Pela primeira vez desde 2008, o peso dos salários, em dólar, caiu para a indústria. De acordo com série elaborada pelo Banco Central, o chamado custo unitário do trabalho (CUT) recuou 3,8% em 2013 (janeiro a novembro). Esse indicador aponta quanto aumentou ou diminuiu o custo do trabalho por unidade produzida - um automóvel, um sapato, uma caixa de fósforo, por exemplo. Por isso, ele é considerado um indicador de competitividade. O custo unitário do trabalho cresce se o salário cresce acima da produtividade, e cai quando a produtividade supera o crescimento do salário. A queda de 3,8% no custo do trabalho foi influenciada por um ganho de produtividade na indústria e pela própria desvalorização do real, já que a conta do BC mede esse indicador em dólar. Para economistas, esse ganho é muito pequeno e apenas "arranha" a perda acumulada nos últimos anos. Pela série do Banco Central, esse custo subiu expressivos 54% no acumulado de 2009 a 2012. A conta mais simples que pode ser feita para indicar a produtividade do trabalho na indústria mostra que ela cresceu 2,5% no ano passado, resultado de um aumento de 1,4% na produção feito com volume 1,1 menor de horas pagas. O pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), minimiza os impactos positivos que possam vir dessa recuperação do custo do trabalho. Para ele, o câmbio explica boa parte da queda do custo, porque os salários ainda sobem acima da produtividade. Olhando apenas para os salários na indústria, a pesquisa do IBGE mostrou que, de janeiro a novembro, o rendimento médio real do trabalhador assalariado aumentou 2,8% (abaixo da produtividade), enquanto o custo total da folha salarial subiu 1,7% (abaixo da produtividade).
"Como ele [o CUT] cresceu bastante nos anos anteriores, esse crescimento não vai recuperar a competitividade perdida", diz Barbosa Filho. Para ele, a desvalorização do câmbio, sozinha, não trará, sozinha, a competitividade perdida. Ao mesmo tempo, ele acredita que o país pode começar a ter ganhos sustentáveis e consecutivos de produtividade - o que ele avalia que já aconteceu pra o conjunto da economia brasileira (em dados que olham todos os setores e não só a indústria) em 2012 e 2013. O pesquisador da FGV faz, a partir de dados do PIB, a conta da chamada Produtividade Total dos Fatores, onde entram todos os segmentos (indústria, serviços, comércio, agropecuária). Nessa conta, diz ele, a produtividade acumulou cerca de 1,5% entre os dois anos. Ele está finalizando a conta de 2013. Guilherme Mercês, economista da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, também avalia que a pequena redução do custo unitário do trabalho será insuficiente para devolver competitividade à indústria. Ele considera fundamental que ocorra uma queda no custo real dos salários, e avalia que essa redução do custo relativo da mão de obra para o setor industrial pode estar a caminho. A demanda da economia por serviços, diz ele, provocou uma elevação dos salários reais também no setor produtivo em decorrência da falta de mão de obra qualificada. Na dúvida, a indústria aumentou os salários para manter seus empregados. Esse movimento realmente desacelerou no ano passado. O aumento médio dos salários pagos na indústria foi o menor desde 2009. Além do aumento menor, observa Mercês, os dados apontam que o emprego na indústria parou de subir em meados de 2011. Desde aquele período, há quase 30 meses, o estoque de empregados no setor parou de crescer e vem caindo paulatinamente. Em agosto de 2011, o emprego no setor era 5,7% maior que na média de 2001. Em novembro passado, esse volume já estava em apenas 1,7%. (Valor Econômico)