Porto Alegre, 20 de dezembro de 2018 Ano 12 - N° 2.884
Startups gaúchas se destacam nacionalmente na criação de soluções tecnológicas para a cadeia produtiva do leite
Utilizar soluções tecnológicas para auxiliar os produtores de leite no manejo das vacas e, consequentemente, reduzir custos e agilizar o trabalho nas propriedades, tem se tornado uma tendência do setor. O Desafio das Startups competição que integrou o Ideas for Milk 2018, evento promovido pela Embrapa Gado do Leite, premiou três startups que têm como atuação principal simplificar a vida no campo e na indústria. Entre elas, duas gaúchas se destacaram na competição.
Para o secretário-executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), Darlan Palharini, é indispensável reconhecer essas iniciativas e torná-las cada vez mais acessíveis para os produtores de leite e a indústria. "O setor lácteo está permanentemente em um processo de modernização e isso passa diretamente pelo investimento em tecnologia", afirmou Palharini, que participou da escolha dos vencedores.
"Traduzir a opinião das vacas." Este é o principal objetivo da CowMed AS, startup criada pelos irmãos Leonardo e Thiago Guedes que, atualmente, conta com uma equipe de seis especialistas. Para isso, a empresa desenvolveu uma coleira capaz de mensurar os principais parâmetros comportamentais relacionadas à saúde e à reprodução dos animais. A tecnologia pode ser aplicada individualmente ou em lotes e foi pensada para pequenas, médias e grandes propriedades leiteiras.
Os dados são coletados por antenas e enviados para a nuvem, onde a ferramenta VIC (Virtual Interpreter of Cows) analisa os animais e emite alertas para os produtores, que vão desde sinais sobre o comportamento do cio até a indicação do melhor horário para realizar a inseminação. O produtor recebe as informações coletadas pelo programa por meio de software web de monitoramento ou aplicativo mobile. É possível comprar a tecnologia ou adquirir um plano de pagamento mensal.
De acordo com os desenvolvedores do projeto, o monitoramento dos animais permite obter uma pecuária mais precisa. Além disso, esse monitoramento pode servir de base para criar ferramentas que potencializem a produtividade. A empresa conta com um portfólio de mais de 15 mil animais monitorados em 11 estados brasileiros e mais de 30 milhões de horas de comportamento animal. A ideia rendeu para a equipe o segundo lugar no Desafio das Startups do Ideas for Milk 2018.
Se a CowMed SA focou no comportamento das vacas, a Startup Z2S Sistemas Automáticos levou conhecimentos da engenharia elétrica para o campo para auxiliar na limpeza e higienização da produção de leite. O engenheiro eletricista Elias Francisco Sgarbossa projetou em seu trabalho de conclusão de curso da faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade de Passo Fundo (UPF), com o apoio da Agência de Inovação Tecnológica da (UPF), um sistema automático para limpeza de ordenhadeiras canalizadas. O ROV funciona automaticamente e funciona em horário programado, sempre 30 minutos antes da ordenha.
Em 2017, a startup foi incorporada ao UPF Parque e, no final de 2017, foram anexados ao portfólio de serviços da Z2S mais dois equipamentos de limpeza e higienização. O SALT é responsável pela limpeza de tanques de resfriamento de leite e o ROVTL auxilia os produtores na higienização entre ordenhadeiras e transferidores de leite. Os sistemas funcionam a partir de um microcontrolador com firmware embarcado, escrito em linguagem C e podem ser integrados ou serem utilizados de forma independente. Todo o processo ocorre de maneira automática, incluindo o controle e o monitoramento de temperatura, dosagem de produtos químicos e acionamento dos motores.
O sistema ROV nasceu de uma demanda particular de Sgarbossa. Filho de produtores de leite, o engenheiro eletricista notou que a família levava muito tempo realizando o processo de limpeza da ordenhadeira. A partir disso, iniciou testes do protótipo na fazenda e o resultado foi surpreendente. Em um ano, o equipamento proporcionou redução de 87% na Contagem Bacteriana Total (CBT) do leite, atingindo níveis inferiores a 2mil UFC/ml.
Além disso, a sustentabilidade também foi ampliada na produção da fazenda, tendo em vista que o equipamento reduziu em 50% o consumo de detergentes e 20% o consumo de água. Os engenheiros eletricistas Adriano Luis Toazza e Charles Bortolanza também integram a startup que ficou em terceiro lugar do Desafio das Startups da Ideas for Milk 2018. (Assessoria de Imprensa Sindilat)
Depois da retração no primeiro semestre, o PIB gaúcho teve aumento expressivo no terceiro trimestre, com crescimento de 3,8%. A economia nacional, também positiva, evoluiu 1,3%. Os dados foram divulgados ontem pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em coletiva na Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG). A Indústria é o setor gaúcho que mais cresceu no comparativo entre o terceiro trimestre de 2018 e igual período do ano anterior: 11,2% do valor adicionado. Variações positivas também na Construção Civil (4,8%) e na Agropecuária (1,0%).
