Porto Alegre, 31 de janeiro de 2017. Ano 11- N° 2.434
Depois dos alergênicos, a lactose deve ser o próximo item a ser citado com destaque em rótulos de produtos industrializados vendidos no País. Até a primeira quinzena de fevereiro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai analisar propostas apresentadas por meio de consulta pública sobre o tema para, então, regulamentar a Lei 13.305/2016, em vigor desde o dia 1.º, que determina que a presença e a quantidade do açúcar encontrado no leite, caso ele tenha sido modificado, sejam informados pelos fabricantes.
A inclusão da informação é considerada uma vitória para as pessoas com intolerância à lactose. Diagnosticada com a incapacidade de digerir a substância aos 21 anos, a enfermeira Flávia Regina Georgete, de 35, diz que mesmo os alimentos vendidos como zero lactose não são garantia de que ela não terá reações. "Com algumas marcas, eu passo mal. Tenho gases, diarreia e coceira. Então, tenho de ir tentando, experimentando. Para facilitar, procuro produtos sem leite nem traços de leite para não ter problemas. "
A leitura detalhada dos rótulos faz parte de sua rotina no supermercado e, quando quer garantir que não terá sintomas, precisa pagar mais. "Faço compras em um empório que tem uma prateleira só com produtos sem lactose, mas eles são caros." A alternativa é consultar diretamente os fabricantes.
A gerente comercial Vera Ribeiro, de 44 anos, demorou para descobrir que o filho Guilherme, hoje com 12, tinha intolerância. "Ele tinha muito refluxo quando mamava e, com um ano, ficou 30 dias com diarreia, estava quase com desidratação. A médica pediu para tirar o leite, porque, na época, não tinha tantas opções de produtos sem lactose. Com 4 anos, fez o exame e deu positivo."
Ela conta que, por mais ciente que esteja de que não pode consumir produtos com lactose, o garoto acaba ingerindo, principalmente quando não está em casa. "Sempre aviso que ele tem intolerância às mães. Se consome algum produto, tem diarreia e crises de cólica."
Os sintomas são causados pela incapacidade do organismo de digerir lactose. "Há uma enzima no intestino, a lactase. Se a pessoa tem deficiência dessa enzima, não consegue digerir lactose. Com isso, bactérias intestinais agem em cima do açúcar, provocando fermentação, que resulta na produção de gases e ácidos orgânicos, causando diarreia, por exemplo", diz Eduardo Berger, gastroenterologista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos.
Avaliação. Segundo a Anvisa, mais de 400 propostas recebidas estão sendo analisadas. A regulamentação deve ocorrer ainda neste semestre, mas o processo de adequação pode ser concluído em dois anos.
"A expectativa é de que o tema seja pautado nas reuniões da Dicol (Diretoria Colegiada) até a primeira quinzena de fevereiro e, tão logo seja aprovado, será publicado", diz Nélio Cézar de Aquino, gerente de registro de alimentos da Anvisa. "Foi proposto prazo de 12 meses para permitir que os fabricantes façam as adequações necessárias, especialmente os fabricantes de matérias-primas para fins industriais. E foi estabelecido um prazo adicional de 12 meses para adequação dos produtos destinados ao consumidor final", acrescenta.
Para ser considerado sem lactose, a quantidade do açúcar deverá ser inferior ou igual a 10 miligramas por 100 gramas. Esse limite, segundo Aquino, está em vigor nos países nórdicos desde a década de 1990. (Estadão)
Com financiamento da Agência Australiana para o Desenvolvimento Internacional (Ausaid), a Embrapa Agroindústria de Alimentos está coordenando, no Brasil, um projeto internacional que busca dar maior competitividade e sustentabilidade a pequenas queijarias, a partir do aproveitamento do soro de leite gerado pela produção de queijos. O projeto reúne pesquisadores do Brasil, da Colômbia, do Uruguai, da Argentina e da Austrália.
A primeira atividade do projeto foi um workshop, feito na semana passada em Buenos Aires, Argentina, no qual as instituições dos países participantes definiram o planejamento que será iniciado a partir deste mês.
