Porto Alegre, 17 de julho de 2021 Ano 15 - N° 3.459
Forrageiras ganham espaço
Há 20 anos tendo na atividade leiteira sua principal fonte de renda, o produtor Volnei Schreiner, de Victor Graeff, na Região do Alto Jacuí, diz ter mudado suas estratégias para fazer frente aos custos. Dos 20 hectares da propriedade, onde mantém 32 vacas em lactação, mais da metade são destinados para a produção de alimentos para o rebanho. O produtor, associado à CCGL, consegue uma média diária de 24 litros de leite por vaca, mesmo tendo reduzido a suplementação dos animais de 7 para 4 quilos por dia. “Com boa oferta de pasto, consigo diminuir a parte proteica da ração, de 22% para 18%, o que a barateia”, raciocina. “Mas é bom lembrar que não existe criar gado de leite eliminando a suplementação”, ressalva.
Neste ano, foram plantados na fazenda – onde trabalham ainda a mãe e o pai de Volnei, Ernani e Gisela; a esposa, Nêmora; e os filhos gêmeos, Bruno e Gabriel – 9 hectares de pastagens e 6 hectares de milho silagem. “Aumentamos em 3 hectares a área de pasto e em 1 hectare a de milho”, relata o produtor. Schreiner conta que nos últimos dois anos a produção de milho sofreu com a falta de chuva, os estoques de alimento da família para o gado diminuíram e foi preciso voltar a práticas que haviam sido deixadas de lado na propriedade, como o plantio do triticale para a silagem de inverno.
Além disso, a propriedade também tem feito estoque de uma mistura de resíduos de aveia, azevém e milheto para oferecer no caso da escassez de milho. “Mas produzir pasto não está fácil”, reclama Schreiner. De acordo com o produtor, os custos de adubação das áreas de pastagens subiram mais de 50% de um ano para o outro. “No ano passado gastei R$ 2,15 mil pela tonelada de adubo e neste ano R$ 3,68 mil”, compara.
“Na ureia, o custo subiu de R$ 1,67 mil para R$ 2,99 mil.” Mesmo assim, ele elogia a assistência que recebe da cooperativa. “Os agrônomos e os veterinários nos ajudam muito, indicando as melhores cultivares e mostrando como montar a melhor dieta para os animais”, conclui.
APOSTA EM OUTROS GRÃOS E CULTIVARES MAIS NUTRITIVAS
Assegurar a produção média de 850 litros de leite por dia diante da alta dos custos com alimentação do rebanho tem sido um desafio para o produtor Jonas Leonardo Fetter, de Augusto Pestana, no Planalto Médio. Seu plantel, predominantemente da raça Holandesa, é composto por 34 vacas em lactação, sete vacas secas e mais 42 novilhas em fase de desenvolvimento. A produtividade das vacas gira em torno dos 25 litros por dia, o que é considerado excelente na alimentação com base no pasto.
“Para enfrentar essa crise a gente foi diminuindo gradativamente a ração, em quantidade e em índice de proteína”, explica. Cada animal, que chegava a receber 10 quilos de suplementação por dia, hoje consome de 5 a 6 quilos. O concentrado também teve o índice de proteína diminuído de 22% para 18%. “Fomos ajustando a dieta para fazer a melhor economia e a situação só não fica mais difícil pela quantidade e pela qualidade do nosso pasto”, relata.
Fetter explica que na propriedade, no distrito de Linha São João, onde divide as atividades com a esposa, Nadine, são reservados 30 dos 50 hectares para o plantio de forrageiras, entre elas o azevém e as aveias de inverno e verão. As dificuldades para conseguir milho silagem e o preço do milho fizeram com que o produtor optasse por ter o mínimo do cereal na oferta de comida para os animais, investindo em cultivares de pasto mais nutritivas e em outros grãos, como o triticale.