Já o setor de Serviços teve declínio de 0,7%. A variação acumulada do PIB regional em comparação à do país em 2018 evidencia que o Estado começa a se aproximar do rendimento Brasil, com acumulado de 0,7% de janeiro a setembro, enquanto o PIB Brasil registra avanço de 1,1% no ano. Para o coordenador de pesquisas da Fipe, Eduardo Zylberstajn, são resultados que sinalizam retomada cíclica da pior recessão que o país já enfrentou como República. "Os números evidenciam que há espaço para, no mínimo, termos uma retomada cíclica do crescimento em termos nacionais.
Já em 2019, dependendo das medidas de ajuste que sejam tomadas, há expectativa de que o crescimento se torne realmente continuado." A Fipe sinaliza para 2019 divulgações mensais do PIB regional. "Nossos indicadores não serão uma caixa-preta", disse Zylberstajn, prometendo detalhar metodologia dos indicadores previstos no contrato com a Fipe. O trabalho será feito com o Departamento de Economia e Estatística (DEE) da SPGG. Para Alfredo Meneghetti Neto, diretor do DEE, "o debate e a troca de ideias só tende a qualificar os dados". O governo, via SPGG, retomou a divulgação dos indicadores a cargo da Fipe. A publicação foi paralisada em razão de liminar, cassada após recurso interposto pelo Estado e pela Fipe na Justiça. "Esperamos que o processo tenha continuidade em 2019, pois esse trabalho é relevante para promover as políticas públicas que o RS necessita", disse o titular da SPGG, Josué Barbosa. (Correio do Povo)
Expectativas do agro enfrentarão obstáculos
Estudiosos do comércio internacional não acreditam que as sinalizações feitas por integrantes do governo federal eleito à cadeia produtiva rural, de mudanças nas relações com o Mercosul, serão concretizadas com facilidade. Um desses casos é o do leite. Nesta semana, em reunião com a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, representantes do setor pediram o estabelecimento de cotas de importação, para evitar que volumes exagerados entrem no país, e ficaram animados, por terem ouvido que o assunto não pode ser "negligenciado" e porque, em outras ocasiões, a interlocutora já defendeu a revisão do acordo com o bloco.
O coordenador do Grupo de Pesquisa CNPq Geopolítica e Mercosul e professor da curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Charles Pennaforte, observa que é viável estabelecer cotas e taxas, ou proibir a importação, mas adverte que isso vale para ambos os lados. Pennaforte considera que o caminho não é criar medida protecionista e "clima de rivalidade", mesmo que se saiba que o Brasil está em desvantagem na comparação dos custos de produção com os países vizinhos. Defende ainda que o caminho não é revisar o Mercosul, mas fortalecê-lo. "Se joga em cima do Mercosul toda má sorte sobre o que vem ocorrendo em termos de comércio", diz. "Mas qualquer passo a ser dado tem que ser muito bem avaliado tecnicamente, por pessoas que realmente tenham conhecimento aprofundado do assunto", sugere.
O professor do Departamento de Economia da Unijuí, que estuda negociações comerciais multilaterais, Argemiro Brum, não acredita que a ministra tenha "tanta força e condições políticas" para proibir a importação ou estabelecer taxas. Ele sustenta que seria mais fácil para o Brasil propor alguma medida se conseguisse provar que há práticas irregulares do lado uruguaio, como dumping ou triangulação comercial. "Talvez, o melhor caminho seja uma conversa entre os dois países, mas nada acontece do dia para a noite".
Ao mesmo tempo, o presidente da Comissão de Leite na Federação da Agricultura (Farsul), Jorge Rodrigues, afirma que o país deve tomar uma medida urgente. "O Ministério da Agricultura também é do Abastecimento e precisa tomar providências para controlar o abastecimento e a demanda interna", cobra, ao enfatizar que o produtor vive uma "situação crítica". O presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, diz que o uso de cotas de importação geraria previsibilidade para o setor. Lembra que em outubro e novembro a entrada de lácteos, principalmente da Argentina, saltou 58% na comparação com os primeiros nove meses do ano. Também disse que este "exagero" desestabiliza a cadeia no Rio Grande do Sul, que já concorre em nível de desigualdade por conta dos preços insumos. (Correio do Povo)
LEITE LIVRE
Bruno Girão, CEO da Betânia Lácteos, líder da indústria leiteira do Nordeste, explica: o Brasil teve neste ano grande safra de leite. No Ceará, a produção subiu 17% e o consumo desceu 8%. Diante da excessiva produção, a indústria do Sul e Sudeste manda para o Nordeste o seu excedente, forçando a baixa do preço (sábado, 15, um litro de leite integral, produzido no Ceará, custava R$ 2,56). É um fato produzido pela concorrência do livre mercado. Mas o presidente da Faec, Flávio Sabóya, preocupa-se com o pequeno produtor, responsável por 75% do leite produzido no Ceará. "Ele está sendo prejudicado, pois o preço do que ele produz desabou". Por isto, Sabóya entregou ao governador Camilo Santana um documento no qual pede um aumento da alíquota do ICMS incidente sobre o leite importado de outros estados ou países. Neste momento, a indústria cearense tem, estocados, 20 milhões de litros de leite longa vida. (Fonte Diário do Nordeste)