No Brasil, será feito o levantamento da produção do soro para elaborar a modelagem da captação do produto, visando a definir onde serão instaladas unidades processadoras e o aproveitamento da capacidade ociosa de unidades já existentes. "Em paralelo, a gente vai estudar alternativas de agregação de valor", disse hoje (2) à Agência Brasil o líder do projeto no Brasil, Amauri Rosenthal.
A proposta da Ausaid é incrementar a competitividade e sustentabilidade de comunidades rurais de baixa renda, com prioridade para a América do Sul. Por isso o projeto foi focado inicialmente no Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia, países que têm cadeias lácteas importantes e com diferentes níveis de organização.
Segundo Rosenthal, o soro de leite tem um elevado potencial de agregação de valor. Atualmente, o soro ou é jogado fora, causando danos ao meio ambiente, por ser altamente poluente, ou é destinado à alimentação animal. "O soro tem uma proteína de alto valor biológico, de elevada qualidade, que além de poder contribuir para a melhoria nutricional, tem a questão de agregação de valor e competitividade", salientou.
O aproveitamento do soro do leite inclui desde a melhoria das rações animais, com a incorporação da proteína de valor biológico, até a elaboração de produtos como o queijo ricota e bebidas lácteas. Também são alterativas econômicas o aproveitamento do isolado proteico - conhecido como wheyprotein, muito usado por atletas em academias - até a incorporação do soro em outros produtos, como doces, explicou Rosenthal.
O coordenador disse que as alternativas serão definidas "de acordo com o volume de produção, com a capacidade de investimento e também levando em consideração os próprios custos do soro e a agregação de valor, ou seja, os preços dos produtos". Outra aplicação que está sendo considerada é a utilização do soro de leite para a agroenergia. "Uma alternativa seria o biogás", disse.
O modelo de tomada de decisão envolve estudos sobre alternativas de produtos, além da confecção de um manual de orientação às comunidades relativo às opções de produtos de soro de leite. O projeto prevê envolver as pequenas queijarias no processo e aproveitar o soro para a geração de renda adicional para essas unidades produtoras.
Rosenthal estimou que os investimentos poderão ser feitos via financiamento de fontes governamentais ou por meio de parcerias público-privadas (PPPs). Os pesquisadores pretendem ainda promover uma aproximação com grupos privados para disseminar o projeto.
Atualmente, o Brasil é um grande importador de soro de leite em pó, em especial da Argentina e do Uruguai, disse o pesquisador da Embrapa. Somente no ano passado, foram importadas 24 mil toneladas de soro em pó, segundo ele. Rosenthal acredita que o projeto em curso poderá não só permitir ao Brasil ser autossuficiente no produto, como criar fontes de agregação de valor para os pequenos produtores, tendo em vista a demanda crescente pelo soro de leito no mercado mundial.
A atuação inicial será nas regiões Sudeste e Sul, e a expectativa é começar o mapeamento da produção desse soro entre outubro e novembro próximos, com perspectiva de ter um panorama dos dados referentes a Minas Gerais até fevereiro de 2014, para apresentação no workshop programado para março do ano que vem, na Austrália. Simultaneamente, será efetuado o levantamento de uma região fluminense.
O projeto tem duração prevista de um ano e meio, com chance de ser estendido para dois anos. Além da Embrapa Agroindústria de Alimentos, sediada no Rio de Janeiro, participam da equipe do Brasil pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de outras duas unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa): a Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), e a Embrapa Clima Temperado, de Pelotas (RS). (Edairynews)
O ministro Marcos Pereira afirmou nesta segunda-feira, durante a abertura da III Reunião da Comissão Bilateral de Produção e Comércio, no MDIC, em Brasília, que Brasil e Argentina estão empenhados em ampliar a rede de acordos comerciais do Mercosul. "Em um momento em que o mundo assiste ao retorno do protecionismo, é imperioso fortalecer a integração regional. Brasil e Argentina têm papel de liderança no Mercosul, principalmente no que tange ao fortalecimento da dimensão comercial do bloco e à ampliação da sua rede de acordos internacionais", disse Marcos Pereira, que, antes da reunião, teve um encontro privado com o ministro da Produção da Argentina, Francisco Cabrera, que chefia a delegação argentina.
"O presidente Temer nos orientou que, juntamente com a liderança na Argentina no Mercosul, possamos trabalhar uma agenda de diálogo com os países da Bacia do Pacífico, haja vista a postura do presidente Trump. E que também possamos ampliar o diálogo com outros players, como Canadá, Japão e países do EFTA", disse o ministro na abertura da reunião.
