Porto Alegre, 22 de maio de 2023 Ano 17 - N° 3.907
Para Lactalis, líder do mercado nacional de lácteos, se consumo não aumentar na mesma proporção das compras no exterior, vai sobrar leiteUma nova crise está batendo à porta do produtor brasileiro de leite, na avaliação da gigante francesa Lactalis, líder do mercado nacional de lácteos. As importações de produtos do segmento estão crescendo devido à diferença de preços entre a matéria-prima local e a fornecida por Argentina e Uruguai, um movimento que deve pressionar as margens do setor a partir do mês que vem.O Brasil importou quase 70 mil toneladas de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga ou queijo) no primeiro quadrimestre deste ano, de acordo com informações da plataforma ComexStat, do governo federal. O volume é mais que o triplo das importações do intervalo entre janeiro e abril do ano passado, que somaram 21 mil toneladas.Também cresceram as importações de manteigas e outras gorduras derivadas do leite, de 1,04 mil para 1,55 mil tonelada, e de queijo e coalhada, de 7,5 mil para 12,4 mil toneladas.
Roberto Jank Jr, que é vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), afirma que as importações mensais não chegavam aos níveis deste ano desde 2016. “O Uruguai nunca mandou tanto leite para cá como nos últimos dois meses”, diz.
As importações de lácteos vêm aumentando progressivamente desde 2015, observa Natália Grigol, analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Em 2023, esse avanço está sendo mais significativo devido à redução da oferta interna de leite nos dois últimos anos, causada pela estiagem no Brasil e pela forte alta global das cotações dos grãos.
“Isso mudou a estrutura do setor, que não parece ter assimilado muito bem ainda. A indústria está enfrentando uma competição acirrada por fornecedores”, afirma Natália Grigol. Segundo a Abraleite, há cerca de 600 mil produtores profissionais - o que exclui quem produz para subsistência - e 80 mil produzem 50% do volume total.
De acordo com a analista, o quadro atípico deste ano tem reflexos sobre o movimento dos preços: as cotações subiram em janeiro, período em que normalmente deveriam estar mais baixas, e há risco de os valores caírem nos próximos meses, quando geralmente subiriam, devido às importações. “Observamos uma reversão da tendência”, diz.
Desafios
Patrick Sauvageot, da Lactalis, afirma que aumentar a produtividade do rebanho e a qualidade do leite no Brasil, especialmente se comparado a outros grandes produtores globais, ainda é um desafio estrutural a ser vencido. Porém, é preciso dar condições para que o setor consiga chegar lá.
O executivo defende que o governo interceda para impedir uma nova quebradeira do setor causada por recuos bruscos nos preços. “Seria importante colocar um limite nas importações”, diz. Ele avalia que o risco de um desequilíbrio com a intervenção estatal seria menor do que o de deixar o mercado como está.
Mas Jank, que é um dos maiores produtores de leite do país, e Natália Grigol não acreditam que o governo vá conseguir restringir as importações. “Essa medida implica muitas coisas, porque o Brasil também exporta produtos para a Argentina e Uruguai”, lembra o vice-presidente da Abraleite. (Valor Econômico)
Em meio ao encerramento da 44ª Expoleite e 17ª Fenasul, representantes do segmento pediram que recursos captados na venda do produto sejam liberados para ações de fomentoO pedido para que os cerca de R$ 30 milhões depositados no Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio Grande do Sul (Fundoleite) possam ser acessado para ações de desenvolvimento do setor esteve presente nos discursos do desfile dos campeões da 44ª Expoleite e 17ª Fenasul, no parque Assis Brasil, em Esteio. Representantes de entidades ligadas à produção do alimento destacaram a importância de que esse recurso angariado —é cobrado um valor por litro de leite comercializado — seja de fato utilizado.
Marcos Tang, presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês do Estado (Gadolando), pontuou que, apesar do montante acumulado, não é possível que seja repassado para fazer os cálculos do custo de produção do leite e o preço de referência, via Conseleite.
— Não temos tido as reuniões de Conseleite para dar o preço de referência, porque o elo produtor ficou com uma dívida para fazer esse cálculo — disse Tang.
Francisco Schardong, coordenador da Comissão de Exposições, Feiras e Remates da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), comparou o leite ao arroz, “os primos pobres da cesta básica”, ambos com taxas aplicadas à produção, mas que não retornam aos produtores.
— Precisamos rever. Ou serve para alguma coisa, ou se extingue — reforçou Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag).
A Secretaria da Agricultura informou no domingo (21) que o processo de liberação dos recursos do Fundoleite “tem evoluído, mas há observâncias administrativas e jurídicas que precisam ser superadas”. (Zero Hora)
Dia de Campo da Embrapa Pecuária Sul apresenta tecnologia para uma pecuária mais sustentável
O Dia de Campo “A Pecuária em Sistemas Sustentáveis de Produção”, realizado pela Embrapa Pecuária Sul na última semana, em Bagé, apresentou tecnologias e ferramentas que podem contribuir para alcance das metas do Plano ABC+RS. Para o Coordenador do Comitê Gestor Estadual do Plano ABC+RS, Jackson Brilhante, o Dia de Campo promoveu a capacitação de muitos produtores rurais que são os principais responsáveis em ampliar áreas do estado com adoção de tecnologias que visam o desenvolvimento de uma agropecuária com baixa emissão de carbono, ou seja, mais sustentável.