“Com apoio da assistência técnica da Cooperativa Santa Clara, melhoramos a qualidade do nosso pasto investindo em cultivares mais nutritivas, como a aveia ucraniana”, detalha o produtor. Além do alto teor nutricional, a aveia ucraniana tem vantagens produtivas, apresentando o dobro do volume da aveia preta comum, cobertura de solo e capacidade para até oito cortes. Fetter não viu necessidade de ampliar a área plantada e diz que a hora é de ser “cauteloso” para equilibrar o negócio baseado no leite. (Correio do Povo)
Leite A2 já tem mercado de R$ 100 milhões
Em meio a um cenário desafiador para a produção de leite — com a alta nos custos de produção e a falta de chuvas que afetam pastagens —, a família Jank, proprietária da Fazenda Agrindus, o quinto maior produtor de leite no Brasil, tem apostado em um tipo de rebanho ainda incipiente no país, que tem trazido ganhos para o negócio: o de vacas a2a2. Com genética diferente da convencional, esses animais produzem leite que o corpo humano possivelmente digere com mais facilidade.
A matéria-prima foi descoberta nos anos 1990 e lançada comercialmente na Nova Zelândia, um dos países líderes em produção de leite, em 2003. Depois da queda da patente do produto, em 2015, o leite A2 passou então a ganhar o mundo também pelas mãos de outros produtores.
A diferença do A2 para o leite convencional é a proteína beta-caseína A2, a mesma encontrada no leite materno, conta o empresário Roberto Jank Jr., diretor da Agrindus, que vende leite e derivados com a marca Letti A2.
Em 2020, o mercado global do leite A2 e seus derivados foi avaliado em US$ 8 bilhões, segundo a empresa canadense Precedence Research. Para 2030, a projeção — “consistente”, avalia o empresário — é de US$ 25 bilhões.
O consumo de leite mais facilmente digerível tem crescido em países como a China e os Estados Unidos, que usam a matéria-prima em fórmulas infantis. No Brasil, a Agrindus é a precursora em um segmento ainda bastante restrito — avaliado, por ora, em cerca de R$ 100 milhões anuais, o nicho representa menos de 1% do mercado de leite. São poucos os produtores no país, e a produção ocorre em fazendas verticalizadas, com rastreabilidade sobre a origem.
Em resposta a uma solicitação da entidade setorial Abraleite, o Ministério da Agricultura aprovou o leite de vacas com essa genética. Com o sinal verde, a Agrindus passou a vender os produtos, em outubro de 2018.
“O ministério forneceu um selo de reconhecimento de produto proveniente de vacas a2a2, mas ainda falta a Anvisa terminar o estudo sobre a capacidade de digestão para que possamos incluir essa informação no rótulo”, disse o empresário.
Atualmente, as embalagens informam apenas que o leite é proveniente de animais com essa genética, e a Agrindus investe em comunicação via site e redes sociais, além de trabalhar em uma aproximação com pediatras e nutricionistas. Em outros países, há na rotulagem a identificação de “digestão mais fácil”.
Com a aposta, a companhia tem conseguido ganhar cerca de 10% a mais em preço no nicho dos leites A. Isso permitiu-lhe ampliar sua receita no primeiro semestre deste ano em 15% por hectare, para R$ 100 mil por área.
De acordo com Jank Jr, a Agrindus quer abraçar consumidores de diferentes classes de renda. Nos municípios de Descalvado e São Carlos, por exemplo, onde, de acordo com o empresário, as pessoas valorizam muito o leite fresco, a bebida é vendida em saquinhos de plástico, com valores mais acessíveis.
“Apostamos em um conceito que é reduzir o máximo possível o processamento”, conta. Jank explicou, ainda, que as genéticas distintas dos animais — tanto a a2a2 quanto a a1a1 das vacas que produzem o leite convencional — nada tem de processos de transgenia. “São adaptações ao ambiente, mudanças naturais que ocorreram nos animais”, pontuou. (As informações são do Valor Econômico, adaptadas pela Equipe MilkPoint)
Quais as oportunidades para os ingredientes lácteos?
A nutrição para mulheres grávidas e lactantes é um mercado conhecido, embora pouco explorado e em expansão. O número de lançamentos de produtos está aumentando consistentemente a cada ano. Essa tendência pode ser encontrada em todo o mundo e a Ásia é a região onde a demanda é mais alta.
Além dos mercados de nutrição tradicional já em expansão, a nutrição materna parece ser um mercado repleto de oportunidades, no qual os ingredientes lácteos definitivamente têm um lugar.
O mercado de nutrição materna está em alta e o número de lançamentos aumentou mais de 40% desde 2013. Embora a demanda seja alta em todas as regiões do globo, a Ásia é o país com demanda maior, sendo responsável por 40% dos lançamentos de produtos.
