Porto Alegre, 28 de junho de 2018 Ano 12 - N° 2.766
A gigante Nestlé prepara-se para lançar sua primeira linha de leites orgânicos produzidos no Brasil até junho de 2019. A inovação é resultado de projeto piloto inédito iniciado pelo Brasil com 35 produtores na região de Araraquara, interior de São Paulo. A ação foi detalhada pelo especialista de região leiteira da Nestlé Brasil, Agaciel Fiorentin, na oficina Produção Orgânica de Leite e Laticínios, realizada na tarde desta terça-feira (26/6), durante o 6º Fórum Itinerante do Leite, em Santa Rosa. Os tambos selecionados para o projeto operam, juntos, com 30 mil litros de leite/dia e recebem de 70% a 80% a mais pelo litro em relação ao produto convencional. O pagamento diferenciado é regido por contrato de 24 meses e ocorre desde o momento em que o produtor ingressa no programa de migração. A atual legislação prevê que o processo de conversão do solo da propriedade e do rebanho leve 18 meses, mas já há previsão de reduzir esse prazo para 12 meses.
Segundo Fiorentin, o leite orgânico foi um desafio lançado pela Nestlé a suas subsidiárias de forma a atender à crescente demanda por alimentos mais saudáveis e sustentáveis. Há pouco mais de um ano, o Brasil aceitou a provocação e vem desenvolvendo o projeto, que atende à rigorosa legislação que rege os produtos orgânicos no Brasil. Para ser considerado orgânico, o leite deve vir de animais alimentados com pastagens sem o uso de adubos químicos ou agrotóxicos. É permitida alimentação no cocho desde que seja composta por insumos orgânicos, com tolerância de até 15% de grãos convencionais desde que não transgênicos. Os animais devem ser tratados basicamente com homeopatia e produtos fitoterápicos, e não é permitida a criação em confinamento. “Não é fácil fazer orgânico. É claro que, com o apoio da indústria e da área técnica, vai ficando mais fácil”, disse. Segundo Fiorentin, um dos limitadores da expansão da produção orgânica de leite é a oferta de milho e farelo de soja orgânicos. Mediante o avanço do projeto, a empresa deve estudar sua ampliação a outras áreas onde atua no país.
Como não existe teste capaz de indicar se o leite é ou não orgânico, o importante é escolher bem os produtores que se integrarão ao sistema e serão auditados. “Quem só pensa em ganhar mais com o leite orgânico não se enquadra no perfil porque entendemos que esse criador vai desistir na primeira dificuldade. A escolha dos produtores é feita com base em seus projetos e consciência ambiental”, afirmou Fiorentin.
Atualmente, a Nestlé opera com produtos orgânicos no exterior. Até o lançamento em 2019, a produção do projeto paulista segue sendo adicionada às linhas convencionais de Molico e Ninho. “Que por meio desse projeto a gente possa desenvolver mais a cadeia láctea. O país e os consumidores só têm a ganhar, com produtos cada vez mais sustentáveis”, destacou Fiorentin.
Durante a oficina em Santa Rosa, também foi apresentado o case do produtor Eliseu Pelenz, que vem migrando sua produção para o sistema orgânico em Santo Cristo (RS). Na propriedade de 24 hectares, dez destinados ao tambo, ele tem 15 vacas que rendem 7 mil litros por mês. O conceito é o de cultivar o solo com responsabilidade, em vez de explorá-lo. “Não uso veneno há mais de 15 anos”, frisou o produtor, que entrega seu leite para o laticínio Doceoli. Para caminhar em direção ao tambo orgânico, Pelenz usa homeopatia para tratar alguns males do rebanho e até para afastar o carrapato, um trabalho que é acompanhado de perto pelo técnico Ademir Amaral. O criador só não atingiu a migração completa porque ainda utiliza alguns adubos químicos para fortalecer as pastagens, o que, segundo ele, pode ser facilmente substituído por adubo orgânico, mas ainda é caro.
