavoura. Em atividade há duas décadas no município de Farroupilha, a Fazenda Trevisan é referência em reaproveitamento de resíduos da criação animal. Focada na raça Holandesa, a propriedade de 150 hectares reúne cerca de 750 animais, entre os quais 320 vacas em lactação, e produz 13 mil litros de leite por dia. A maior parte é processada na agroindústria de iogurtes e creme de leite que leva seu nome, e o excedente – em torno de 8 mil litros semanais – é destinado a outro laticínio da região.

O produtor Jean Carlos Trevisan, que administra o empreendimento rural com a família, conta que os primeiros biodigestores foram construídos há cerca de 13 anos. Hoje, três equipamentos do tipo geram 25% da energia elétrica consumida na fazenda e na sua indústria de lácteos, além de produzir fertilizante para as plantações de trigo, milho e aveia que fornecem a matéria-prima usada na alimentação do rebanho. “No início, a gente tinha criação a pasto. Com a chegada do inverno, muito rigoroso, os animais ficavam no meio do barro, a gente optou por construir um galpão e confinar. Depois, fez uma sala de ordenha nova, ampliou o número de animais e também o sistema de biodigestores, para comportar o crescimento”, detalha Jean.

Com a meta de duplicar a produção de leite e de derivados nos próximos três anos, a propriedade já planeja a aquisição de um quarto biodigestor, segundo o pecuarista. A quem deseja investir em um projeto semelhante, ele recomenda a opção por equipamentos que operem de forma autônoma e não exijam mão de obra especializada. “Não é algo tão complexo gerar biogás. Mas, para gerar energia elétrica, acaba tendo (a necessidade de) mais compressores, secadores de gás, gerador, vários equipamentos”, justifica. O investimento, garante Jean, é compensador no longo prazo. “O que é bonito de a gente olhar são os números, a parte que dá retorno de forma direta. A parte ambiental é difícil de monetizar, mas acaba sendo algo bem significativo”, avalia.

O manejo de resíduos da produção animal que dá visibilidade à propriedade de Farroupilha está entre as oito tecnologias propostas no Plano ABC+, programa do governo federal lançado em 2021 que visa estimular a chamada agropecuária de baixo carbono. Para reduzir as emissões de gases do efeito estufa do setor em 1,1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2eq) até 2030, a iniciativa prevê a adoção de abordagens sustentáveis em 72,68 milhões de hectares no Brasil – no Rio Grande do Sul, serão mitigadas 75 milhões de toneladas de CO2eq em 4,6 milhões de hectares no período.

Embora não sejam novidades, essas técnicas ganham relevância ainda maior ao final de um ano marcado por impactos das mudanças climáticas que, nas últimas décadas, foram antecipados em tom de profecia alarmante pelos cientistas. De norte a sul do país, as enchentes dramáticas no Rio Grande do Sul, a estiagem recorde na Amazônia e a onda de calor que em novembro fez a sensação térmica na cidade do Rio de Janeiro subir a 59,3 graus °C geraram o temor de que os fenômenos extremos se tornem o “novo normal”, evidenciando a urgência urgentíssima de uma reconfiguração das atividades humanas. A agropecuária é peça fundamental nesse contexto, pois carrega parte do peso das emissões com processos como a liberação de metano e resíduos pelos animais e o uso da terra.

Coordenador do Comitê Gestor Estadual d o Plano ABC+RS, o engenheiro florestal Jackson Brilhante, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), diz que o setor agropecuário tem um vasto potencial para a captura de gases causadores do aquecimento global e mitigação das emissões. Ele lembra que o Rio Grande do Sul foi pioneiro em ações de conservação do solo, como o sistema de plantio direto, outro dos pilares do programa federal. “Tivemos problemas com estiagem na safra de verão e, no inverno, o excesso de chuva na cultura do trigo, com várias doenças atacando (as plantas). 

Então, é de interesse da agricultura auxiliar nessa redução de emissões, porque o setor é também altamente vulnerável às mudanças climáticas”, destaca Brilhante. O coordenador da Comissão do Meio Ambiente da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Domingos Velho Lopes, observa que o tema esteve no centro dos debates da COP 28, a cúpula do clima da Organização das Nações Unidas realizada no mês passado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e concorda que as técnicas precisam avançar mais. Para Lopes, o momento atual sinaliza uma “grande oportunidade” ao agronegócio. “De todas as atividades econômicas, só o setor primário pode sequestrar carbono”, afirma.

As boas práticas, segundo Lopes, já estão no dia a dia do produtor rural, independentemente da cadeia produtiva a que está vinculado ou do seu porte. “Só que agora nós temos metodologia para quantificar isso. Temos de mostrar, principalmente para a população urbana, que nós somos a grande fonte mitigadora”, enfatiza. (Correio do Povo)

Leite/América do Sul
Tempestades extremas no Uruguai e na Argentina interromperam a atividade portuária em algumas regiões no último final e início de semana. Alguns estados brasileiros continuam a enfrentar condições extremas de seca. Os agricultores do Cone Sul se deparam com eventos climáticos desafiadores a nível regional. Se de um lado o Brasil tenta expandir sua produção interna de leite e fabricação de lácteos, de outro, as projeções sobre o rendimento das colheitas continuam caindo, fazendo com que o custo da alimentação animal vá para o sentido oposto, à medida que o verão se aproxima.

O comércio de produtos lácteos na região está mais fraco, como projetado para as últimas semanas do ano. Os compradores já estão abastecidos, mas a atividade comercial deverá retornar nas primeiras semanas de 2024.

Relatórios recentes sugerem que o interesse do Brasil por commodities lácteas da região, especialmente da Argentina, continuaram aumentando ao longo de 2023. Os mercados globais mostram variações, dependendo da commodity, mas, regionalmente, a limitação da produção de leite decorrente das situações de inclemências climáticas continua a influenciar as tendências do mercado regional. Fonte: Usda – Tradução Livre: Terra Viva


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Jogo Rápido

Câmara aprova projeto que regulamenta o mercado de carbono no Brasil
Carbono no Brasil - A Câmara dos Deputados aprovou uma proposta que regulamenta o mercado de carbono no Brasil (PL 2148/15). O texto cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), que estabelece limites para emissões e um mercado de venda de títulos. O relator, deputado Aliel Machado (PV-PR), propôs um texto que une projetos discutidos na Câmara a uma proposta já aprovada pelo Senado (PL 412/22). O projeto retorna ao Senado para análise das mudanças feitas pelos deputados. O texto faz parte da pauta verde aprovada neste ano, que inclui a exploração de energia eólica no mar (PL 11247/18) e a produção de hidrogênio verde (PL 2308/23). (Agência Câmara)


 

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