Vários fatores contribuem para essa tendência. Em primeiro lugar, a noção de “1.000 dias” — desde a concepção até o segundo aniversário de uma criança — é cada vez mais reconhecida. Este é um período crucial no desenvolvimento do bebê, onde uma boa alimentação é especialmente importante. Os pais querem o melhor para o seu bebê e isso significa começar cedo, com uma nutrição ideal para a gestante.
Além disso, rendimentos mais elevados nas economias emergentes da Ásia (China e Sudeste Asiático em particular) e a redução no número de filhos por família são fatores que motivam as famílias a gastar mais com o cuidado e alimentação dos filhos que têm, bem como as mães deles.
Paralelamente ao crescimento da demanda, as expectativas se diversificam e a oferta se amplia. Há maior potencial de inovação agora do que em qualquer outro momento, e para o fornecimento de novas soluções nutricionais que são mais claramente adequadas para as mães durante e após a gravidez.
Dada a gama limitada de produtos de saúde materna atualmente no mercado, esses consumidores estão em busca de mais inovação. Anteriormente, as mulheres grávidas e amamentando tinham apenas uma gama limitada de produtos lácteos ou leite em pó à sua disposição. Agora, infusões especiais, barras de cereais e bebidas foram desenvolvidas especificamente para esse alvo.
Os formatos em movimento são cada vez mais oferecidos e uma atenção especial é dada aos produtos naturais. Isso significa bebidas à base de plantas ou sucos enriquecidos com ingredientes funcionais, por exemplo. O sabor também é um foco importante, resultando em produtos como biscoitos enriquecidos com proteínas e minerais ou bebidas de chocolate enriquecidas com proteínas.
Por fim, em conjunto com essa tendência crescente, as mães buscam formas de melhorar sua saúde física e mental. A saúde mental é, sem dúvida, um fator significativo na saúde geral das mães durante um período de grandes mudanças. Pode-se pensar em produtos que estimulem a lactação ou que ajudem as mães a lidar com a fase pós-natal.
Há maior potencial de inovação agora do que em qualquer outro momento, e para o fornecimento de novas soluções nutricionais que são mais claramente adequadas para as mães durante e após a gravidez.
Atualmente, as previsões de crescimento para o mercado de fórmulas infantis preveem uma pequena desaceleração (cerca de 1% de crescimento anual até 2024). Expandir a base de clientes visando os pais de maneira diferente pareceria, portanto, uma jogada inteligente.
Além disso, o aleitamento materno é cada vez mais incentivado, e com razão. Além do impacto na demanda por produtos de nutrição infantil, a nutrição das mães provavelmente assumirá um significado totalmente novo, tanto durante a gravidez quanto durante a amamentação.
Os fabricantes de nutrição infantil, sujeitos a diretrizes que restringem cada vez mais a promoção de produtos e marcas, perceberão que esse mercado voltado para as mães está, pelo menos por enquanto, menos regulamentado e que a comunicação voltada para a melhoria da nutrição ainda é possível. Estender a mão para mulheres grávidas e amamentando também é uma grande oportunidade para aumentar o reconhecimento e a fidelidade à marca.
Um exemplo de produto que atende a esse mercado é o Prolacta, da Lactalis Ingredients, uma proteína natural obtida diretamente do leite por meio de um processo suave que protege as qualidades nutricionais. Rico em aminoácidos essenciais, o Prolacta é de fato mais rico em triptofano do que uma proteína sérica clássica.
O triptofano é o precursor da serotonina e da melatonina, neurotransmissores com efeito sedativo no cérebro. Portanto, produzem uma sensação de bem-estar. Contendo até 40% mais triptofano do que uma proteína sérica clássica, o Prolacta é uma fonte de proteína que pode ser incorporada em fórmulas nutricionais. (As informações são da Lactalis Ingredients, traduzidas pela Equipe MilkPoint)
Jogo Rápido
Análise aponta impacto no RS
Análises feitas em folhas de milho em 97 municípios do Estado comprovaram enfezamento das plantas pela presença da praga cigarrinha-do-milho. De 109 amostras examinadas, 44% deram positivo para enfezamento pálido e 4% para enfezamento vermelho. Os resultados foram fornecidos pelo programa nacional de monitoramento, do Mapa, do qual participam Emater e Seapdr. (Correio do povo)