OFICINAS – A programação da tarde do 6º Fórum Itinerante do Leite incluiu outros três grupos de debates setorizados. Um dos mais concorridos foi “A atividade leiteira sob o olhar das mulheres”, no qual agricultoras apresentaram os dilemas de seu dia a dia. Outro debate que chamou atenção foi “O clima e o bem-estar das vacas leiteiras”. Por fim, a agenda ainda incluiu “Reunião Técnica sobre Tuberculose e Brucelose”, que alinhou procedimentos operacionais a serem realizados para o controle das enfermidades no rebanho bovino gaúcho. (Assessoria de Imprensa Sindilat)
Na foto: Agaciel Fiorentin em palestra no 6º Fórum Itinerante do Leite
Crédito: Divulgação/ Sindilat
Capital brasileira do leite cresce com clima temperado
O Paraná consolidou sua posição de segundo maior produtor de leite do país nos últimos dez anos, contribuindo em quase um quarto para o crescimento da produção brasileira e elevando sua participação de 10,65%, em 2006, para 14,07%, em 2016, dado mais recente aferido pelo Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab). Segundo Fábio Peixoto Mezzadri, veterinário e técnico de pecuária de corte e leite do Deral, a produção no Estado saltou de 2,704 bilhões para 4,730 bilhões de litros no período, crescendo 75%, diante de uma variação de 32,4% em todo o país. O Estado abriga ainda 242 laticínios, dos quais em torno de 70% são pequenos e médios.
O valor bruto da produção leiteira, calculado pelo departamento, aproximou-se de R$ 6 bilhões em 2016, variando 19,8% sobre 2015 em números atualizados pelo Índice Geral de Preços (IGP-DI), acumulando elevação real de 78% desde 2007. As regiões sudoeste e oeste do Estado concentram as maiores bacias leiteiras, com produção anual de 1,114 bilhão e 1,065 bilhão de litros, pela ordem, conforme Mezzadri, com destaque para Francisco Beltrão e Pato Branco, no primeiro caso, e Cascavel, Toledo e Marechal Cândido Rondon no segundo.
A terceira em importância, na região centro oriental paranaense, reúne Castro, Carambeí, Ponta Grossa, Arapoti e Palmeira, e registra os melhores indicadores de produtividade, entre outros fatores, pela maior aceitação de novas tecnologias entre os produtores, diz Eduardo Marqueze Ribas, gerente de negócios leite da Castrolanda Cooperativa Agroindustrial.
Na média paranaense, aponta Wilson Thiesen, presidente executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Paraná (Sindileite), a produção anual de leite por vaca cresceu mais de 45% em 10 anos, saindo de menos de 2 mil para 2.916 litros, cerca de 70% acima da média brasileira (pouco mais de 1,7 mil litros por animal ao ano). A produção tem crescido apesar de uma tendência persistente de queda no número de produtores, reduzidos de 118 mil há uma década para algo próximo a 60 mil atualmente, conforme Thiesen.
Em Carambeí, Arapoti e Castro, considerada a capital brasileira do leite, a produtividade por animal em lactação varia de 6.356 a 7.478 litros por vaca, afirma o presidente do Sindileite. A maior eficiência dos produtores naquelas áreas, na maioria de origem alemã e holandesa, a alta genética dos animais, predominantemente de raça holandesa, com alguns exemplares de linhagem Jersey, o clima temperado e as terras de boa qualidade, que permitem o cultivo de forragens de alto valor nutritivo, observa Mezzadri, explicam os melhores resultados da região, além do desembarque de novas tecnologias.
Coordenador de pecuária da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Alexandre Lobo Blanco registra uma intensificação das técnicas de confinamento nos últimos dois ou três anos, com novos produtores passando a investir nesta área. "O uso de extratores automáticos de teteiras, que controlam a ordenha por meio de sensores, evitando lesões nas tetas e acelerando o processo, também tem se disseminado", destaca. Blanco informa ainda que pelo menos seis plantas de ordenha robotizada estão em construção nas regiões de Castro, Carambeí e Arapoti.
Pioneiro no uso de robôs na ordenha no Brasil, Armando Rabbers, dono da Genética ARM, começou a formar seu plantel de gado leiteiro em 2010, quando construiu, em sua fazenda, na região de Castro, um galpão coberto, mais conhecido no meio como "free stall", com camas de serragem individuais para confinamento das vacas em lactação.