Jackson Brilhante também destacou a qualidade do conteúdo apresentado no evento em Bagé, os pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul apresentaram ao menos três das oito tecnologias que compõe o Plano ABC+RS: Práticas de Recuperação de Pastagens Degradadas, Sistemas de Integração e Terminação Intensiva. “A presença de mais de 500 pessoas no evento demonstra grande interesse do produtor gaúcho no conhecimento técnico para aumentar a produtividade, a eficiência e a resiliência dos sistemas de produção agropecuário frente às mudanças climáticas”, ressaltou.
Para o Chefe-geral da Embrapa Pecuária Sul, Fernando Cardoso, o evento foi uma importante oportunidade para produtores, técnicos e estudantes conhecerem algumas tecnologias que já podem ser aplicadas no campo, com retorno produtivo, econômico e ambiental. “E a pecuária tem um papel extremamente importante para a sustentabilidade, seja com a intensificação da produção ou em sistemas integrados com lavouras ou florestas”, relatou.
Em uma das estações do Dia de Campo, intitulada “Pasto 365: forragem o ano inteiro”, foram tratadas as estratégias para melhorar e qualificar a nutrição dos animais, bem como alguns aspectos relacionados a sistemas integrados entre pecuária e lavoura. Segundo o pesquisador da Embrapa Pecuária Sul, Danilo Sant’Anna, tecnologias como o Pasto sobre Pasto visam aumentar a oferta de alimentos aos animais e ampliar o número de dias de pastejo em uma área, e também propiciam outros ganhos ambientais, como a aceleração dos processos de melhoria do solo. Na mesma estação, o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Giovani Theisen apresentou resultados de mais de 10 de experimentos em integração lavoura e pecuária. Segundo ele, resultados mostram que com a utilização de animais na fase de pastagem ocorre uma melhora substancial dos solos, especialmente no incremento de matéria orgânica.
Outra estação apresentou as ações e pesquisas em melhoramento genético animal, que buscam identificar animais mais eficientes para diferentes sistemas de produção. Entre os trabalhos da Embrapa Pecuária Sul, o analista, Roberto Collares, apresentou as provas de avaliação de desempenho que são realizadas há mais de 20 anos no centro de pesquisa. De acordo com Collares, estas provas servem para identificar reprodutores com genética superior quando submetidos a um mesmo ambiente e tratamento, como a Prova de Avaliação a Campo (PAC) e a Prova de Eficiência Alimentar (PEA). Já a pesquisadora Cristina Genro ressaltou a nova prova que vem sendo realizada na Embrapa, Prova de Emissão de Gases (RS), que visa identificar entre reprodutores jovens aqueles que emitem menos metano por quilo produzido.
A recuperação de pastagens degradadas, em especial dos campos naturais do Sul, também foi enfocada, especialmente no controle do capim-annoni, uma planta invasora que se espalhou pelos campos e pastagens da região trazendo prejuízos econômicos e ambientais. Segundo o pesquisador Naylor Perez, para um efetivo combate é preciso aliar diferentes estratégias, como a aplicação seletiva de herbicidas, que pode ser feita pela máquina Campo Limpo, desenvolvida pela Embrapa e também com a enxada química, quando a infestação ainda é pequena. Além disso, o pesquisador salientou a necessidade de manter o campo natural ou pastagem plantada em boa quantidade e qualidade, por meio da fertilização e cuidados com manejo, impedindo assim a infestação desta planta invasora. “Sempre aconselhamos a prevenir para evitar que a infestação se alastre, seja com cuidados quando ainda há poucas plantas em uma área, ou impedindo sua chegada com ações como deixar novos animais em uma área de quarentena para não infestar a propriedade com sementes do annoni”, afirma Perez. (SEAPI)
Jogo Rápido
Mapa institui maio como Mês da Saúde Animal
Buscando promover uma mobilização nacional para fortalecer a participação e o engajamento do setor pecuário, bem como a conscientização da sociedade brasileira quanto à importância das ações de prevenção e acompanhamento das doenças animais, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou nesta sexta-feira (19) a Portaria nº 583 instituindo o “Mês da Saúde Animal”. A campanha nacional será executada durante o mês de maio de cada ano, sob coordenação da Secretaria de Defesa Agropecuária. O mês da Saúde Animal visa preservar a saúde humana, animal e do meio ambiente, numa abordagem da Saúde Única. A campanha busca, ainda, divulgar a qualidade sanitária e a inocuidade dos produtos pecuários brasileiros, ampliando a confiança do consumidor, o consumo e o acesso a mercados. “Com o avanço na ampliação das zonas livres sem uso de vacinação para febre aftosa e o aumento na dispersão mundial de outras doenças de alta relevância para a produção animal, faz-se necessário fortalecer o engajamento, o conhecimento e a participação dos produtores e de toda a sociedade na preservação da saúde animal. Assim, a criação do “mês da Saúde Animal” certamente promoverá essa maior proximidade com produtores rurais, médicos veterinários e trabalhadores do setor pecuário para a participação na vigilância e prevenção das doenças”, detalha a diretora substituta de Saúde Animal, Anderlise Borsoi. A programação do mês da Saúde Animal incluirá a realização de campanhas de comunicação e publicidade em nível nacional, estadual e municipal, atividades de caráter informativo e educativo e ações de atualização dos cadastros dos estabelecimentos rurais e das explorações pecuárias junto aos serviços oficiais de saúde animal. Acesse a portaria na íntegra clicando aqui. (MAPA)