"Estamos vivendo um momento em que há uma convergência no Mercosul, sobretudo entre Brasil e Argentina, o que nos dá condições de avançar no tema de abertura do Mercosul e reinserção do bloco no cenário internacional", completou. O ministro Francisco Cabrera pediu que a reunião sirva não somente para tratar dos temas de conjuntura, mas também para tratar de assuntos mais amplos que permitam a Brasil e Argentina, junto com os outros países do Mercosul, ter um aprofundamento institucional de suas relações e façam o que for possível para levar adiante uma negociação exitosa com a União Europeia, Japão, Canadá, e EFTA.
"Temos que dar um passo adiante na solidez e na previsibilidade dos acordos entre Argentina e Brasil, em princípio, e dentro do próprio Mercosul", defendeu Cabrera. O ministro também destacou a atuação do embaixador argentino no Brasil, Carlos Magariños, que deverá se dedicar integralmente ao fortalecimento do Mercosul. Cabrera lembrou que há temas entre Brasil e Argentina sem avanços há 19 anos. "Temos pedido ao embaixador Carlos Magariños que fique responsável por esse desafio, por esse projeto. Vamos ter alguém com sua cabeça exclusivamente neste projeto", anunciou.
Crescimento
O ministro Marcos Pereira afirmou que a reunião se insere em um contexto de necessidade da retomada do crescimento do comércio bilateral e aprofundamento da parceria. Ele lembrou que a recessão em ambas as economias e a existência de entraves levou à forte contração do fluxo comercial entre Brasil e Argentina, mas que já se iniciou um processo de reversão deste quadro.
"Houve, nos últimos três meses, aumento das vendas recíprocas entre Brasil e Argentina - fato que não ocorria desde julho de 2013. Para consolidarmos esse movimento, destaco o singular e fundamental papel desta Comissão Bilateral. Temos pela frente uma agenda intensa de trabalho, reflexo do compromisso que já assumiram os nossos presidentes em avançar na inserção de nossas economias no cenário regional e global", disse.
Marcos Pereira disse ainda que o encontro bilateral tem um significado especial porque precede a vinda do presidente Mauricio Macri ao Brasil na próxima semana. "Brasil e Argentina têm um papel de liderança no Mercosul. O contexto em que nós nos inserimos no presente momento faz com que possamos, não obstante a crise econômica pela qual passaram os dois países, trabalhar pela retomada do crescimento".
Resultados
Desde a primeira reunião da Comissão Bilateral de Produção e Comércio, em abril do ano passado, Brasil e Argentina assumiram o compromisso de dar impulso efetivo para a solução de questões que afetam a fluidez do comércio bilateral. "Posso assegurar que, em menos de um ano, desde a primeira reunião que tivemos, alcançamos resultados significativos no âmbito bilateral e regional. Cito, apenas a título de exemplo que, no nosso último encontro em Buenos Aires, registramos ganhos concretos ao firmarmos acordos sobre Facilitação de Comércio e Certificado de Origem Digital. Ações como essas amenizam a burocracia e criam melhor ambiente de negócios para nossas empresas", destacou o ministro.
Intercâmbio Comercial
Em 2016, a soma das exportações e importações entre o Brasil e a Argentina atingiu US$ 22,5 bilhões, com superávit de US$ 4,333 bilhões para o Brasil. As empresas brasileiras venderam para a Argentina, no ano passado, principalmente automóveis de passageiros (25% do total das exportações brasileiras para o país), veículos de carga (8,8%) partes e peças de veículos (6,5%), e outros produtos manufaturados (4,7%). Entre os produtos que as empresas argentinas vendem para o Brasil em 2015, tiveram destaque veículos de carga (16%), automóveis de passageiros (16%), e trigo em grãos (8,5%). No período em análise, a Argentina foi o terceiro principal destino das vendas externas brasileiras e o quarto mercado de origem de nossas importações. (MDIC)
O dia de hoje será um marco importante para um item tipicamente gaúcho: o queijo serrano. O governador José Ivo Sartori sanciona a lei que regulamenta a produção e a comercialização, trazendo ainda uma definição do conceito desse produto. (Zero Hora)