As duas linhas de ordenha robótica, importadas da Suécia, foram instaladas em outubro de 2012 e atualmente produzem 5,4 mil litros de leite por dia, ordenhando 140 animais, que alcançam produtividade média em torno de 38 litros diários por fêmea. No ano que vem, a depender da situação no país, Rabbers tem planos para investir em mais dois robôs. "A meta é ter seis conjuntos de ordenha robótica no futuro, o que vai permitir a produção de 15,0 mil a 16,0 mil litros por dia", projeta.
Com rebanho de 3.008 cabeças, incluindo 1,5 mil vacas em lactação, Diogo Vriesman, sócio diretor da Melkstad Agropecuária Ltda, de Carambeí, investiu, desde 2015, em um sistema de ordenha rotatória, em sistema de carrossel. Sua produção da fazenda de 18 hectares gira em torno de 58,0 mil litros por dia, com produtividade diária próxima a 38 litros por vaca.
Os animais em lactação são mantidos em regime de confinamento, com uso também de free stall, mas com camas de areia para as vacas. "Com o mesmo pessoal e o mesmo custo fixo, produzo mais leite por hora, com a ordenha de 315 animais nesse intervalo", diz Vriesman. Numa conta rápida, são quase 12 mil litros por hora.
O produtor e zootecnista por formação investiu perto de R$ 12 milhões, incluindo equipamentos, todas as instalações e infraestrutura, com financiamento do programa Inovagro e recursos do Banco do Brasil. Apesar dos juros fixos e mais baixos, o prazo de 10 anos, afirma, "não é compatível com a atividade. São 12 a 15 anos para recuperar o investimento", acrescenta Vriesman. Ele espera estabilizar o rebanho por volta de 2020, quando deverá ocupar toda a capacidade do módulo já instalado, o que significa manter 2,3 mil vacas em confinamento. "Mais adiante, espero replicar esse módulo, mantendo o mesmo modelo de negócio", planeja Vriesman, que projeta elevar a produção para mais de 80 mil litros diários.
A Castrolanda espera manter a média de crescimento dos últimos anos, aumentando sua produção em 10% neste ano, de acordo com seu gerente comercial Egídio Maffei. Na ponta da captação, onde a cooperativa opera em conjunto com as cooperativas Frisia, Capal, Agrária, Bom Jesus, Coamig e Witmarsum, isso significaria elevar os volumes captados de quase 1,5 mil produtores de 1,75 milhão para 1,80 milhão a 1,90 milhão de litros por dia. Toda a produção é destinada às plantas industriais de Castro e Ponta Grossa, no Paraná, e Itapetininga, em São Paulo, operadas em conjunto, por sua vez, pela própria Castrolanda, Frisia e Capal. "Atuamos num mesmo raio geográfico e preferimos unir forças para disputar o mercado, ganhando escala, mas preservando a identidade e a operação de cada cooperativa", diz Maffei. (As informações são do jornal Valor Econômico)
O consumo de leite e a Copa do Mundo
Todo mundo associa Copa do Mundo com aumento de consumo de cervejas e televisores. Mas, outros produtos também têm sua demanda aumentada durante o período. No caso dos aparelhos de televisão, a indústria se preparou com antecedência para um aumento do consumo. Dados da produção industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção de bens de consumo duráveis cresceu 16% sobre fevereiro de 2016. O aumento da produção da chamada linha marrom do setor de eletrodomésticos, que inclui televisores, aparelhos de som e similares, foi ainda maior, de 41% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado, indicando um setor realmente otimista em relação ao impacto da Copa nas vendas.
Estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que 33% dos micro e pequenos empresários dos ramos do comércio e serviços estimam que as vendas aumentem no período dos jogos. No entanto, pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revela que apenas 24% das pessoas têm intenções de consumo relacionadas ao Mundial de Futebol 2018. Cerca de 23% dos entrevistados deve gastar até R$ 100,00; outros 22% até R$ 200,00; mas a maioria (41%) pretende gastar mais de R$ 300,00. Neste âmbito, os produtos mais procurados pelos consumidores são itens de vestuário masculino, feminino e infantil (9,4%), alimentos e bebidas (8,2%) e aparelhos televisores (7,4%). Além disso, quase 70% dos consumidores afirmaram que pretendem assistir aos jogos em casa, contra 17% que pretendem frequentar bares e restaurantes.
