Porto Alegre, 30 de maio de 2019 Ano 13 - N° 2.990
Novas regras para o leite elevarão custos na cadeia produtiva
Criadas para aumentar a qualidade e a durabilidade do leite, as instruções normativas 76 e 77 entram em vigor nesta quinta-feira no país ainda gerando dúvidas na cadeia produtiva. Embora não tragam mudanças para os consumidores, as novas regras ampliam exigências que deverão pesar no bolso das indústrias e dos produtores. Do ponto de vista da indústria, duas mudanças preocupam. A primeira é a exigência de que a matéria-prima chegue ao laticínio com até 7ºC - com tolerância até 9ºC. Até então, o limite era 10ºC. Para que isso aconteça, o produtor deve entregar o leite a 4ºC. O problema é que isso depende de uma série de fatores, como a qualidade da energia elétrica nas propriedades - para manter as temperaturas nos tanques de armazenamento do leite -, e envolve até mesmo o fato de que o produto é coletado em diferentes fazendas. "Em quais circunstâncias será aceito esse limite?", questiona Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindilat do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat).
Segundo ele, não há um dado preciso, mas estima-se que metade dos produtores ainda tenha que fazer ajustes para se adaptar às normativas. Outra novidade é a definição de um limite de contagem de padrão em placas (cpp). O indicador permite saber qual o teor da presença de bactérias em uma amostra de leite, e o limite determinado é de 900 mil unidades formadoras de colônias por ml (UFCs). O problema, neste caso, é o transporte. Muitas vezes a carga leva até 12 horas para chegar à indústria e, nesse meio tempo, esquenta, formando um ambiente ideal para a proliferação de bactérias. Darlan destaca que, para garantir que o limite seja observado, as indústrias poderão ter que alterar rotas de coleta. Para as indústrias que ultrapassarem esse limite, autos de infração poderão ser emitidos. "Como a maioria ainda não atingiu esse limite, que é novo, as indústrias estão apreensivas". Ele defende que adiar a cobrança para o prazo de um ou até dois anos daria tempo ao segmento para adequação. O Ministério da Agricultura deve se manifestar até o dia 30 sobre essa demanda, disse Palharini. Para que esse limite seja alcançado, o produtor terá que entregar o leite com 300 mil ufcs por ml.
O produtor que entregar a matéria-prima três meses seguidos acima desse limite pode ter o fornecimento suspenso. "Não acho que isso ajude a garantir a qualidade. O produtor vai buscar outra indústria que não tenha SIF para vender esse produto, pois depende desses recursos para se sustentar", avaliou Thiago Martins, assessor-técnico da CNA. Para ele, a normativa deveria determinar que as empresas orientassem esses produtores em vez de suspender as aquisições. As normativas, contudo, estabelecem que as indústrias terão que elaborar um plano de qualificação para os produtores. "Para quem já oferece assistência técnica ao produtor, isso será mais fácil. Do contrário, será mais um custo", pondera Palharini. As indústrias também deverão realizar análises de resíduos de antibióticos em amostras uma vez por mês. "É um custo que as empresas não tinham antes", afirmou Palharini. Segundo ele, isso representaria um aumento de R$ 300 mil para os laticínios gaúchos. "Mas isso também é investimento, pois evita o descarte de produtos fora do padrão".
Outra alteração prevista é a proibição do uso de tanques de imersão - no qual a temperatura do produto é mantida/reduzida em latões submersos em água gelada. Embora a maioria dos produtores trabalhe com tanques de expansão, isso representará um custo para aqueles que tiverem que migrar. Um tanque com capacidade de 500 litros custa de R$ 5 mil a R$ 9 mil. (Valor Econômico)
O que muda com a entrada em vigor das novas regras de qualidade do leite
Entram em vigor nesta quinta-feira (30) duas normativas referentes a padrões de qualidade do leite processado no país. Depois de seis meses até a vigência, as novas regras (IN 76 e 77) trazem mudanças importantes nos processos da relação entre empresas e produtores.
— Tudo aquilo que é para aperfeiçoamento do setor, é bem-vindo. Vai melhorar nossa competitividade porque se tenho matéria-prima de qualidade, consigo dar maior vida de prateleira ao produto — reconhece Alexandre Guerra, presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat).
Ainda assim, diz que haverá muitas dificuldades das empresas em cumprir com exigência nova, do limite de 900 mil unidades por mililitro na contagem bacteriana total no recebimento do leite cru, na indústria:
— Nos testes feitos, cerca de 80% dos laticínios no Brasil não atingiram esse patamar. A indústria começa a trabalhar sabendo que o índice não será atingido. Por isso, entendíamos que deveria haver período transitório.
E a dificuldade não é reflexo de má vontade, garante o dirigente. É que o recolhimento de volumes menores e mais fracionados no Brasil, em relação a outros países usados como referência, impacta diretamente a dificuldade de chegar com o produto na plataforma de recebimento com essa contagem.
Auditora fiscal federal agropecuária do Ministério da Agricultura no Estado, Milene Cristine Cé reforça que o prazo para a entrada em vigor serviu justamente para que pudessem ser feitas as adaptações necessárias para a preparação:
— Tem muita gente boa que já está adaptada, tanto na indústria quanto nas propriedades rurais.
Os parâmetros cobrados são de qualidade, permitindo maior durabilidade e melhor sabor. O não atingimento não oferece riscos à saúde de consumidores.
O que muda
• Contagem Bacteriana (CBT) na Indústria: limite no recebimento do leite cru será de 900 mil unidades por mililitro.
• Descarte de produtores: leite cru coletado nas propriedades deve ter médias geométricas de contagens de no máximo 300 mil unidades formadoras de colônia por mililitro. Índices acima em três trimestres sequenciais, levam à suspensão da coleta.
• Temperatura do leite: 7°C na indústria, podendo chegar a 9°C em casos excepcionais.
• Capacitação: empresas precisarão adotar planos com qualificação de fornecedores. (ClicRBS)
Leite/América do Sul
As condições climáticas favoráveis melhoraram a produção de leite nas fazendas em todo o continente, e as temperaturas continuam caindo. Além disso, o clima seco estimulou a colheita de grãos, oleaginosas e algodão na Argentina.
No Brasil, chuvas espalhadas promoveram o crescimento de grãos imaturos de milho e algodão. Existe relato de muitas fazendas, sobre o alívio nos custos da alimentação concentrada, bem como a melhoria na qualidade das forragens. Os preços do leite, atualmente, estão mais equilibrados e alguns produtores estão conseguindo melhorar suas receitas, recuperando as perdas anteriores.
A produção de leite vem aumentando no Cone Sul. Ao contrário de algumas semanas atrás, o volume recebido nas indústrias já pode ser destinado à produção de queijo, manteiga, iogurte e doce de leite. Desta forma, as exportações de queijo, manteiga e leite em pó, dentro e fora do bloco têm sido muito mais ativas, dentro e fora do Mercosul, em comparação com o primeiro trimestre do ano em curso.
Enquanto isso, uma delegação de empresários chineses, visitaram o Uruguai em busca de possíveis investimentos. A delegação também se mostrou interessada em importar produtos lácteos do Uruguai, especialmente leite em pó integral. (Usda – Tradução Livre: Terra Viva)
Rússia recupera junto à OIE status de área livre de febre aftosa sem vacinação
O Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária da Rússia (Rosselkhoznadzor) anunciou que o país recuperou o status de área livre de febre aftosa sem vacinação. De acordo com a nota emitida no dia 21 de maio, a Organização Nacional de Saúde Animal (OIE) reconheceu que o país cumpre todos os requisitos necessários para conquistar o status sanitário. (As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)