De acordo com a consultoria TNS, as categorias de alimentos que devem ter melhor desempenho de vendas durante os jogos da Copa do Mundo são: pipocas (expectativa de crescimento de consumo de 58%), salgadinhos (49%), pizzas (36%) e lanches do tipo snacks, como por exemplo, batatas fritas industrializadas e amendoim (33). Dentre as bebidas, os refrigerantes se destacam com 62% de intenção de consumo, seguido por sucos (52%), água (48%) e cervejas (44%).
O fato de nenhuma das pesquisas apresentadas anteriormente ter mencionado o leite e seus derivados pode ser explicado por estes não serem produtos diretamente relacionados ao Mundial. No entanto, dados históricos mostram que, pelo menos nas últimas cinco copas do mundo, o consumo de leite e derivados cresceu no País.
Pela Figura 1, observa-se que o crescimento do consumo foi maior na Copa de 2002 (7,7%), ano em que o País foi campeão e foi menor (0,7%) em 2014, ano do maior fiasco do Brasil nas copas. Taxas de crescimento significativas também foram verificadas em 2010 (5,4%) e em 2006 (3,7%). Coincidência ou não, o fato é que a Copa do Mundo movimenta a economia brasileira, o que se reflete em setores que, como os lácteos, não estão diretamente ligados aos jogos. Isso pode ser explicado pelo modelo de Gains (1994), o qual mostra que o comportamento alimentar é determinado por três fatores: o alimento em si, o consumidor e o contexto ou situação em que o ato alimentar acontece (Figura 2).
Figura 2. Modelo de Gains. Fonte: Gains (1994).
Em síntese, o modelo de Gains afirma que as características do contexto do consumo (momento, estação do ano, lugar, acompanhantes, etc.) influenciam diretamente no consumo de alimentos. Neste sentido, o fato das pessoas se reunirem para assistir jogos durante a Copa do Mundo ou mesmo por passarem mais tempo em casa assistindo os jogos pela televisão, tem impacto positivo sobre o consumo de alimentos, de um modo geral. Neste ano, como a intenção da maioria das pessoas é assistir aos jogos em casa, comidinhas caseiras que envolvem leite e derivados como ingredientes acabam por ser consumidas.
Produtos caracterizados como snacks, como os queijos, por exemplo, também devem ter seu consumo ampliado no período. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Queijos (Abiq), o consumo de queijos no País deve aumentar 2,5% este ano. Vale ressaltar que a Copa do Mundo aqui no Brasil coincide com o inverno e época de festividades juninas, fatores estes já relacionados com o incremento de consumo de queijos e derivados.
Por fim, é importante mencionar que os marqueteiros do setor estão perdendo uma ótima oportunidade de divulgar os benefícios do leite, assim como fez a Parmalat com a campanha Mamíferos na Copa de 1998. Estudos recentes mostram que o leite tem apresentado melhor desempenho como bebida esportiva recuperadora do que água e outras bebidas esportivas, por propiciar uma recuperação mais rápida e eficaz, além de um treino mais longo após o consumo de leite. Portanto, a Copa do Mundo seria uma ótima oportunidade de massificar essa informação para os consumidores, de forma a elevar o status do leite na cadeia alimentar e ampliar o consumo.
Então, quem disse que leite e Copa do Mundo não estão relacionados está um pouco enganado. Que tal um copo de leite nesta Copa? (POR KENNYA SIQUEIRA/Milkpoint)
O leite UHT e o queijo muçarela continuam valorizados nesta segunda quinzena de junho, seguindo o mesmo movimento observado no início do mês, desencadeado pela greve dos caminhoneiros, de acordo com pesquisadores do Cepea. No entanto, depois de altas muito expressivas, as variações observadas nesta quinzena foram menores. De 17 a 23 de junho, o leite UHT negociado entre indústria e atacado do estado de São Paulo registrou média de R$ 2,235/litro, aumento de 3,08% em relação à semana anterior. O preço do queijo muçarela apresentou, no mesmo período, elevação de 2,15%, fechando a R$ 20,01/kg. Segundo colaboradores do Cepea, o aumento dos preços dos derivados está atrelado à menor oferta e ao consequente encarecimento do leite no campo. A menor disponibilidade de matéria-prima também limita a reposição dos estoques das indústrias e dos canais de distribuição, que se esvaziaram durante a greve dos caminhoneiros. (Cepea)